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Dengue: Estados e municípios buscam alternativas para evitar nova epidemia em 2025
Com vacinação restrita, retorno do período chuvoso preocupa; muitas pessoas têm imunidade natural a um dos subtipos após infecção, mas existem quatro
A cidade de Vitória, no Espírito Santo, comprou um drone especial para sobrevoar lotes abandonados e encontrar possíveis focos de dengue. No Paraná, a Secretaria de Saúde do estado montou uma equipe de armadilhas para o mosquito. Com a vacinação limitada e uma baixa adesão entre adolescentes ao imunizante, estados e municípios estão se munindo de alternativas para combater a dengue e evitar um possível surto, como o visto neste ano, no início de 2025.
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Secretários de saúde de diferentes estados e municípios ouvidos pelo GLOBO apontam que a adesão à vacina, hoje oferecida somente a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, é insuficiente para impactar no índice de infecção de dengue até o início do próximo ano. Diante disso, a combinação de diferentes estratégias tem sido um artifício para que o índice de casos continue em queda.
— A gente já está se preparando. Investimos em tecnologia com drones para saber se tem foco de dengue em lugares onde não podemos acessar, como casas abandonadas — relata a secretária de Saúde de Vitória (ES), Magda Lamborghini.
Desde o início do ano, o Ministério da Saúde registrou 5,8 milhões de casos, um recorde histórico mesmo após anos seguidos de alta da doença. Uma queda na transmissão começou a ser vista de forma significativa a partir de maio. A redução está relacionada à sazonalidade típica da doença, que tem maior transmissão em épocas de muito calor e chuvas. O temor agora é que isso se repita no início do próximo ano.
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No Paraná, o plano é intensificar o monitoramento e ações de combate nos municípios do estado. Segundo o secretário de Saúde, César Neves, os trabalhos para o próximo ano vão começar mais cedo porque se espera um verão com riscos ligados à dengue:
— Nossas equipes de armadilhas para o inseto, nossas equipes de campo, as nossas equipes de vigilância epidemiológica e entomológica vão começar os trabalhos mais cedo neste ano.
O secretário de Saúde de Santa Catarina, Diogo Demarchi, critica a distribuição de vacinas tardia e afirma que o estado já se prepara para um possível aumento de casos de dengue ainda no final de 2024.
— Precisamos vacinar no tempo adequado, e não durante a eclosão de casos. Para o próximo ano, é preciso que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) seja mais claro sobre o público-alvo. Estamos trabalhando com foco no final de 2024, essa é nossa perspectiva de aumento de casos — afirmou.
Tipos de vírus
Para o sanitarista Jonas Brant, ainda não dá para prever se os primeiros meses de 2025 serão marcados por um cenário de dengue menor ou pior que o deste ano.
— Tivemos dois vírus circulantes no brasil em 2024, dengue tipo 1 e tipo 2. Muitas pessoas se infectaram e estão imunizadas pela doença, então é pouco provável que tenhamos uma epidemia desses sorotipos. Mas também temos visto um aumento do tipo 3 da dengue e é possível que ano que vem tenhamos uma epidemia desse sorotipo — explicou ele.
São conhecidos quatro sorotipos de dengue. Segundo Brant, contudo, é incomum o registro de duas epidemias de uma mesma doença em anos consecutivos:
— Um dos motivos é que o governo se organiza e investe no combate à doença, mas não tenho clareza de que a gente conseguiu ter esse controle. A vigilância ambiental é uma área que se desintegrou muito durante a pandemia da Covid e ainda não se reorganizou direito.
Procurado, o Ministério da Saúde afirma que está finalizando o Plano de Enfrentamento da Dengue e outras Arboviroses para o período epidêmico 2024/2025, que contempla informações sobre a vigilância em saúde, manejo clínico, organização dos serviços, controle vetorial, lacunas de conhecimento para financiamento de pesquisas, comunicação e mobilização social, com propostas de ações.
O ministério diz que, em 2024, ampliou em até R$ 1,5 bilhão os repasses a estados e municípios em emergência. E afirma que coordena, em parceria, o treinamento e formação dos profissionais de saúde e dos agentes de combate às endemias. “A vacina, pela limitação de doses disponíveis para o SUS pelo fabricante, é uma das estratégias que se soma às demais ações de combate à dengue que já estão em andamento”, diz a nota.
Especialistas apontam que o principal desafio da campanha de vacinação contra a dengue é a logística, já que a empresa fornecedora do imunizante não tem capacidade de oferecer doses para toda a população a qual a vacina é indicada (4 a 59 anos). Além disso, notícias falsas e falta de percepção do risco da doença também são apontados como empecilhos.
— Não teremos quedas da doença como as vistas com outras vacinas. A vacinação para a dengue tem que ser aliada a outras estratégias de controle do vetor, já que não temos vacina para todo mundo — diz a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo.
Ela também aponta que vacinar nas escolas seria importante para aumentar a adesão. O governo, no entanto, passou a restringir a imunização contra a doença às unidades de saúde após registros de reações alérgicas.
— É bem complicado ter uma boa campanha para adolescente se você não vai até ele. Se tivéssemos uma vacinação escolar e fossemos atrás dos adolescentes com campanhas direcionadas a eles com algum atrativo, teríamos mais sucesso.
A vacinação começou em fevereiro em municípios com índices altos de transmissão da doença e hoje chega a todos os estados. Porém, não há previsão por parte do governo de expandir a faixa etária do público-alvo. A Saúde afirma que já adquiriu todo o estoque disponível de vacinas contra a dengue para 2024 e 2025. Até o final deste ano, o Brasil receberá 5,2 milhões de doses, além da doação de 1,3 milhão de doses. Isso permitirá a vacinação de 3,2 milhões de pessoas com as duas doses que completam o esquema vacinal.
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