Finanças
Mulheres dedicam quase 10 horas semanais a mais do que homens a cuidados não remunerados, aponta estudo
Levantamento mostra que metade das mães deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho
As mulheres brasileiras dedicam, em média, 9,8 horas a mais por semana do que os homens ao trabalho de cuidado não remunerado, segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Entre as mulheres negras, essa diferença é ainda mais expressiva: elas destinam cerca de 22,4 horas semanais a essas atividades.
O levantamento revela que a desigualdade de gênero é mais acentuada nas áreas rurais. No campo, as mulheres realizam 12,4 horas a mais de trabalho de cuidado em relação aos homens, mais que o dobro da diferença observada em áreas urbanas.
Intitulado Políticas para a Corresponsabilidade no Mundo do Trabalho, o estudo traça um panorama dos impactos das responsabilidades familiares na vida profissional. Para Luana Pinheiro, diretora do Departamento de Economia do Cuidado do MDS, a sobrecarga de cuidados limita a participação das mulheres no mercado de trabalho, dificultando o acesso ao emprego, à formação profissional e à ascensão na carreira, perpetuando desigualdades estruturais.
“As jornadas de trabalho longas, com pouca flexibilidade, dificultam a compatibilização da vida pessoal, familiar e profissional”, reforça a diretora.
Metade das mães deixa o mercado após o nascimento do filho
Em nível global, as mulheres realizam 76,2% de todo o trabalho de cuidado não remunerado, dedicando 3,2 vezes mais tempo do que os homens. Isso representa 606 milhões de mulheres em idade ativa trabalhando em tempo integral em atividades de cuidado não remunerado, frente a 41 milhões de homens.
O estudo destaca ainda que metade das mulheres deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho. Enquanto isso, os homens, em média, aumentam seus rendimentos nesse mesmo período.
Diante desse cenário, especialistas apontam a ampliação das licenças maternidade, paternidade e parentais — com uso equitativo entre homens e mulheres — como medida essencial para reverter o quadro.
“A corresponsabilidade no cuidado é um pilar fundamental para a construção de sociedades mais justas e igualitárias. Sem ela, não há como garantir trabalho decente para todas as pessoas”, afirma Paz Arancibia, especialista sênior de Gênero e Não Discriminação do Escritório Regional da OIT.
Caminhos para a igualdade
A pesquisa ressalta a importância da Convenção nº 156 da OIT, que trata de trabalhadores com responsabilidades familiares e propõe medidas para garantir a conciliação entre trabalho e cuidado, sem discriminação ou penalizações no emprego. O documento já foi ratificado por 13 países da América Latina e do Caribe e, no Brasil, tramita atualmente no Congresso Nacional.
Entre as propostas para transformar a realidade dos trabalhadores com responsabilidades familiares no país, o estudo sugere políticas integradas que assegurem o direito ao cuidado, ampliação dos serviços públicos de assistência e iniciativas que incentivem a corresponsabilidade entre homens e mulheres.
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