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Martha Batalha estreia no infantojuvenil com livro sobre temores e conflitos do crescimento

'Liz sem medo' tem ilustrações de Joana Penna e inspiração no universo de Lygia Bojunga Nunes

Agência O Globo - GLOBO 07/09/2024
Martha Batalha estreia no infantojuvenil com livro sobre temores e conflitos do crescimento
Foto: Instagram - @martha_batalha

Aos 11 anos, a menina Liz começa a descobrir um fato inevitável: as crianças crescem e a vida muda. Sua rotina vira de cabeça para baixo depois que ela é obrigada a se mudar da cidade barulhenta onde era feliz. Sua mãe, que a ajudava a enfrentar todo tipo de medo, não está mais com ela. Agora, Liz vive com o pai e o irmão no meio do mato, e precisa aprender a conviver com uma mulher verruguenta que garantem ser sua avó.

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“Liz sem medo” (Escarlate) é o tipo de livro que a sua autora, Martha Batalha, gostaria de ter lido na idade da protagonista. Consagrada com o premiado romance “A vida invisível de Eurídice Gusmão” (Companhia das Letras, 2016), que foi transformado em longa pelo diretor Karim Aïnouz em 2019, a escritora pernambucana (que cresceu no Rio) estreia na ficção infantojuvenil em parceria com a ilustradora carioca Joana Penna.

Radicada em Los Angeles, a dupla costuma jantar toda a quarta-feira em um restaurante grego para colocar a conversa em dia. Até que Joana lançou uma sugestão: “Faz um livro aí para eu ilustrar.” Deu certo. As duas estão no Rio para a sessão de autógrafos de “Liz sem medo”, que acontece neste domingo (8), das 16h às 18h, na Janela Livraria (Rua Marquês de São Vicente 52, na Gávea).

— É um livro sobre enfrentar as dificuldades da vida, aprender a conhecer e ficar com nossos sentimentos mesmo quando eles são ruins — diz Martha. — Liz tem muitos medos, mas aprende a olhar para dentro dela e a conhecer seus medos para superá-los.

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Ensinamentos que a própria Martha aprendeu na infância com alguns de seus autores favoritos da época, como Ganymedes José e Lygia Bojunga Nunes. “Liz sem medo”, que deve muito ao universo desses dois ícones da literatura infantojuvenil, faz uma ode à imaginação, abordando de maneira lúdica e despretensiosa certos assuntos pesados como o luto.

Máquina do tempo

Face aos desafios do crescimento, a menina Liz quer construir uma máquina de dar marcha a ré, para voltar à sua vida de antes. Explorando os arredores da casa da avó, ela se aventura pelo mato selvagem (que tem a Floresta da Tijuca como modelo) e faz amizades imaginárias.

— Não queria escrever um livro para o adulto gostar e depois dizer que a criança tem que ler — diz Martha. — Também não queria um livro com uma mensagem que viesse de cima para baixo. A criança quer um livro com o universo dela, que ela entenda, e por isso escrevi na primeira pessoa. Hoje em dia as novas gerações têm muito mais instrumentos e ferramentas para lidar com a inteligência emocional, há muito mais preocupação da sociedade com essa questão.

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Quando começou a escrever “Liz sem medo”, Martha estava na reta final da escrita de “Chuva de papel”, um romance denso sobre um repórter policial decadente. Intercalando a profundidade de um título com a leveza do outro, seu texto acabou refletindo alguns de seus próprios caminhos espirituais.

— Nos últimos anos, tenho me envolvido muito com budismo e acho que, sem perceber, entrou muito da filosofia budista neste livro — diz a autora. —A ideia de que, mesmo quando sentimos algo ruim, isso é parte de você.

Na parte visual, Martha deu carta branca à amiga Joana, que decidiu apostar nos contrastes do preto e branco para traduzir o caminho da personagem entre a escuridão e a luz (no caso, tão literais quanto metafóricas). Conhecida por trabalhos mais coloridos, incluindo a bem-sucedida série pré-adolescente “Diário de Pilar” (Zahar, 2010), de Flávia Lins e Silva, a artista se sentiu à vontade com a textura do desenho a carvão.

Nas partes internas da capa e contracapa, Joana usou cor no amigo imaginário de Liz (a girafa Igor), como sugestão para que os jovens leitores façam o mesmo nas demais ilustrações.

— Martha deu liberdade criativa total, o que deve ser difícil já que todo escritor tem muitas imagens na cabeça — diz Joana. — Foi um processo muito divertido, não apenas pela amizade com Martha como também pelo fato de estarmos nos aventurando juntas em algo novo.