Finanças

Empresas estruturadas para não pagar tributos têm vantagem competitiva indevida, diz Haddad

Votação de projeto que trata do assunto está prevista para esta terça-feira

Agência O Globo - 09/12/2025
Empresas estruturadas para não pagar tributos têm vantagem competitiva indevida, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados deve votar, nesta terça-feira (9), o projeto de lei que estabelece regras para punir o chamado devedor contumaz. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a medida é essencial para coibir práticas ilícitas que enfraquecem a economia. Ele destaca que empresas estruturadas para não pagar tributos acabam distorcendo a concorrência e prejudicando quem cumpre a lei.

— (O projeto é necessário para) Coibir o mau contribuinte, que não prejudica apenas a Receita Federal e, portanto, a sociedade; ele prejudica a economia. O bom contribuinte que quer seguir a lei se vê na contingência de enfrentar um concorrente completamente desleal, que usa práticas ilícitas para ganhar mercado e prejudicar as boas empresas. Esse dinheiro nem fica no Brasil; sai para fora, vira outra coisa — afirmou.

O ministro também destacou que fumo, bebidas e combustíveis são setores particularmente afetados por organizações que se valem de inadimplência sistemática para operar.

— Sabemos que fumo, bebida e combustíveis são grandes mercados e exigem atenção muito grande e, por acaso, são setores onde a tributação é elevada justamente para inibir o consumo (no caso de bebidas e fumo). É justamente aí que o devedor contumaz se instala — disse Haddad, lembrando que neste ano a Receita, em parceria com a Polícia Federal e Ministérios Públicos estaduais, deflagrou três grandes operações contra essas práticas.

Votação e articulação política

O governo trata o projeto como prioridade e quer evitar qualquer mudança no texto vindo do Senado — estratégia que impede que a proposta precise retornar à outra Casa e atrase sua implementação. O relator na Câmara, deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), já decidiu manter a redação original. Com isso, se aprovado, o texto segue diretamente para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), confirmou que há ambiente favorável à votação.

O que muda com o projeto

O PL estabelece critérios objetivos para identificar o devedor contumaz — aquele cuja inadimplência é “substancial, reiterada e injustificada”. Entre as penalidades previstas estão:

• impedimento de participar de licitações;
• proibição de receber benefícios fiscais;
• vedação de ingresso ou continuidade em recuperação judicial.

Segundo o governo, o alvo são estruturas empresariais organizadas para sonegar, e não companhias em dificuldade financeira. Paralelamente, o texto cria mecanismos de conformidade cooperativa — como os programas Confia e Sintonia — que oferecem autorregularização, classificação de risco e bônus de adimplência fiscal para empresas com bom histórico.