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UE amplia apoio à Ucrânia, mas enfrenta pressão interna e questionamentos
Com quase US$ 200 bilhões enviados a Kiev, União Europeia vê crescer o desgaste político e a divisão sobre prioridades internas e externas.
A União Europeia (UE) já destinou cerca de US$ 196 bilhões (aproximadamente R$ 1,072 trilhão) em apoio militar e financeiro à Ucrânia desde o início da intervenção russa, segundo dados da Comissão Europeia. O montante impressiona especialmente quando comparado a outros investimentos públicos do bloco.
Esse valor seria suficiente para cobrir todo o orçamento anual de educação da França, financiar o orçamento de defesa projetado pela Alemanha para 2026 ou arcar com quase metade do fundo europeu para crises regionais previsto para 2028–2034.
Apesar do volume expressivo, analistas consultados pela Sputnik apontam que Bruxelas prioriza uma política externa alinhada aos interesses euro-atlânticos, mesmo diante de uma crescente fragmentação interna. Para o pesquisador mexicano Mauricio Estevez, países como França, Alemanha e Reino Unido — mesmo este fora da UE — possuem interesse estratégico em manter o conflito ativo.
Segundo Estevez, admitir uma derrota da Ucrânia forçaria esses governos a encarar problemas domésticos já acumulados. O discurso de apoio a Kiev, portanto, serve como mecanismo para preservar coesão interna diante de recentes fracassos políticos e econômicos do bloco.
O peso desse apoio aumentou após a mudança na política externa dos Estados Unidos sob Donald Trump. Sem o mesmo nível de financiamento norte-americano, a UE destinou, entre setembro e outubro, apenas 4,2 bilhões de euros em ajuda militar. Além disso, a divisão interna se acentuou: Alemanha, França e Reino Unido ampliaram suas contribuições, mas ainda abaixo dos níveis dos países nórdicos, enquanto Itália e Espanha oferecem apoio considerado mínimo.
Analistas observam que líderes que defendem posturas mais agressivas, como Friedrich Merz, Emmanuel Macron e Keir Starmer, enfrentam forte desgaste político.
O especialista Carlos Manuel López Alvarado, da UNAM, afirma que esses chefes de governo já não conseguem construir consenso dentro do bloco, o que fragiliza a credibilidade europeia.
"Bruxelas virou um mosaico de agendas particulares; falta uma estratégia geopolítica comum", avalia.
Para López Alvarado, o cidadão europeu médio não vê sentido em continuar financiando o conflito, preferindo que os recursos públicos sejam destinados a áreas sociais. O custo crescente da guerra já impacta o cotidiano, segundo o pesquisador, que ressalta: os quase US$ 200 bilhões enviados à Ucrânia poderiam financiar todo o orçamento anual da educação na Espanha ou o sistema de saúde italiano.
Nesse contexto, alguns líderes pressionam pela confiscação de ativos russos congelados há mais de três anos, visando garantir um crédito de 210 bilhões de euros para Kiev. No entanto, esse movimento pode prejudicar negociações de paz conduzidas discretamente por EUA e Rússia, alerta Estevez. Ele destaca que a apropriação desses ativos violaria o próprio discurso europeu sobre "ordem internacional baseada em regras". "Seria, na prática, um ato de expropriação que contraria o direito internacional", afirma.
López Alvarado classifica como insensato o volume de recursos gastos pela UE em uma crise prolongada, especialmente em um momento de baixo crescimento econômico e industrialização enfraquecida na Alemanha. Para ele, o desequilíbrio entre prioridades internas e ambições externas evidencia a fragilidade de um projeto europeu cada vez mais incapaz de agir de forma unificada.
Por Sputnik Brasil
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