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Israel volta a bombardear sul de Gaza após nova ordem de retirada afetar cerca de 250 mil palestinos

Ofensiva em resposta a lançamento de foguetes pela Jihad Islâmica, na segunda, matou ao menos oito pessoas, segundo o Crescente Vermelho

Agência O Globo - GLOBO 02/07/2024
Israel volta a bombardear sul de Gaza após nova ordem de retirada afetar cerca de 250 mil palestinos
Israel volta a bombardear sul de Gaza após nova ordem de retirada afetar cerca de 250 mil palestinos - Foto: Reprodução/internet

As Forças Armadas de Israel voltaram a bombardear o sul da Faixa de Gaza nesta terça-feira, após emitir novas ordens de retirada para a região, que a ONU disse afetar cerca de 250 mil cidadãos palestinos residentes no enclave. Ao menos oito pessoas morreram nas cidades de Khan Younis e Rafah, entre a madrugada de segunda e a manhã desta terça, enquanto milhares voltaram a ser forçados a se deslocar internamente, de acordo com o grupo Crescente Vermelho.

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— Nós vimos pessoas em deslocamento, famílias em deslocamento, pessoas que começaram a empacotar os seus pertences e tentam abandonar esta área — disse a porta-voz da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Louise Wateridge, acrescentando que "quase 250 mil pessoas" foram afetadas pelas novas ordens de evacuação.

O Exército de Israel afirmou que as ordens de retirada foram uma resposta ao lançamento de foguetes contra o sul do país, na segunda-feira, reivindicado pela Jihad Islâmica. A nova ofensiva mirou áreas de Khan Younis e Rafah ao longo da fronteira com Israel e Egito.

Testemunhas relataram intensos bombardeios em torno de Khan Yunis, de onde as tropas israelenses se retiraram no início de abril, após uma batalha devastadora que durou meses. Um fotógrafo da AFP registrou a saída de palestinos do leste de Khan Yunis a pé, em carros e em carroças puxadas por cavalos ou burros. Algumas pessoas deslocadas sem ter para onde ir dormiam nas ruas.

Ahmad Najjar, morador da cidade de Bani Suhaila, disse que a ordem israelense causou “um grande deslocamento de residentes” e estimulou “medo e ansiedade extrema”. No último dia, a força aérea israelense disse ter atacado "aproximadamente 30 alvos terroristas” em Gaza.

O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, divulgou um novo balanço de 37.925 mortos e 87.141 feridos desde o início da guerra no enclave. Pelo menos 25 pessoas morreram nas últimas 24 horas.

A ação intensa no sul do território palestino acontece em um momento em que a pressão sobre Israel e sobre o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alcançam um nível crítico, com as divergências entre os diferentes setores políticos e militares sobre a continuidade da guerra começam a chegar a público de forma cada vez mais frequente.

Generais ouvidos pelo New York Times defenderam um cessar-fogo em Gaza, mesmo que signifique a manutenção do Hamas no poder. Os militares argumentam que uma trégua seria a melhor forma de libertar os cerca de 120 reféns israelenses ainda detidos por grupos rebeldes palestinos. A publicação americana conversou com seis oficiais e ex-oficiais das Forças Armadas do país.

— Os militares apoiam totalmente um acordo de reféns e um cessar-fogo. Eles acreditam que sempre podem voltar atrás e enfrentar militarmente o Hamas no futuro — disse Eyal Hulata, que serviu como conselheiro de segurança nacional de Israel até ao início do ano passado e que fala regularmente com altos funcionários militares.

A opinião dos generais confronta o que o Gabinete político de Netanyahu e o próprio premier defendem publicamente — que o fim da guerra em Gaza só vai acontecer quando Israel eliminar completamente o Hamas. Em um discurso a cadetes do Colégio de Defesa Nacional de Israel na segunda-feira, Netanyahu disse que as forças do país estavam “avançando em direção à fase final da eliminação” do “exército terrorista” do Hamas. Ele acrescentou, porém, que seria necessário continuar os bombardeios para atingir "os remanescentes".

Enquanto a operação militar nos territórios palestinos — Gaza e Cisjordânia — continua, as tensões na fronteira como o Líbano aumentam, com uma ameaça cada vez mais imediata do Hezbollah. Ouvidos pelo New York Times, os generais israelenses afirmaram que uma pausa em Gaza seria necessária também para se preparar para uma agressão em larga escala vinda do norte.

— Eles [os generais] entendem que uma pausa em Gaza torna mais provável a desescalada no Líbano. E têm menos munições, menos recursos disponíveis, menos energia do que tinham antes. Por isso também pensam que uma pausa em Gaza nos dá mais tempo para nos prepararmos no caso de uma guerra maior irromper com o Hezbollah — acrescentou Hulata.

Mais de 300 soldados israelenses foram mortos em Gaza, um número inferior ao projetado por alguns oficiais militares antes da invasão terrestre. No entanto, mais de 4 mil soldados ficaram feridos, e as tropas estão em ação a quase 9 meses. (Com NYT e AFP)