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Provocação: ministro israelense diz que construiria sinagoga na Esplanada das Mesquitas, e causa reações no mundo árabe e até em Tel Aviv

A Esplanada é o terceiro local sagrado do Islã, denominado Complexo de Al Aqsa, e um símbolo da identidade palestina

Agência O Globo - GLOBO 27/08/2024
Provocação: ministro israelense diz que construiria sinagoga na Esplanada das Mesquitas, e causa reações no mundo árabe e até em Tel Aviv

O ministro israelense da Segurança Nacional, de extrema-direita, provocou nova polêmica ao questionar o status quo da Esplanada das Mesquitas, na Jerusalém Oriental, e afirmar que gostaria de construir ali uma sinagoga.

“Se eu pudesse fazer o que quisesse, colocaria uma bandeira israelense no local”, disse o ministro Itamar Ben Gvir, em entrevista à Rádio do Exército.

O jornalista perguntou-lhe várias vezes se construiria uma sinagoga no local, se dependesse da sua vontade, e Ben Gvir finalmente respondeu: “Sim”.

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De acordo com o status quo em vigor desde a conquista de Jerusalém Oriental por Israel, em 1967, os judeus e seguidores de outras religiões, exceto os muçulmanos, não estão autorizados a rezar ou exibir símbolos religiosos na Esplanada das Mesquitas.

A Esplanada de Jerusalém Oriental, anexada por Israel, é o terceiro local sagrado do Islã, denominado Complexo de Al Aqsa, e um símbolo da identidade palestina. É também o lugar mais sagrado para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.

Nos últimos anos, os nacionalistas religiosos israelenses de linha dura, como Ben Gvir, ignoraram repetidamente as restrições do status quo, provocando por vezes reações violentas por parte dos palestinos.

Ben Gvir disse à Rádio do Exército que os judeus deveriam ter o direito de rezar naquele espaço.

“Os árabes podem rezar onde quiserem, então os judeus deveriam poder rezar onde quiserem”, declarou ele, afirmando que “a política atual permite que os judeus rezem lá”.

Rejeição árabe

A manifestação de Gvir gerou forte rejeição no mundo árabe.

- Al Aqsa e os locais sagrados são puros locais de oração para os muçulmanos - disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Sufian Qudah, que sustentou que o seu país tomará medidas para “deter os ataques contra os locais sagrados”.

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O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita pediu que se “respeite o status histórico e legal da abençoada Mesquita Al Aqsa” e descreveu as declarações de Ben Gvir como “extremistas e inflamatórias”.

Por seu lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar denunciou o anúncio de Ben Gvir como “uma provocação aos sentimentos dos muçulmanos em todo o mundo” e que poderia minar os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

Vários altos funcionários israelenses também criticaram Ben Gvir, enquanto o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que “não há mudanças” na política sobre Jerusalém Oriental.

“Desafiar o status quo do Monte do Templo é um ato perigoso, desnecessário e irresponsável”, sublinhou o ministro da Defesa, Yoav Gallant, na rede social X.

“As ações de Ben Gvir colocam em perigo a segurança nacional do Estado de Israel”, acrescentou.

Ben Gvir rezou em meados do mês na Esplanada das Mesquitas junto com centenas de pessoas por ocasião de um feriado judaico.

A ONU descreveu essa iniciativa como uma "provocação inútil" num momento de graves tensões regionais devido à guerra entre Israel e o movimento islâmico palestino Hamas, em Gaza, e aos duelos diários de artilharia entre Israel e o Hezbollah libanês.

O porta-voz presidencial da Autoridade Palestina, Nabil Abu Rudeineh, condenou os comentários de Ben Gvir e alertou: “Al Aqsa e os locais sagrados são uma linha vermelha que não permitiremos que sejam tocados”.

O Hamas considerou os comentários de Ben Gvir "perigosos" e apelou aos países árabes e muçulmanos para "assumirem a responsabilidade pela proteção dos locais sagrados".