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Japão quer facilitar atirar em ursos em áreas residenciais após aumento de ataques; entenda

Desde o início do ano, cerca de 219 ataques de ursos aconteceram no país, seis deles foram fatais. No entanto, caçadores fazem observações sobre a medida

Agência O Globo - EXTRA 12/07/2024
Japão quer facilitar atirar em ursos em áreas residenciais após aumento de ataques; entenda

Enfrentando um aumento alarmante nos ataques de ursos, o Japão quer facilitar o abate dos animais em áreas residenciais — mas os caçadores dizem que é muito arriscado. O número de ursos voltou a crescer à medida que a população humana do Japão envelhece e diminui. As consequências têm sido perigosas, embora geralmente resultem em ferimentos e não em morte. No entanto, no acumulado do ano até abril, houve um recorde de 219 ataques de ursos no país — seis deles fatais, de acordo com dados oficiais.

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De acordo com a lei atual, caçadores licenciados só podem disparar suas armas após a aprovação de um policial. O governo planeja revisar a lei em sua próxima sessão parlamentar para que as armas possam ser usadas mais livremente. Por exemplo, os caçadores poderão atirar se houver risco de ferimentos humanos, como quando um urso entra em um prédio. Mas os caçadores são cautelosos.

— Se perdermos o ponto vital para impedir que o urso se mova, [ele] vai fugir e pode atacar outras pessoas. Se atacar uma pessoa, quem será responsável por isso? — disse à BBC Satoshi Saito, diretor executivo da Associação de Caçadores de Hokkaido, ilha que fica no norte do país. Ele explica que é assustador e bastante perigoso encontrar um urso e que nunca é garantido que ele morra com um tiro.

A ilha principal mais ao norte do país é escassamente povoada, mas sua população de ursos mais do que dobrou desde 1990, de acordo com dados do governo. Atualmente, há cerca de 12 mil ursos marrons, que são conhecidos por serem mais agressivos do que os ursos negros, dos quais há cerca de 10 mil no Japão, segundo estimativas de especialistas.

— O problema não vale a pena, porque enfrentar um urso colocará nossas vidas em risco — disse um caçador de 72 anos da região ao jornal Asahi Shimbun, comparando um encontro com um urso marrom a "lutar contra um comando militar dos EUA".

Segundo a BBC, a cidade de Naie, em Hokkaido, tem tentado contratar caçadores por 10,3 mil ienes japoneses (cerca de R$ 350) por dia para patrulhar as ruas, colocar armadilhas e matar os animais, se necessário. Mas há poucos caçadores — é um trabalho de alto risco, o salário não é atraente o suficiente e muitos deles são idosos.

— Se não atirarmos, as pessoas vão nos criticar e dizer 'por que você não atirou quando tinha uma espingarda?' E se atirarmos, tenho certeza que as pessoas vão ficar com raiva e dizer que poderia atingir alguém — desabafa Junpei Tanaka, do Picchio Wildlife Research Center, no Japão, à BBC.

Em maio, dois policiais da província de Akita, no norte do país, foram gravemente feridos por um urso enquanto tentavam retirar um corpo da floresta após um suposto ataque fatal de ursos.

— Os ursos que entram em áreas urbanas tendem a entrar em pânico, aumentando o risco de ferimentos ou morte para as pessoas. Acho que não é razoável pedir aos caçadores, que provavelmente são apenas assalariados comuns, que tomem tal decisão — disse Tanaka à BBC.

Avistamentos e incidentes de ursos geralmente acontecem por volta de abril, quando acordam da hibernação em busca de comida, e novamente em setembro e outubro, quando comem para armazenar gordura para os meses de inverno. Mas seus movimentos se tornaram mais imprevisíveis à medida que os rendimentos da bolota — a maior fonte de alimento para os ursos — caem por causa das mudanças climáticas.

— Os ursos sabem que os humanos estão presentes e atacam as pessoas por sua comida, ou reconhecem as próprias pessoas como comida — disse a funcionária do governo local Mami Kondo, à BBC.

Em depoimento à BBC, Tanaka disse que a alteração da lei é inevitável, mas é apenas uma medida paliativa em caso de emergência. Ele acrescenta que capturar e matar os animais não é o caminho a seguir. Em vez disso, o governo precisa proteger o habitat dos ursos para que eles não sejam obrigados a se aventurar muito longe.

— No longo prazo, é preciso implementar uma política nacional para mudar o ambiente florestal, para criar florestas com alta biodiversidade — ele explica à BBC.