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79% dos brasileiros acreditam que economia favorece ricos, aponta pesquisa

Levantamento global revela percepção de desigualdade econômica no Brasil e destaca tensões sociais e políticas.

03/12/2025
79% dos brasileiros acreditam que economia favorece ricos, aponta pesquisa
Dinheiro - Foto: Reprodução / Agência Brasil

Oito em cada dez brasileiros acreditam que a economia do País é estruturada para beneficiar ricos e poderosos, aponta a pesquisa Ipsos Global Trends divulgada nesta quarta-feira, 3. Segundo o levantamento, 79% dos entrevistados no Brasil concordam com essa afirmação. O percentual dos que consideram a desigualdade na distribuição de renda prejudicial à sociedade é ainda maior: 84%.

O estudo, realizado em 43 países, indica que a preocupação com as desigualdades está entre as principais tendências globais. Em média, 78% dos participantes ao redor do mundo enxergam a concentração de poder aquisitivo como negativa.

De acordo com a Ipsos, a concentração de riqueza mundial avançou três vezes mais rápido no último ano em comparação ao anterior, e o planeta pode presenciar o surgimento do primeiro trilionário em breve. Globalmente, 71% avaliam que a economia de seus países também favorece os mais ricos.

"Os principais fatores de desigualdade nas sociedades continuam a ampliar divisões. Isso está criando um contraste cada vez mais acentuado entre a pobreza injusta e a riqueza das elites globais", observa o CEO da Ipsos, Marcos Calliari. "Esse estresse social fragilizou estruturas tradicionais e estimulou o surgimento de novas ideologias e lealdades."

A desconfiança da população brasileira também alcança o setor privado. Para 85% dos entrevistados, as empresas devem contribuir com a sociedade, indo além da busca por lucro. Entre os mais jovens (88%, de 16 a 24 anos) e os mais velhos (89%, de 55 a 74 anos), a cobrança é ainda maior.

O levantamento também aponta crescimento nas tensões políticas dentro das famílias. Segundo o estudo, 61% dos brasileiros relatam conflitos familiares por diferenças de valores, três pontos percentuais a mais que no ano anterior e bem acima da média global (47%). O Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com maior incidência desse tipo de conflito, atrás apenas de Emirados Árabes (69%), Índia (65%) e África do Sul (62%).

No Brasil, os atritos são mais frequentes entre homens (63%), pessoas de 35 a 44 anos (67%), de baixa renda (70%) e de menor escolaridade (71%).

Orgulho nacional e imigração

A Ipsos destaca que "todas as formas de divisão" seguem como preocupação mundial, mas a percepção sobre imigração apresentou a mudança mais significativa. No Brasil, 73% consideram que há imigrantes demais no País, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao ano anterior. O índice é maior entre mulheres (76%), pessoas de 35 a 44 anos (81%), de baixa renda (75%) e de baixo nível escolar (84%).

Apesar disso, 61% dos brasileiros acreditam que a imigração traz impacto positivo para a sociedade — número superior à média global, de 45%. Atualmente, um em cada 27 habitantes do planeta é imigrante internacional.

Calliari ressalta que parte dos brasileiros ainda associa o termo "imigrante" a fluxos migratórios dos séculos XIX e XX, o que pode distorcer a percepção sobre a migração contemporânea. Segundo ele, o tema permanece "altamente emocional e polarizador", sendo explorado por discursos políticos de tom populista em diversos países.

O relatório também evidencia que a incerteza econômica global, influenciada por conflitos, desastres naturais e políticas comerciais (como as do governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump), reforça o debate sobre os limites e os efeitos da globalização. Em média, 64% consideram a globalização benéfica para seus países, índice que chega a 75% entre os brasileiros.

A pesquisa ouviu cerca de 1.000 adultos no Brasil por meio de plataforma on-line. A margem de erro é de três pontos e meio percentuais, para mais ou para menos.