Geral
Peça ‘9’, do coletivo Delicadas Criaturas, transforma em palco o auditório do Instituto de Psiquiatria da UFRJ
Com texto e direção de Demetrio Nicolau, espetáculo traz Nara Keiserman como uma ex-atriz com transtorno dissociativo de identidade, que interpreta nove personagens femininos de clássicos teatrais
A caminhada pelo interior do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, em Botafogo (ao lado do Instituto Philippe Pinel), já ambienta o público do espetáculo “9” até a chegada ao auditório transformado em palco pelo dramaturgo e diretor Demetrio Nicolau. O espetáculo, que entra em temporada neste sábado (24) e vai até 6 de outubro, tem como elemento cênico apenas uma cadeira, sem iluminação além da original do espaço. Nara Keiserman interpreta a ex-atriz Laura Gomes, que atuou com Dulcina de Morais e Bibi Ferreira, mas passou a desenvolver múltiplas personalidades após sofrer um trauma.
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Com diagnóstico variando entre esquizofrenia e transtorno dissociativo de identidade, Laura por vezes deixa seu estado catatônico para assumir a personalidade de personagens femininos imortalizados na história do teatro por autores como Brecht, Molière, Shakespeare e Sófocles. A paciente psiquiátrica é levada ao centro do auditório por um médico (interpretado por Felipe Rangel) e seu caso é “apresentado” ao público, instalado nas cadeiras e mesas de madeira usadas em aulas e conferências na instituição.
Os nove tipos que dão nome à peça — que não são revelados, convidando o público a identificá-los e enviar para um e-mail escrito no quadro-negro do auditório — são inspirados nos nove “rasas”, emoções descritas no “Natyasastra”, texto indiano considerado um dos mais antigos tratados sobre performance. Cada “rasa” em sânscrito corresponde a sentimentos específicos, como sringara (amor, erotismo), raudra (raiva, irritação) e karuna (tristeza, compaixão).
Com esta base, Nicolau e Nara — que fundaram em 2021 o coletivo Delicadas Criaturas, com o também ator Marcus Fritsch e o cenógrafo e figurinista Carlos Alberto Nunes — fizeram a seleção de textos para encontrar as personagens ideais para o espetáculo.
— Para chegar às personagens interpretadas pela Laura tive que encontrar a voz de cada uma delas. Para mim, que vim do teatro físico, foi um desafio, ainda mais buscar nove vozes tão diferentes — conta Nara. — Em meio a uma cultura do espetáculo ligada à visualidade, nossa peça nasceu de um processo de escuta.
Terceiro espetáculo do Delicadas Criaturas — após “A minha nossa voz” (2021) e “Retratos da alma brasileira 2019-2022” (2023), basado em textos da colunista do GLOBO Dorrit Harazim — “9” segue a pesquisa do coletivo envolvendo a sonoridade.
— Em nossa primeira peça a plateia era vendada, e, na segunda, as vozes dos atores recriavam as crônicas da Dorrit. Para o “9”, pesquisamos mais de 60 textos, até encontrar as vozes dessas personagens, que são apresentadas não a uma comunidade médica, mas a uma comunidade teatral — observa Nicolau. — A plateia tenta identificar os tipos vividos pela Laura para ajudar em seu tratamento.
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