Internacional

Rússia diz que está 'claro' que sabotagem ao gasoduto Nord Stream foi ordenada pelos EUA: 'Ucranianos não poderiam sozinhos'

Reportagens publicadas pela imprensa americana e investigação alemã sugerem envolvimento da Ucrânia e conhecimento de Washington sobre o plano meses antes, embora tivesse atuado para suspendê-lo

Agência O Globo - GLOBO 19/08/2024
Rússia diz que está 'claro' que sabotagem ao gasoduto Nord Stream foi ordenada pelos EUA: 'Ucranianos não poderiam sozinhos'

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta segunda-feira que estava "claro" que a explosão dos gasodutos de Nord Stream em setembro de 2022, no Mar Báltico, foi ordenada pelos Estados Unidos. No ano passado, a imprensa americana publicou que Washington soube com três meses de antecedência do plano e da ligação de grupos pró-Ucrânia com o ataque, incluindo, segundo uma reportagem do Wall Street Journal, o aval inicial do presidente Volodymyr Zelensky, que teria recuado após alerta de autoridades americanas.

'Mistério': Entenda as várias teorias por trás dos vazamentos nos gasodutos Nord Stream

Entrevista exclusiva ao GLOBO: 'O Ocidente deve parar de encher a Ucrânia de armas', diz chefe da diplomacia do Kremlin

— Mesmo que [...] os ucranianos tenham participado nisso, é claro que não poderiam fazê-lo sozinhos — observou Lavrov ao veículo de comunicação russo Izvestia, acrescentando: — É claro que, para realizar um ataque assim, a ordem veio do mais alto nível, como dizem, e o mais alto nível para o Ocidente é, obviamente, Washington.

Em outubro de 2022, o economista americano Jeffrey Sachs sugeriu que os EUA pudessem estar por trás de "atos de sabotagem" contra os gasodutos Nord Stream 1 e 2, rompidos após três explosões subaquáticas em 26 de setembro de 2022, sete meses após a Rússia ter iniciado a invasão na Ucrânia. O professor da Universidade Columbia lembrou que a Europa sofria os maiores impactos da guerra, com aumento de preços e risco de desaceleração econômica e a oposição dos EUA às instalações.

Na época do ataque, a Rússia culpou os Estados Unidos, o Reino Unido e a Ucrânia pela ofensiva, que provocou um grande corte no fornecimento do gás, enquanto alguns funcionários do governo americano sugeriram inicialmente que Moscou era o culpado pelo que o presidente Joe Biden chamou de “um ato deliberado de sabotagem”.

Com a aproximação do inverno daquele ano, parecia que o Kremlin queria estrangular o fornecimento de energia na Europa, uma espécie de “chantagem”, segundo alguns líderes ocidentais, para intimidar os países europeus a retirarem seu apoio financeiro e militar à Ucrânia e evitar novas sanções. Alemanha, Dinamarca e Suécia abriram investigações sobre o caso, e os suecos encontraram vestígios de explosivos em objetos recuperados, confirmando que as explosões foram deliberadas.

A investigação sobre a sabotagem do gasoduto centrou-se em uma pista ucraniana, após a revelação pela imprensa alemã na semana passada de um mandado de prisão emitido em junho pela Justiça alemã contra um mergulhador profissional ucraniano suspeito de estar envolvido juntamente com outros dois compatriotas.

Kiev descreveu o seu envolvimento nesta operação contra o Nord Stream como "absoluto absurdo" na quinta-feira, após acusações neste sentido feitas pelo Wall Street Journal. Segundo o jornal americano, que afirma basear-se principalmente em fontes militares ucranianas, o ataque com explosivos teria sido realizado sob a supervisão do comandante-em-chefe Valeri Zalujniy e, inicialmente, sob o aval de Zelensky, que teria recuado após alerta de autoridades americanas.

Guerra: Rússia rejeita negociar por incursão da Ucrânia em Kursk e anuncia avanços na região ucraniana de Donetsky

O plano, de acordo com o jornal, teria sido realizado com um iate alugado e uma pequena tripulação de seis membros, incluindo uma mulher na faixa dos 30 anos, escolhida a dedo por suas habilidades, mas também para criar a ilusão de um grupo de amigos em um momento de lazer. Seu desenvolvimento foi orquestrado em uma suposta noite de bebedeira entre militares e empresários ucranianos cerca de quatro meses antes do ataque.

Os veículos de comunicação alemães, que revelaram o andamento da investigação judicial, são muito mais cautelosos quanto ao suposto envolvimento de autoridades ucranianas e não vinculam Zelensky. Mas pessoas familiarizadas com a investigação disseram ao WSJ que a investigação se concentra agora no general e seus assessores, embora ainda não haja evidências que possam ser apresentadas ao tribunal.