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Documentos revelam que direção do BRB ignorou alertas de "tragédia anunciada" antes do colapso do Banco Master

Atas de assembleias de maio de 2025 mostram que acionistas e funcionários avisaram sobre riscos financeiros, falta de transparência e fragilidade do banco, mas foram ignorados pela gestão

Redação 09/12/2025
Documentos revelam que direção do BRB ignorou alertas de 'tragédia anunciada' antes do colapso do Banco Master
Banco Master - Foto: Reprodução / Agência Brasil

A liquidação extrajudicial do Banco Master e a crise que abalou o sistema financeiro não foram uma surpresa para quem acompanhava os bastidores do Banco de Brasília (BRB). Documentos e atas de assembleias realizadas em maio de 2025, analisados pela reportagem, revelam que a administração do banco público foi sucessivamente alertada sobre os perigos da operação, mas optou por seguir adiante, ignorando avisos sobre a fragilidade da instituição parceira.

O material expõe uma "disputa silenciosa" travada internamente meses antes do colapso. De um lado, minoritários e representantes dos empregados cobravam prudência e dados; do outro, uma gestão decidida a concretizar o negócio com o Master, mesmo sem apresentar estudos de viabilidade robustos.

Alertas de Risco e Queda de Capital

Um dos pontos mais críticos levantados nas reuniões foi a saúde financeira do próprio BRB. Os documentos apontam que o banco vinha sofrendo redução contínua em seus índices de capital regulatório desde 2020.

Acionistas alertaram que absorver o Banco Master — cuja carteira de ativos era classificada como preocupante — seria um erro estratégico grave. “Pelas informações disponibilizadas [...], a aquisição poderia pressionar ainda mais as métricas de rentabilidade e capital do BRB”, registrou um dos conselheiros em ata.

Opacidade e Falta de Dados

A falta de transparência foi outro ponto de tensão. Segundo os registros, a direção do BRB solicitou aos acionistas que aprovassem a operação sem fornecer demonstrações financeiras consolidadas ou segmentadas.

Na prática, o conselho foi chamado a deliberar sobre uma aquisição de alto risco sem ter acesso a estudos de impacto prudencial ou a uma avaliação independente da carteira do Master. "Não foi divulgada demonstração [...] que permitisse avaliar adequadamente a operação", consta em um dos trechos.

Auditoria Questionada

A crise interna respingou também na auditoria independente (EY). As atas mostram questionamentos duros sobre o motivo de a consultoria não ter recomendado a exclusão de trechos sobre o Master do Relatório da Administração, o que, para os críticos, soava como uma tentativa de "legitimar" uma decisão perigosa.

Além disso, o banco já enfrentava pressão do Banco Central, tendo assinado um Termo de Compromisso por atrasos em entregas regulatórias, o que tornava o movimento de expansão ainda mais temerário.

Tragédia Institucional

O conjunto de evidências sugere que os mecanismos de governança e controle do BRB falharam em conter uma decisão política e estratégica. O pedido de socorro dos funcionários aos órgãos de fiscalização — clamando por "diligência para mitigar riscos legais e de imagem" — não foi suficiente para frear a operação.

Agora, com o colapso do Master consumado, os documentos servem como prova de que os sinais de deterioração eram evidentes e foram deliberadamente desconsiderados pela alta cúpula do banco.