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O lado engajado de Beth Carvalho em filme
Numa entrevista por telefone, do Rio, Pedro Bronz conta qual foi seu objetivo ao filmar o documentário Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho, que chegou aos cinemas na quinta, 2. “Queria compartilhar com o público a Beth que conheci e que não foi só uma grande artista. Foi uma mulher batalhadora, uma cidadã engajada nas grandes questões políticas e sociais”, diz.
E de onde veio essa proximidade? “Da minha mãe. Beth e ela foram colegas de escola desde menininhas. Foi uma daquelas amizades que duram a vida. Minha mãe é madrinha da filha da Beth, ela sempre foi às festas em nossa casa, nós frequentávamos a casa dela.”
Pedro lembra-se de Beth provocando seu pai. “Para de dizer bobagem.” Quando criança era um assombro para ele. Quem era aquela mulher que dizia aquelas coisas sorrindo? “No Brasil do ódio, teriam virado inimigos mortais, mas eram outros tempos. Havia respeito pelas diferenças.” Muitas vezes Pedro viu a tia munida de uma câmera, gravando imagens e sons. Durante toda a vida, foi uma mania. A (auto) documentação. Beth gravou tudo: as andanças, os encontros. Um dia, caiu a ficha para Pedro. Beth estava no hospital, ele pediu à mãe que fossem juntos visitá-la. Indagou sobre a possibilidade de usar o material na realização de um filme, um documentário.
Beth topou e Pedro Bronz foi atrás de parceria – da TV Zero. O movimento seguinte foi reunir o material. “Conseguimos recuperar cerca de 800 fitas e filmes, em torno de 2 mil horas de material. VHS, super 8, 16 mm, HD. Sempre gostei de trabalhar com material de arquivo e o de Beth, por si só, já era uma súmula das possibilidades de documentação doméstica. Digitalizamos tudo e a etapa seguinte foi ver e separar o material. Tive ajuda de um roteirista, Leonardo Bruno, um grande escritor de samba, mas montei o filme sozinho. Sabia que seria um trabalho longo, e desde o início estabeleci o prazo mínimo de seis meses para a montagem.”
CORTES
Reduzir duas mil horas para menos de duas foi um trabalho insano, mas também prazeroso. Pedro tem autocrítica suficiente para considerar Andança seu melhor trabalho, e não está enganado.
Seu filme estreou na Première Brasil do Festival do Rio, numa sessão memorável no Cine Odeon, em plena Cinelândia. Esteve depois na Mostra de São Paulo, no Festival Aruanda, de João Pessoa, na Paraíba, e no Cine-Praça da mineira Mostra de Tiradentes. Chega às salas.
Pedro ainda trabalha em dois spinoffs – uma série e um podcast. O filme resgata a trajetória da garota que surgiu para recuperar a MPB – o samba – de raiz, em oposição à música dos apartamentos. O repórter ia escrever a erudição da música dos apês.
Não seria exato. Ninguém foi mais poeta do que Agenor de Oliveira, o Cartola. Beth foi uma das responsáveis por sua redescoberta. Suas grandes fases – Nelson Cavaquinho, Cartola, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz – estão mapeadas no filme. Beth esteve na linha de frente de defesa da MPB. Fez política – em defesa de Luiz Carlos Prestes, Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva.
“No período em que o atual presidente esteve preso em Curitiba, ela se correspondeu com ele. Lula lhe escreveu duas cartas”, revela Pedro. Que, em seguida, resume: “O filme começou de trás pra frente. Sabia de onde partir, aonde chegar.” Pela personalidade da biografada, Andança é um convite ao movimento. Montado durante o Brasil do ódio, estreia no da esperança. É tempo de festejar.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão
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