As novas regras para antecipação do saque-aniversário do FGTS provocaram uma queda de 80% nas contratações em novembro, segundo levantamento da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).

De acordo com a entidade, o volume mensal concedido caiu de R$ 3 bilhões para cerca de R$ 600 milhões. O principal motivo é a exigência de valor mínimo de R$ 100 por parcela anual antecipada — responsável por 90% da retração. As mudanças foram aprovadas pelo Conselho Curador do FGTS.

As principais alterações nas regras incluem:

• Carência de 90 dias entre a adesão ao saque-aniversário e a contratação da antecipação;
• Limitação a cinco anos de parcelas até outubro de 2026, reduzindo para três anos a partir de novembro de 2026;
• Valor mínimo de R$ 100 e máximo de R$ 500 por parcela anual;
• Restrição a apenas uma operação por trabalhador, mesmo com saldo disponível.

Segundo a ABBC, as exigências afetam principalmente trabalhadores de menor renda e com saldos reduzidos no FGTS — público que utilizava a modalidade como alternativa a linhas de crédito mais caras.

A associação projeta que, mantidas as atuais condições, as concessões podem cair para apenas 5% dos níveis anteriores nos próximos meses. Para as instituições financeiras, a redução pode levar à extinção prática da modalidade, que era uma das principais linhas de crédito de menor custo do país.

Entre janeiro e outubro deste ano, a antecipação do saque-aniversário movimentou, em média, R$ 3 bilhões por mês.

Público vulnerável é o mais atingido

A ABBC destaca o perfil dos trabalhadores afetados. Dos 134 milhões de pessoas com saldo no FGTS, mais de 85 milhões estão desempregadas e, portanto, sem acesso ao Crédito do Trabalhador — novo consignado privado defendido pelo governo como substituto do saque-aniversário.

Entre os 37 milhões de aderentes ao saque-aniversário, 26 milhões já contrataram a antecipação, sendo 9 milhões desempregados. Além disso, 74% dos contratantes estão negativados, o que dificulta o acesso a outras linhas de crédito.

Mesmo entre trabalhadores empregados, a migração para o novo crédito consignado é restrita. Pesquisa com cinco instituições associadas à ABBC, responsáveis por cerca de 40% das operações, aponta que apenas 25 de cada 100 trabalhadores que anteciparam o FGTS tiveram propostas aprovadas no novo modelo. As taxas oferecidas também superam o teto de 1,79% ao mês da antecipação.

Diante da forte retração, a associação defende que o Conselho Curador reavalie pontos específicos das regras, como o piso de R$ 100 e a proibição de mais de uma operação por trabalhador. Segundo estimativas da ABBC, caso o piso fosse reduzido para R$ 50 e a limitação fosse retirada, a queda nas concessões seria de cerca de 35%, sem inviabilizar a linha.