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‘Problema global de saúde’: percevejos de cama são cada vez mais frequentes e demandam cuidados, alertam médicos
Dermatologista explica como identificar sinais de infestação do percevejo, que podem ocorrer principalmente em hotéis e no transporte público
No final do ano passado, os bed bugs, também conhecidos como percevejos de cama, se tornaram uma preocupação em Paris após uma infestação poucos meses antes de a capital francesa receber a Olimpíada de 2024. Mas engana-se quem pensa que a preocupação com os insetos é apenas em cidades do exterior.
Segundo o médico da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Éverton Carlos Siviero do Vale, preceptor da Residência Médica em Dermatologia no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trata-se de “um problema reemergente e global de saúde pública”.
Durante uma palestra sobre dermatoses importantes entre viajantes, realizada nesta sexta-feira no 77º Congresso Brasileiro da SBD, o médico explicou que os bed bugs chegaram a ser praticamente banidos nos anos 40, mas ressurgiram a partir dos anos 90:
— Os motivos foram a resistência a inseticidas pelo uso indiscriminado, baixa eficácia de práticas de controle de infestação e principalmente aumento de viagens e comércio internacionais.
Hoje o inseto está bem disseminado pelo planeta, sendo encontrado inclusive no Brasil, o que demanda cuidados especialmente durante viagens, já que hotéis sem a devida higienização são locais comuns de proliferação dos percevejos.
Outros lugares em que eles podem ser encontrados são teatros, cinemas, meios de transporte público, hospitais, bibliotecas e outros semelhantes.
Os insetos têm de 4 a 7 milímetros e habitam espaços de pouca luminosidade e menor fluxo de ar, como orifícios, fendas em paredes, interior de móveis, cestos de roupa, colchões, travesseiros e almofadas. E se reproduzem rapidamente, chegando a populações de milhares de indivíduos em apenas 2 a 3 meses, o que o dermatologista diz ser uma “multiplicação exponencial”.
A picada do bed bug geralmente é indolor no momento, e o que sugere a ação do inseto é o surgimento das marcas vermelhas depois e a presença de manchas escuras nos locais, como nas roupas de cama, causadas pelas fezes do percevejo. Encontrar o inseto também é um indicativo.
Sua saliva tem propriedades anticoagulantes, que causam reações alérgicas e as máculas características da picada, ainda que 20% dos pacientes não apresentem reações de hipersensibilidade.
— Reações sistêmicas, como asma e anafilaxia, são mais raras. Mas as picadas também podem gerar ansiedade, insônia, fobias e ilusão de parasitose — disse o médico.
Entre as recomendações do dermatologista está procurar por percevejos e fezes (manchas escuras) especialmente à noite e em quartos de hotel. O odor característico do inseto também é um alerta, geralmente de mofo e adocicado.
O tratamento da picada é sintomático, envolve, por exemplo, antialérgicos e por vezes medicamentos corticoides.
Já o controle da infestação é feito com aspiração a vácuo, lavagem de roupa a 60 graus, aquecimento ambiental. O ideal são estratégias combinadas. A dedetização pode ser feita por empresas especializadas, mas tem eficácia limitada pela resistência dos animais.
Para viajantes que retornam com os bed bugs, a orientação é fazer todo o processo de descontaminação das roupas e objetos.
Mas o médico tranquilizou em relação a riscos adicionais para a saúde. Ainda que os percevejos de cama possam ser portadores de mais de 40 agentes infecciosos, não há casos relatados na literatura de transmissão para seres humanos.
Um dos motivos, explicou o dermatologista, é que eles não defecam enquanto comem (picam), o que poderia provocar a contaminação.
* O repórter viajou a convite do 77º Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
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