Esportes
Conheça o time de futebol que parou de cobrar por ingressos na França. Seu time deveria fazer o mesmo?
Paris F.C. anunciou que pararia de cobrar entradas aos torcedores em novembro do ano passado
Já imaginou se seu time parasse de cobrar pelos ingressos das partidas? Foi isso que o Paris F.C., da França, fez. Em novembro do ano passado, o time anunciou que estava abolindo os preços dos ingressos pelo restante da temporada, feito inusitado já que a receita dos bilhetes é um fator importante no orçamento dos clubes. Havia algumas exceções: uma taxa nominal para os torcedores que apoiassem o time visitante e tarifas de mercado para aqueles que usassem camarotes de hospitalidade.
A experiência pode ser vista na prática no empate entre o Paris F.C. e o St.-Étienne em março deste ano. Houve muito pouco para se lembrar da ocasião dentro das quatro linhas: nenhum gol e poucos chutes — um empate monótono e encharcado de chuva entre a terceira equipe de futebol mais bem-sucedida da capital francesa e o gigante mais sonolento do país.
Isso foi em campo. Fora dele, os cerca de 17.000 torcedores presentes podem considerar-se parte de um exercício filosófico que pode desempenhar um papel na formação do futuro do esporte mais popular do mundo. Todos os outros, no entanto, podiam ir ao Stade Charléty — o estádio que o Paris F.C. aluga da prefeitura da cidade — de graça.
Ao fazer isso, o clube iniciou o que equivale a um experimento de ação ao vivo examinando algumas das questões mais profundas que afetam os esportes na era digital: a relação entre custo e valor; a conexão entre os torcedores e seus times locais; e, mais importante, o que é comparecer a um evento em um momento em que os esportes são apenas mais um braço da indústria do entretenimento.
No Paris F.C., o pensamento era mais pragmático do que elevado. O futebol parisiense é dominado pelo Paris St.-Germain, hoje com uma hegemonia na França. O Paris F.C., por outro lado, é um time de segunda divisão sem destaque, jogando em casa alugada, e sua história é, nem mesmo, comparável ao Red Star, tradicionalmente o segundo time da cidade.
Ao abrir suas portas gratuitamente, o clube acreditava que poderia aumentar as presenças, atrair famílias e nutrir alguma lealdade a longo prazo. Mas, também estava preocupado em informar às pessoas que estava lá.
— Foi uma espécie de estratégia de marketing. Devemos ser diferentes para nos destacarmos na Grande Paris. Foi uma boa oportunidade para falar sobre o Paris F.C. — disse Fabrice Herrault, diretor-geral do clube.
Meses depois, a maioria das métricas sugere que a estratégia funcionou. As multidões aumentaram em mais de um terço. Os jogos realizados em horários atrativos para crianças em idade escolar foram os mais frequentados, indicando que o clube está tendo sucesso em atrair um público mais jovem. Os ingressos do nunca foram tão caros e, um torcedor que frequenta há uma década chamado Aymeric Pinto disse que os participantes estavam pagando o equivalente a apenas cerca de US$ 6, mas abolir até mesmo essa barreira rasa fez uma diferença perceptível.
O jogo contra o St.-Étienne atraiu cerca de 17.000 espectadores — na maioria não pagantes. Esse número foi um ponto alto para o experimento, mas também um pouco enganador: na década de 1970, o St.-Étienne era o time preeminente da França, e tem uma base de fãs considerável para combinar. Dentro do estádio, o número de camisas verdes denunciava esse fato. Mesmo em áreas reservadas para os torcedores da casa, muitos tinham vindo para apoiar os visitantes. "Olhe ao redor", disse Thomas Ferrier, sua camisa do St.-Étienne apenas visível sob seu casaco de chuva. "O lugar todo é verde."
Ainda assim, para o Paris F.C., o padrão geral tem sido encorajador. A estratégia de ingressos gratuitos custará cerca de US$ 1 milhão ao clube — uma combinação de receita perdida e despesas adicionais com segurança e equipe —, mas a linha da empresa e o feedback dos torcedores é que valeu a pena.
Os resultados positivos se alinham com a experiência do Fortuna Düsseldorf, um clube alemão de segunda divisão que foi pioneiro na abordagem de ingressos gratuitos. No ano passado, o Fortuna anunciou que permitiria que os fãs entrassem em algumas partidas gratuitamente, o início de um programa piloto de cinco anos — financiado por acordos de patrocínio — que poderia levar à abolição completa das taxas de ingresso.
O Fortuna já realizou duas das três partidas gratuitas planejadas para a fase piloto. Para a primeira, o clube disse ter recebido tantos pedidos que poderia ter lotado seu estádio com capacidade para 52.000 pessoas duas vezes. Para a segunda, poderia ter feito isso três vezes. Mais significativo, porém, é o impacto fora desses jogos.
— Nossa média de público aumentou de 27.000 para 33.000. Nossas vendas de mercadorias aumentaram 50%. Nossa receita de patrocínio aumentou 50%. Alcançamos um número recorde de sócios do clube — disse Alexander Jobst, diretor-executivo do clube.
A correlação não implica necessariamente causalidade: — É difícil vincular com absoluta certeza aos jogos gratuitos — disse o Sr. Jobst. Porém, não há outra explicação particularmente convincente. O Fortuna tradicionalmente oscila entre as primeiras e segundas divisões da Alemanha; mantém a esperança de conquistar a promoção nesta temporada. Ainda assim, está atraindo mais fãs do que quando venceu a segunda divisão com facilidade em 2018.
A justificativa do Fortuna era mais ideológica do que a do Paris F.C. Como todos os times de futebol alemães, é de propriedade de seus membros, e o clube viu permitir que os fãs entrassem de graça como uma maneira de aprofundar sua conexão com sua cidade e garantir que ninguém fosse excluído de assistir
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