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Esquerda ou Centrão: quem chegará fortalecido no ciclo pós-Bolsonaro nas eleições de 2026?

Sputinik Brasil 03/12/2025
Esquerda ou Centrão: quem chegará fortalecido no ciclo pós-Bolsonaro nas eleições de 2026?
Foto: © Foto / Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados

À Sputnik Brasil, cientista político analisa que a direita só tem o caminho da unificação para a disputa de 2026, pois uma pulverização de candidaturas fortaleceria o PT.

A confirmação da inelegibilidade de Jair Bolsonaro tornou volátil o cenário político brasileiro para as eleições de 2026. Com o ex-presidente fora da disputa, uma série de peças em reticência se movem no tabuleiro eleitoral, com partidos redefinindo estratégias para o pleito.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político Elias Tavares analisa para onde devem migrar os votos do eleitorado bolsonarista e se a ausência de Bolsonaro na disputa fortalece a esquerda ou o Centrão.

Tavares explica que o PL, partido de Bolsonaro, ainda chega em 2026 como uma força robusta dentro do Congresso, capaz de montar chapas competitivas.

"Agora, é evidente que a força pessoal do Bolsonaro tende a se esvaziar ao longo do tempo e isso impacta o poder de coesão dessa bancada no médio prazo. A legenda continua grande, continua influente, mas sem o magnetismo eleitoral do ex-presidente", afirma.

Diante disso, ele afirma que o PL passa a depender mais de quadros regionais do que um líder nacional incontestável ainda transferindo votos, mas sem capacidade de sustentar uma bancada sozinho, como foi em 2022.

O cientista político avalia que nesse cenário político o Centrão se comporta como um "grande pêndulo da política brasileira, conversando com as duas margens". Por um lado, "mantém pontos" com o eleitorado de direita órfão do Bolsonaro; por outro, se aproxima das políticas que o governo federal entrega, como a isenção do Imposto de Renda (IR).

"O Centrão opera sempre com pragmatismo, ele não disputa narrativa ideológica, ele disputa viabilidade eleitoral. Se o vento soprar para a direita, ele estará lá. Se o vento soprar para a reeleição do Lula, a gente sabe que ele estará lá também. O movimento agora é se mostrar disponível para ambos."

Segundo ele, nessa estratégia de "não colocar os pés numa canoa só", o Centrão se moldará "de acordo com as conveniências eleitorais mais próximas à eleição do ano que vem". Ele aponta que a adesão à pauta da isenção do IR foi "o golpe de efeito" mais forte do Centrão, pois atinge o bolso do eleitor do eixo centro, de classe média, assalariado, autônomo e o agro da pequena escala.

"Mas há outros sinais econômicos que também podem ser lidos como tentativas de diálogo com esse eleitor. Os programas de crédito subsidiado ao pequeno empreendedor, os reajustes acima da inflação para servidores em funções sensíveis ali do Estado e a ampliação de benefícios para trabalhadores de renda intermediária."

O analista acrescenta que nenhuma pauta tem o impacto simbólico da isenção do IR, "mas tudo compõe o mosaico do voto econômico".

Para Tavares, a tensão entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), não chega a configurar uma fragmentação da direita. Segundo ele, as divergências são apenas "estilos diferentes, vocações políticas distintas".

"O Eduardo fala mais com a militância mais ideológica, aquela que se mobiliza rápido, que reage nas redes sociais, que vai para a porta de um quartel, por exemplo. A extrema direita que a gente fala, esse eleitor que foi lá no 8 de Janeiro, esse é o papel que o Eduardo cumpre."

Já Tarcísio, aponta o analista, opera no campo moderado da centro-direita, disputando votos do Sudeste e dialogando com o setor produtivo, governadores e prefeitos. Ele considera que esse desalinhamento entre os dois estilos é normal e esperado no primeiro turno.

"Mas não é uma ruptura. Vamos dizer que é uma divisão de tarefas eleitorais ideológicas. Eu acredito muito nos dois juntos no segundo turno, por exemplo, caso o Tarciso seja o candidato e vá para a segunda parte da eleição", ressalta.

Sobre o vazio deixado por Bolsonaro na disputa, Tavares afirma que o nome mais cotado para preencher essa lacuna é o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, pelo fato de ela ter "apelo próprio", bom trânsito entre mulheres, evangélicos e conservadores moderados e por manter acesa "a chama simbólica do bolsonarismo".

"É a herdeira política natural desse legado construído por Jair Bolsonaro. E o segundo é o Tarcísio de Freitas, que mesmo sendo mais ponderado, representa o projeto original do Bolsonaro."

Ele afirma que a direita só tem um caminho viável para a corrida eleitoral: a unificação. Isso porque uma pulverização de candidaturas fortaleceria o PT, que já tem seu candidato e os partidos prontos para "marchar junto com a candidatura à reeleição do Lula".

"Então, o ideal seria uma frente ampla reunindo o PL, Republicanos, o PP e União Brasil em torno de um único nome competitivo. Além disso, a direita precisa acenar para governadores do Sul e Sudeste, construir uma agenda econômica clara e resgatar parte da pauta anticorrupção de 2018, que foi a pauta que trouxe Bolsonaro à cena política e ainda é muito forte no eleitorado urbano."

Projeto de anistia "perdeu musculatura"

Sobre a possibilidade de o projeto de anistia mobilizar o eleitorado, Tavares afirma que a pauta "perdeu musculatura".

"A prisão do Bolsonaro não gerou as manifestações que muitas pessoas imaginavam e apostavam. Isso enfraquece a principal justificativa política da proposta", observa.

Segundo ele, diante do esvaziamento das mobilizações populares em prol da anistia, o debate, agora, tende a migrar para a dosimetria das penas, que ele acredita ser o tema central para o próximo período.

"E a ausência de rua retira a pressão do Congresso e deixa essa discussão muito mais técnica do que emocional. Em outras palavras, a anistia já não caminha como uma bandeira desse eleitorado e não chama a atenção como muitos apostariam que chamaria."

Tavares aponta que esse cenário de desmobilização fortalece mais o Centrão que a esquerda, pois o vácuo do bolsonarismo acabará ocupado por "quem está mais perto".

"E a gente sabe muito bem que acaba sendo o eleitor de centro. Ele tem uma capilaridade maior, a gente pode pegar um efeito, por exemplo, do PSD, que elegeu muitos prefeitos na última eleição. Essa estrutura partidária e o discurso menos polarizador, se organizar certinho, corretamente, acaba virando a grande força intermediária do ciclo pós-Bolsonaro", conclui o analista.