Esportes
Artigo: O esporte como plataforma para a promoção da igualdade de gênero
Que a data de hoje, o Dia do Esporte para o Desenvolvimento e a Paz, represente um marco
Celebrado em 6 de abril, o Dia do Esporte para o Desenvolvimento e a Paz ressalta o potencial do esporte para promover transformação social, acelerar os objetivos de desenvolvimento sustentável e reduzir desigualdades, especialmente de gênero. A data foi criada pela ONU em 2013 em alusão à abertura da primeira Olimpíada da Era Moderna. Além de simbolizar a renovação dos valores olímpicos, a efeméride nos convida a refletir sobre os caminhos para tornar o esporte um ambiente mais seguro, inclusivo e igualitário para meninas e mulheres.
Por seu potencial transformativo e por ensinar habilidades como autonomia, resiliência e confiança, o esporte tem sido uma ferramenta estratégica para a ONU Mulheres na promoção da igualdade de gênero e do empoderamento de meninas e mulheres em todo o mundo. Mulheres no esporte costumam desafiar normas sociais e papéis de gênero adversos, servem como modelos de referência para a sociedade e usam suas vozes para impulsionar o discurso da igualdade em diversas plataformas.
Apesar de triunfos recentes, como a participação igualitária entre atletas homens e mulheres nos Jogos Olímpicos, elas ainda enfrentam desafios sistêmicos para acessar e desfrutar do esporte como direito. As barreiras começam pela falta de incentivo e oportunidades para que participem da prática esportiva de forma plena e segura. É na adolescência que as meninas mais abandonam o esporte, impactadas pelo preconceito e por estereótipos nocivos de gênero, como ideias de que certas modalidades não seriam adequadas para mulheres e que poderiam deixar o corpo mais “masculinizado”.
Esse problema passa pela atuação da mídia esportiva, que historicamente deu menos espaço ao esporte feminino, sexualizou atletas e colaborou para a construção desses papéis de gênero. A pouca visibilidade, que implica em menos mulheres atletas como modelos de referências e na representação do esporte feminino como algo de menor importância, desencoraja meninas a ver no esporte um caminho em que poderiam prosperar. Além disso, a ausência de mulheres em posições de liderança e gestão aprofunda a falta de oportunidades, capacitação e investimentos na categoria.
Mas um dos problemas mais urgentes é a violência que sistematicamente afasta meninas e mulheres do esporte. A falta de posicionamento dos clubes e federações diante de casos recentes de violência, como levantamento do Globo Esporte que revelou que 52,1% das futebolistas já sofreram assédio, e o silêncio diante das condenações por estupro envolvendo dois jogadores afamados, mostram que é urgente promover conscientização e ampliar o debate -- pois os homens que ainda dominam esses espaços muitas vezes não têm as ferramentas necessárias para se posicionar e endereçar adequadamente as ocorrências.
Os desafios são complexos e intrincados e requerem um esforço conjunto para promover a mudança cultural necessária. Desde 2015, ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional têm atuado juntos para assegurar a participação integral das mulheres em todas das áreas do esporte. A atual fase da parceria trabalha junto a organizações esportivas, governos e mídia para a promoção de políticas e práticas que sejam sensíveis ao gênero.
A iniciativa “Esporte para a Geração Igualdade” é um chamado para que o ecossistema esportivo se una a esses esforços e multiplique o impacto da igualdade de gênero, atuando em torno de cinco áreas prioritárias: promover mais mulheres na liderança, prevenir e responder à violência baseada em gênero, fechar a lacuna de investimento no esporte feminino, promover representação livre de preconceitos na mídia e oferecer oportunidades iguais para meninas no esporte e na atividade física, além de reportar o progresso anual.
Que esta data represente um novo marco para refletirmos coletivamente sobre o esporte que queremos construir. Que possamos inspirar lideranças a agir em prol de um ecossistema esportivo em que meninas e mulheres possam participar e desfrutar em igualdade de condições.
*Ana Carolina Querino é Representante Interina da ONU Mulheres no Brasil
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