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Egito diz que não aceitará presença israelense em na fronteira com Gaza

Fonte do governo egípcio afirmou que o país tem gerenciado a mediação entre Israel e Hamas 'de acordo com sua segurança nacional'

Agência O Globo - GLOBO 26/08/2024
Egito diz que não aceitará presença israelense em na fronteira com Gaza

O Egito afirmou que não aceitará a presença contínua das forças israelenses ao longo de sua fronteira com a Faixa de Gaza, publicou a mídia local nesta segunda-feira. Cairo, que atua como um mediador-chave nos esforços para garantir um cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas no enclave palestino, "reiterou a todas as partes que não aceitará qualquer presença" do Estado judeu ao longo do estratégico Corredor da Filadélfia, publicou a al-Qahera News.

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Um ponto crucial nas negociações de cessar-fogo tem sido a exigência de que Israel retire suas forças da área de fronteira, incluindo a passagem de Rafah, a única do território palestino que não era diretamente controlada por Israel. As forças israelenses tomaram o lado palestino na passagem de Rafah no início de maio, uma ação que cortou uma rota crucial de ajuda e atraiu repetidas condenações do Egito e de outros países.

— O Egito está gerenciando a mediação [entre Israel e o Hamas] de acordo com sua segurança nacional — disse uma fonte do governo à al-Qahera News, que é ligada ao serviço de inteligência do Estado egípcio.

As negociações, também mediadas pelo Catar e pelos Estados Unidos, trouxeram pouca esperança de um cessar-fogo, embora Washington tenha dito na última sexta-feira que algum progresso foi feito. No domingo, o Hamas disse que a delegação do grupo se reuniu com mediadores egípcios e cataris antes de deixar o Cairo, onde também eram esperados negociadores israelenses.

A única saída viável de Gaza é pela passagem de Rafah, no sul do enclave, na fronteira com a Península do Sinai egípcia. A passagem está sob controle do Egito desde um acordo fechado com Israel, em 2007, quando o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza e expulsou o grupo palestino laico Fatah para a Cisjordânia, onde controla a Autoridade Nacional Palestina, reconhecida pela ONU como legítima liderança dos palestinos.

Nos 16 anos seguintes, Israel e Egito mantiveram um duro controle do que, e de quem, entra e sai do território dominado pelo grupo terrorista. Pelo acordo, a passagem de suprimentos para Gaza por Rafah precisa de autorização israelense.

Em setembro passado, um relatório do Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários no território palestino denunciou o endurecimento das restrições na circulação pela passagem de Rafah, pela “ação recente do governo egípcio para conter atividades ilegais e a insegurança no Sinai”. De acordo com o texto, o Egito estava impondo “severas” restrições na movimentação de pessoas e “fechando túneis de contrabando”. Segundo a organização, “consequentemente, a situação humanitária já frágil na Faixa de Gaza piorou”.

A Faixa de Gaza tem apenas outras duas passagens para saída e entrada de pessoas e mercadorias. Uma é a de Erez, que fica ao norte e leva ao sul do território israelense, e foi atacada pelo Hamas na invasão do dia 7 de outubro. A outra, de Kerem Shalom, serve apenas ao transporte de cargas e também está no sul de Gaza, na fronteira com Israel e perto do território egípcio. O cenário de "cerco total" em Gaza depositou sobre o Egito a pressão da comunidade internacional pela abertura de um corredor humanitário em Rafah, por onde entrem suprimentos.