Internacional

Tribunal russo emite ordem de prisão contra viúva de Alexei Navalny

Yulia Navalnaya, que vive fora da Rússia, é acusada de não colaborar com investigações judiciais em curso, mas ironizou decisão nas redes sociais

Agência O Globo - GLOBO 09/07/2024
Tribunal russo emite ordem de prisão contra viúva de Alexei Navalny

Um tribunal de Moscou emitiu uma ordem de prisão contra Yulia Navalnaya, viúva do ativista e líder oposicionista Alexei Navalny, morto em fevereiro em uma penitenciária no Ártico russo. Segundo a decisão, Navalnaya, que vive fora da Rússia, não colaborou com investigações sobre sua suposta ligação a uma “organização extremista” — no caso, a Fundação Anti-Corrupção, fundada por Navalny e que recebeu essa classificação há alguns anos pela Justiça russa.

"Yulia Borisovna Navalnaya escondeu-se das autoridades de investigação preliminar e, portanto, está na lista de procurados“, declarou o Tribunal Distrital de Basmanny, em comunicado à imprensa divulgado no Telegram. "O tribunal atendeu ao pedido da promotoria e determinou uma medida preventiva na forma de detenção por um período de 2 meses. O período é calculado a partir do momento da extradição para o território da Federação Russa ou a partir do momento da detenção no território da Federação Russa.”

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Antes avessa à vida pública, Yulia Navalnaya passou a ter uma voz mais ativa na política russa desde a prisão de Navalny, em janeiro de 2021, instantes depois de retornar à Rússia após tratamento médico no exterior: no ano anterior, ele havia sido envenenado, possivelmente a mando do Kremlin, em um voo na Sibéria. As acusações contra seu marido se acumularam, e superaram os 20 anos de prisão, que deveriam ser cumpridos em uma colônia penal remota no Ártico, onde as condições eram extremamente duras.

Após uma longa série de problemas de saúde, ignorados pelas autoridades, como acusou Navalnaya e aliados, transferências não autorizadas e longos períodos sem que fosssem dadas notícias a seu respeito, as autoridades prisionais declararam, no dia 16 de fevereiro, que Navalny havia morrido. Seu funeral em Moscou atraiu multidões, e atos de apoio ao redor da Rússia foram reprimidos, com centenas de prisões reportadas.

Logo após o anúncio da morte e do período de luto, Navalnaya se lançou em uma maratona de entrevistas, reuniões com líderes internacionais e declarações contra o governo russo — em março, a Casa Branca tentou fazer com que ela se sentasse perto da primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, no discurso sobre o Estado da União, proferido por Joe Biden. A iniciativa fracassou depois das duas rejeitarem o convite.

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Nesta terça-feira, após a ordem de prisão, Navalnaya ironizou a decisão judicial.

“Ah, qual não será o procedimento usual? Me declarar agente estrangeira, depois a abertura de um processo criminal, depois uma prisão?! Ao escrever sobre isso, por favor, não se esqueça de escrever o principal: Vladimir Putin[presidentr russo] é um assassino e um criminoso de guerra. Seu lugar é na prisão, e não em algum lugar de Haia, em uma cela aconchegante com TV, mas na Rússia — na mesma colônia e na mesma cela de 2 por 3 metros em que ele matou Alexei”, escreveu Navalnaya em suas redes sociais.

Desde 2021, ano em que Navalny retornou à Rússia, e quando a Fundação Anti-Corrupção foi declarada uma "organização extremista", vários de seus aliados foram condenados por associação ao grupo, recebendo penas que somavam alguns anos de prisão — até advogados que trabalharam com ele ao longo de sua carreira foram presos, mas muitos, como Navalnaya, já haviam deixado a Rússia antes das sentenças. O Kremlin não comentou a decisão judicial.