Com IDEB acima da média nacional e apelidada de “Cidade de Doutores”, a gestão de Oldênia Guerra mostra como planejamento, inovação e valorização de professores transformaram um município de 25 mil habitantes em referência nacional.



No sertão do Piauí, a 640 km de Teresina, uma cidade de pouco mais de 25 mil habitantes virou referência nacional em educação. Bom Jesus, conhecida como a “Cidade de Doutores” por concentrar a maior proporção de doutores por habitante no Brasil, (cerca de um para cada 200 moradores), mostra que excelência acadêmica também nasce longe dos grandes centros. A rede municipal não apenas mantém, mas supera de forma consistente as metas do IDEB em diferentes etapas de ensino, consolidando o município como um dos casos de sucesso mais reconhecidos do país.



Por trás desses resultados está Oldênia Guerra, secretária de Educação, filha de uma família de 12 irmãos e defensora incansável da escola pública como ferramenta de transformação social. Com trajetória marcada por especializações em gestão e políticas públicas, Oldênia lidera uma estratégia que combina formação contínua de professores, monitoramento individual de alunos e metodologias baseadas em evidências científicas, apoiadas por parcerias com instituições como o Instituto Alfa e Beto.



Os números confirmam o impacto: IDEB acima da média nacional, professores mais preparados e estudantes com melhor desempenho. “O segredo está em unir planejamento, inovação pedagógica e humanização”, resume a secretária.

Nesta entrevista, Oldênia abre os bastidores de um modelo educacional que transformou Bom Jesus do Piauí em sinônimo de qualidade, eficiência e compromisso com o futuro.

Como surgiu sua vocação para a educação e qual foi sua trajetória até chegar à Secretaria de Educação de Bom Jesus?

Minha vocação para a educação nasceu dentro de casa. Sou filha de uma família grande, com 12 irmãos, e desde cedo percebi que a educação era a única ferramenta capaz de abrir portas e transformar vidas. Comecei como professora, atuando diretamente em sala de aula e compreendendo os desafios que muitos alunos enfrentam no sertão piauiense. Ao longo dos anos, busquei formação acadêmica sólida e especializações em políticas públicas e gestão educacional, que me permitiram assumir responsabilidades maiores e, finalmente, liderar a Secretaria de Educação, aplicando de forma estratégica tudo o que aprendi para impactar positivamente a aprendizagem e a vida dos estudantes.



Bom Jesus é conhecida como a “Cidade de Doutores”. Como essa realidade influencia a política educacional local?

O título de “Cidade de Doutores” reflete uma cultura de valorização do conhecimento que está presente em todas as nossas ações. Ele nos obriga a manter padrões elevados de qualidade educacional. Investimos fortemente na formação continuada dos professores, metodologias inovadoras e acompanhamento individualizado do desempenho de cada aluno. Cada decisão pedagógica tem como objetivo manter Bom Jesus como referência nacional e garantir que a população continue se beneficiando de uma educação que combina excelência acadêmica e desenvolvimento integral.



Quais são os pilares da gestão educacional que você implementa na cidade?

Nossa gestão se baseia em três pilares: planejamento estratégico, inovação pedagógica e valorização do corpo docente. O planejamento estratégico garante uma visão clara de metas e uso eficiente dos recursos. A inovação pedagógica envolve projetos interdisciplinares, metodologias ativas e tecnologias educacionais que aumentam o engajamento. E a valorização dos professores se dá por meio de formação continuada, acompanhamento próximo e reconhecimento do trabalho, criando um ciclo virtuoso de ensino de qualidade.



Como funciona a parceria com o Instituto Alfa e Beto e outras instituições especializadas?

Parcerias como a do Instituto Alfa e Beto consolidam nossa metodologia e garantem qualidade no processo de aprendizagem. Elas fornecem ferramentas de avaliação precisas, capacitam professores e oferecem materiais pedagógicos de alto nível. Isso permite acompanhar de perto o progresso de cada estudante, identificar dificuldades e ajustar estratégias de ensino, além de trazer práticas exitosas de outros contextos para enriquecer nossa realidade local.



Quais resultados concretos a cidade alcançou em termos de aprendizagem e avaliação?

Bom Jesus apresenta médias consistentes acima das metas do IDEB, comprovando a eficácia das políticas educacionais. Mais do que números, percebemos a transformação na vida dos alunos: maior interesse pelo estudo, protagonismo estudantil e preparação sólida para etapas futuras. Também registramos alto índice de inclusão e equidade, garantindo que cada criança e adolescente tenha acesso a oportunidades de aprendizado de qualidade.



Como a sra. encara os desafios do contexto do sertão piauiense para manter essa qualidade educacional?

O sertão apresenta desafios como distâncias geográficas, limitações de infraestrutura e escassez de profissionais qualificados. Enfrentamos essas dificuldades com planejamento e criatividade: investimos em transporte escolar, formação específica para professores de áreas remotas e tecnologias que aproximam alunos e educadores. Mantemos acompanhamento contínuo do desempenho escolar e adaptamos metodologias à realidade local, garantindo oportunidades iguais de aprendizado para todos.



Qual é a importância do protagonismo estudantil na sua gestão?

O protagonismo estudantil é central. Incentivamos que os alunos participem ativamente, expressem opiniões, desenvolvam projetos e tomem decisões. Essa abordagem fortalece autonomia, responsabilidade e criatividade, preparando-os não apenas para o sucesso acadêmico, mas para a vida em sociedade.



De que maneira a valorização dos professores influencia os resultados da educação em Bom Jesus?

Professores motivados e bem preparados transformam a qualidade do ensino. Oferecemos formação continuada, acompanhamento pedagógico e reconhecimento pelo trabalho realizado. Esse cuidado cria um ciclo virtuoso: professores valorizados ensinam melhor, alunos aprendem mais e os resultados da rede melhoram, fortalecendo também o vínculo entre escola e comunidade.



Como a sra. enxerga o papel da tecnologia e da inovação no futuro da educação municipal?

A tecnologia é uma aliada estratégica, utilizada para avaliação, acompanhamento de desempenho e metodologias interativas. Mas a inovação vai além: envolve práticas pedagógicas atualizadas e projetos interdisciplinares que preparam os alunos para desafios contemporâneos. Essa combinação é essencial para manter a educação de Bom Jesus em patamar de excelência diante de mudanças e desafios futuros.


Qual mensagem você gostaria de deixar para outros gestores e para a comunidade sobre o modelo educacional de Bom Jesus?

Minha mensagem é que é possível alcançar resultados extraordinários mesmo em contextos desafiadores. Com planejamento estratégico, valorização de professores, inovação pedagógica e compromisso com cada aluno, podemos transformar a educação e impactar positivamente a comunidade. Bom Jesus é prova de que investir em educação é investir no futuro de toda a sociedade, e espero que nossa experiência inspire outros municípios a acreditar no mesmo.