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‘Problema global de saúde’: percevejos de cama são cada vez mais frequentes e demandam cuidados, alertam médicos

Dermatologista explica como identificar sinais de infestação do percevejo, que podem ocorrer principalmente em hotéis e no transporte público

Agência O Globo - GLOBO 06/09/2024
‘Problema global de saúde’: percevejos de cama são cada vez mais frequentes e demandam cuidados, alertam médicos

No final do ano passado, os bed bugs, também conhecidos como percevejos de cama, se tornaram uma preocupação em Paris após uma infestação poucos meses antes de a capital francesa receber a Olimpíada de 2024. Mas engana-se quem pensa que a preocupação com os insetos é apenas em cidades do exterior.

Segundo o médico da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Éverton Carlos Siviero do Vale, preceptor da Residência Médica em Dermatologia no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trata-se de “um problema reemergente e global de saúde pública”.

Durante uma palestra sobre dermatoses importantes entre viajantes, realizada nesta sexta-feira no 77º Congresso Brasileiro da SBD, o médico explicou que os bed bugs chegaram a ser praticamente banidos nos anos 40, mas ressurgiram a partir dos anos 90:

— Os motivos foram a resistência a inseticidas pelo uso indiscriminado, baixa eficácia de práticas de controle de infestação e principalmente aumento de viagens e comércio internacionais.

Hoje o inseto está bem disseminado pelo planeta, sendo encontrado inclusive no Brasil, o que demanda cuidados especialmente durante viagens, já que hotéis sem a devida higienização são locais comuns de proliferação dos percevejos.

Outros lugares em que eles podem ser encontrados são teatros, cinemas, meios de transporte público, hospitais, bibliotecas e outros semelhantes.

Os insetos têm de 4 a 7 milímetros e habitam espaços de pouca luminosidade e menor fluxo de ar, como orifícios, fendas em paredes, interior de móveis, cestos de roupa, colchões, travesseiros e almofadas. E se reproduzem rapidamente, chegando a populações de milhares de indivíduos em apenas 2 a 3 meses, o que o dermatologista diz ser uma “multiplicação exponencial”.

A picada do bed bug geralmente é indolor no momento, e o que sugere a ação do inseto é o surgimento das marcas vermelhas depois e a presença de manchas escuras nos locais, como nas roupas de cama, causadas pelas fezes do percevejo. Encontrar o inseto também é um indicativo.

Sua saliva tem propriedades anticoagulantes, que causam reações alérgicas e as máculas características da picada, ainda que 20% dos pacientes não apresentem reações de hipersensibilidade.

— Reações sistêmicas, como asma e anafilaxia, são mais raras. Mas as picadas também podem gerar ansiedade, insônia, fobias e ilusão de parasitose — disse o médico.

Entre as recomendações do dermatologista está procurar por percevejos e fezes (manchas escuras) especialmente à noite e em quartos de hotel. O odor característico do inseto também é um alerta, geralmente de mofo e adocicado.

O tratamento da picada é sintomático, envolve, por exemplo, antialérgicos e por vezes medicamentos corticoides.

Já o controle da infestação é feito com aspiração a vácuo, lavagem de roupa a 60 graus, aquecimento ambiental. O ideal são estratégias combinadas. A dedetização pode ser feita por empresas especializadas, mas tem eficácia limitada pela resistência dos animais.

Para viajantes que retornam com os bed bugs, a orientação é fazer todo o processo de descontaminação das roupas e objetos.

Mas o médico tranquilizou em relação a riscos adicionais para a saúde. Ainda que os percevejos de cama possam ser portadores de mais de 40 agentes infecciosos, não há casos relatados na literatura de transmissão para seres humanos.

Um dos motivos, explicou o dermatologista, é que eles não defecam enquanto comem (picam), o que poderia provocar a contaminação.

* O repórter viajou a convite do 77º Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.