Finanças

Dívidas acumuladas: entenda causas e consequências que vão além dos números

Muita gente, os superendividados, não conseque pagar dívidas sem comprometer necessidades básicas como moradia e alimentação

Agência O Globo - 26/10/2025
Dívidas acumuladas: entenda causas e consequências que vão além dos números

O Brasil tem 78,8 milhões de inadimplentes, segundo dados da Serasa, divulgados em agosto deste ano. Nesta reportagem, o EXTRA aborda as causas e consequências desses débitos na vida das pessoas. Muita gente, os superendividados, não conseque pagar dívidas sem comprometer necessidades básicas como moradia e alimentação.

A matéria faz parte de um guia especial sobre superendividamento, publicado neste domingo. Clicando aqui, é possível descobrir como pedir ajuda gratuita de órgãos e entidades e como mudar hábitos para entrar no azul novamente. Em uma terceira matéria, o leitor pode conhecer advogados que têm conquistado seguidores nas redes sociais explicando os direitos de devedores.

Entenda cenário

Uma pesquisa realizada pela Serasa em 2024 mostrou que os principais motivos da inadimplência no país são o desemprego (24%), os imprevistos financeiros (18%) e o empréstimo do nome a terceiros (14%). A situação, portanto, envolve variáveis econômicas e comportamentais.

— Grande parte da população não aprendeu a lidar com o dinheiro de forma consciente, e o resultado é um comportamento de consumo com base no desejo, impulso e imediatismo.Há fatores que também pesam, como doenças na família, mas, mesmo nesses casos, quando há planejamento e reserva financeira, o impacto é muito menor — avalia Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin).

As causas vão além dos números, e as consequências do endividamento, também. A Serasa revelou, em agosto deste ano, que 84% dos brasileiros reconhecem impactos de problemas financeiros na saúde mental. São afetadas: a estabilidade emocional (48%), a autoestima (44%), a energia e a disposição (32%), além da concentração no trabalho e nos estudos (30%). Sete em cada dez entrevistados contaram que já perderam o sono por causa de dívidas.

— Também há reflexos físicos, como dores de cabeça, problemas gastrointestinais e aumento da pressão arterial — conta Domingos.

Além dos acordos de renegociação, mudar hábitos é essencial para quem quer sair do superendividamento e não recair.

— Sair das dívidas é uma grande vitória, mas se manter livre delas exige mudança de hábitos, disciplina e visão de longo prazo. Nesse ponto, a educação financeira será sua maior aliada, pois o que importa não é apenas a sua renda, mas especialmente como você administra o dinheiro. As boas práticas para evitar novas dívidas incluem criar uma reserva para emergências, estabelecer metas financeiras e usar o crédito de forma segura — aponta Aline Vieira, especialista da Serasa.

Como virar o jogo

Metodologia DSOP

O EXTRA pediu a Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e fundador da DSOP Educação Financeira, um passo a passo para os superendividados saírem dessa situação. É preciso comprometimento, paciência e mudança de hábitos, mas é possível.

Diagnosticar

Segundo Domingos, é indispensável conhecer o tamanho do problema para agir com consciência. Registre todos os ganhos e gastos num período de 30 a 90 dias, incluindo pequenas e médias despesas, como cafés, aplicativos e transporte. Isso trará uma visão clara de onde o dinheiro está indo e permitirá identificar excessos e desperdícios. Além disso, liste todas as dívidas, separando as essenciais (como água, luz, aluguel e alimentação) das que têm juros altos (cartão de crédito, cheque especial e empréstimos).

Sonhar

Ter sonhos é o que dá sentido ao esforço diário. Por isso, mesmo em meio às dívidas, é importante sonhar — com a casa própria, com um curso ou outros objetivos da vida que devolvam o sentimento de esperança.

Orçar

O orçamento é o mapa para sair do superendividamento. Deve-se reservar parte da renda para as despesas essenciais, como alimentação, moradia, saúde e transporte, antes de qualquer negociação. Outra parte deve ser destinada ao pagamento de dívidas, buscando acordos que caibam no orçamento e priorizando os débitos com juros mais altos e os serviços essenciais. Também é importante poupar, mesmo que seja uma quantia simbólica.

Poupar

O valor guardado pode ser pequeno, mas representa o início de uma nova relação com o dinheiro. A pessoa deixa de ser refém do crédito e começa a conquistar liberdade. Mais do que ter dinheiro, ela passa a ter paz.

Direitos

No processo de recuperação financeira, é importante lembrar que quem contrai crédito assume o dever de cumprir com o pagamento, mas também tem direitos.

A Serasa diz que são direitos:

- Poder desistir de empréstimos feitos de forma on-line ou por telefone em até sete dias, conforme condições de cada credor;

- Receber notificação antes de ter o nome negativado;

- Receber a cobrança de forma respeitosa, sem constrangimentos ou exposições;

- Poder entrar em contato com a instituição credora para negociar a dívida;

- Ter a dívida retirada dos cadastros de inadimplentes após a quitação;

- Questionar a dívida e recorrer à Justiça, quando necessário; e

- Ter acesso a todas as informações da dívida de forma clara, objetiva e transparente.