Internacional
Medo de nova onda migratória na Venezuela acende alerta em países vizinhos
Empresa de pesquisas projetou que 18% dos venezuelanos migrariam se Maduro continuasse no poder
"Não há luz no fim do túnel. Estou saindo", diz José Vásquez, decepcionado em Táchira, um estado venezuelano que faz fronteira com a Colômbia, após a reeleição do presidente Nicolás Maduro, denunciada como uma fraude pela oposição.
Os governos da região temem que venezuelanos como Vásquez possam aderir a uma nova onda de migração, depois de 7,5 milhões de pessoas terem deixado o país caribenho durante a última década para fugir de uma crise voraz, segundo estimativas da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Migrantes (ACNUR).
Embora tenha estudado Pedagogia, Vásquez é atualmente vendedor num estabelecimento comercial em San Cristóbal, capital de Táchira, devido aos baixos salários dos professores, que, ele afirma, “são inúteis”.
- Todo mundo sabe o que vai acontecer: as pessoas da minha idade e as mais jovens vão partir. Vai haver um voo migratório gigantesco. A diáspora vai ser maior - diz ele, sentado na Plaza Bolívar, uma área de intensa atividade comercial que ficou praticamente deserta devido ao medo de tumultos após as eleições - e onde ocorreram protestos violentos em 2014, 2017 e 2019.
- Há ansiedade, incerteza - expressa enquanto aponta com a mão para as grades rebaixadas das instalações circundantes.
Vásquez está pensando em ir para a Espanha, onde seus familiares moram há dez anos: - Tinha esperança neste processo eleitoral (...), agora temos que pensar em alternativas - afirma.
Antes das eleições, a empresa de pesquisas ORC Consultores projetou que 18% dos venezuelanos estariam dispostos a migrar dentro de seis meses se Maduro mantivesse o poder. De uma população de cerca de 30 milhões – o último censo foi em 2011 – haveria 5,4 milhões de pessoas nessa situação.
'O fluxo aumentará'
A pouco mais de uma hora de carro de San Cristóbal fica San Antonio, habitual ponto de partida dos migrantes, que partem a pé para os Estados Unidos com a ideia de cruzar a selva do Darién, perigoso corredor entre a Colômbia e o Panamá.
- Acredito, e espero estar errado, que o fluxo de venezuelanos (através do Darién) vai aumentar por razões óbvias. Também temos que adotar as decisões correspondentes para salvaguardar as suas vidas, a sua integridade e proporcionar-lhes uma passagem rápida - disse, em conferência, o presidente panamenho, José Raúl Mulino.
Cerca de 200 mil migrantes fizeram essa viagem em 2024, segundo dados oficiais. Cerca de dois terços eram venezuelanos.
É uma questão central na campanha presidencial dos Estados Unidos, especialmente para Donald Trump, que procura regressar à Casa Branca com um discurso anti-imigração ainda mais forte do que no seu primeiro mandato (2017-2021).
O Serviço Nacional de Fronteiras do Panamá já anunciou que as medidas de segurança serão reforçadas na área.
O Observatório independente de Investigação Social na Fronteira (ODISEF), em Táchira, alerta, num relatório, sobre a “vulnerabilidade” dos migrantes que atravessam a pé, frente às redes de tráfico humano e às organizações criminosas.
'Temos que nos preparar'
Segundo estimativas das Nações Unidas, rejeitadas pelo governo Maduro, os cinco países latino-americanos com maior número de migrantes provenientes da Venezuela são Colômbia (2,8 milhões), Peru (1,5 milhões), Brasil (568 mil), Chile (532 mil) e Equador (444 mil).
- A onda migratória não parou em nenhum minuto, mas há uma preocupação de que isso possa se intensificar, e, para isso, temos que nos preparar - disse nesta quarta-feira a vice-presidente do Chile e ministra do Interior, Carolina Tohá.
O governo do Peru anunciou que reforçou os seus controles de imigração: "Não podemos acolher (os migrantes) na magnitude do êxodo anterior", alertou o chanceler peruano, Javier González-Olaechea, em declarações à rádio RPP.
Os Estados Unidos e vários países latino-americanos pediram à Venezuela que divulgasse as atas de votação para que possam ser verificadas, face às queixas de fraude da oposição.
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