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Vídeo mostra momento em que bomba israelense cai perto de escola da ONU em Gaza; assista

Palestinos jogavam futebol quando bombardeio ocorreu; militares de Israel afirmaram que operação mirou terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica

Agência O Globo - GLOBO 10/07/2024
Vídeo mostra momento em que bomba israelense cai perto de escola da ONU em Gaza; assista

Uma multidão de pessoas assistia a uma partida de futebol no pátio de uma instituição da ONU na Faixa de Gaza quando, sem aviso, as Forças Armadas de Israel lançaram bombardeios no centro e no sul do enclave — e atingiram o local. A filmagem do momento, transmitida pela rede catari al-Jazeera nesta terça-feira, mostra que o ataque aéreo ocorreu próximo ao portão da escola al-Awda. Nas imagens é possível ver que, enquanto a pessoa que gravava a partida foge, ela passa por corpos de palestinos gravemente feridos entre os destroços.

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Testemunhas disseram que a área estava movimentada com pessoas e comerciantes quando a greve ocorreu. Segundo autoridades do hospital Nasser, o número de mortos no ataque subiu para 31 nesta quarta-feira. Dezenas de outros ficaram feridos. À AFP, uma testemunha afirmou que as pessoas estavam sentadas na entrada da escola e que, "de repente, foguetes foram disparados". Outros relataram ter visto indivíduos com membros decepados e partes do corpo espalhadas.

— As pessoas estavam brincando, outras estavam comprando e vendendo [comida e bebidas]. Não havia som de aviões ou qualquer coisa — disse Ghazzal Nasser, uma jovem que estava no local, à agência Reuters.

As Forças Armadas israelenses argumentaram que o ataque tinha como alvo um terrorista ligado à ala militar do grupo terrorista Hamas, que participou do atentado de 7 de outubro. Os militares afirmaram que foi utilizada "munição de precisão" durante a operação, e que os relatos de civis feridos estavam sob análise. A justificativa é usada com frequência por autoridades israelenses, embora palestinos e observadores internacionais questionem o risco dessas ofensivas para civis, muitos dos quais precisaram ser deslocados para essas regiões em busca de abrigo.

De acordo com dados das Nações Unidas, quase 2 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar desde o início da guerra, em outubro do ano passado, e o Exército de Israel ordenou uma nova retirada de civis do centro do território nesta quarta-feira.

Na terça-feira, o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo grupo terrorista Hamas, anunciou a morte de ao menos 25 pessoas na ofensiva. O bombardeio aéreo, confirmado pelos militares israelenses, atingiu uma área adjacente à escola al-Awda, na cidade de Abasan al-Kabira, a leste de Khan Younis — região onde civis estavam acampados.

O bombardeio foi o quarto, nos últimos quatro dias, a atingir diretamente (ou os arredores) de alguma área utilizada como abrigo por pessoas deslocadas pelo conflito, segundo uma contagem feita pela rede britânica BBC. Antes dele, outras duas escolas da ONU no campo de refugiados de Nuseirat foram atingidas por operações, além de uma escola na Cidade de Gaza. As ofensivas foram seguidas por condenações internacionais.

"A morte de pessoas em busca de abrigo em escolas é inaceitável. Civis, especialmente crianças, não podem ser pegas pelo fogo cruzado. Os ataques recorrentes a escolas pelo Exército de Israel precisam parar e uma investigação deve ocorrer rapidamente", escreveu o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, em uma publicação na rede social X (antigo Twitter), nesta quarta-feira.

O diretor-geral da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, também se pronunciou. Ele condenou os ataques cobrou ação da comunidade internacional.

"Desde o início da guerra, dois terços das escolas da UNRWA em Gaza foram atingidas, algumas foram bombardeadas e muitas ficaram gravemente danificadas. As escolas passaram de locais seguros de educação e esperança para as crianças a abrigos superlotados, muitas vezes terminando em locais de morte e miséria. Nove meses depois, sob a nossa vigilância, as matanças, a destruição e o desespero implacáveis ​​e intermináveis continuam. Gaza não é lugar para crianças", escreveu.

Operação sem trégua

No campo de batalha, os sinais são de que a operação não vai ter uma trégua imediata. Soldados de Israel estão engajados em uma operação terrestre contra o prédio central da UNRWA, onde o Exército disse ter eliminado membros do Hamas e da Jihad Islâmica e apreendido armas e explosivos. Um soldado foi morto na terça-feira por um sniper do grupo terrorista no bairro de Tel al-Hawa. Em nota, as Forças Armadas disseram ter realizado "uma operação contra terroristas".

A diretora de comunicação da UNRWA, Juliette Touma, disse que era difícil saber se havia pessoas refugiadas nessas instalações.

Nesta quarta-feira, o Exército de Israel lançou panfletos na Cidade de Gaza com pedidos para que todos os moradores sigam para o sul do território palestino. A mensagem, direcionada a "todas as pessoas presentes na Cidade de Gaza", afirma que há "corredores de segurança", mas que a cidade "continua sendo uma zona de combates perigosa".

Em uma publicação nas redes sociais na terça-feira, militares israelenses estimaram que 150 terroristas morreram durante as operações no bairro de Shejaiya. Um vídeo anexo à publicação mostrou a destruição de um túnel — ao todo, seis deles teriam sido destruídos na ofensiva.

Eliminação do Hamas

Os confrontos na Faixa de Gaza, incluindo em regiões que o Exército de Israel já havia declarado como "livres do Hamas", ocorrem num momento em que tanto o governo israelense quanto o movimento palestino dizem tentar novamente negociar uma possível saída diplomática para o conflito e para a libertação dos reféns que permanecem cativos no enclave.

Um dos pontos de maior discordância, apontado como fator impeditivo para as negociações, é o cessar-fogo definitivo sem a eliminação do Hamas — algo que provocou discussões públicas entre o premier, Benjamin Netanyahu, e setores do Exército e do governo.

Colocada em dúvida pelo principal porta-voz do Exército, Daniel Hagari, que disse ser impossível eliminar o Hamas por meios militares — ao menos enquanto ideologia —, o objetivo é um dos pontos em que Netanyahu e a ala mais radical de seu governo têm sido inflexível em negociar. À medida que a ofensiva continua, ao menos de acordo com o comando militar, as baixas do grupo palestino continuam a se somar.

Em um pronunciamento à Knesset, o Parlamento israelense, nesta quarta-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que 60% dos combatentes do Hamas foram eliminados até este momento do conflito. O número, ainda de acordo com Gallant, seria equivalente à maioria dos batalhões mantidos pelo grupo. Não ficou claro como o Exército israelense chegou a esse percentual.

O último balanço do Ministério da Saúde palestino indica que 38.295 pessoas morreram em Gaza desde o início da guerra, 52 delas nas últimas 24 horas. Do lado israelense, 327 soldados morreram durante as operações no enclave. (Com AFP)