Economia

Ações da Braskem desabam após anúncio de avaliação sobre capital

Papéis caem 14% na B3, em meio a crise setorial, endividamento elevado e impacto de tragédia ambiental em Maceió

Redação 27/09/2025
Ações da Braskem desabam após anúncio de avaliação sobre capital
- Foto: Arquivo

As ações da Braskem registraram forte queda nesta sexta-feira (26) na B3, a bolsa de valores de São Paulo, depois que a companhia anunciou a contratação de assessores financeiros e jurídicos para analisar alternativas voltadas à sua estrutura de capital. No início da tarde, os papéis recuavam 14%, cotados a R$ 7,09 — o menor valor intradia desde março de 2015.

O comunicado ocorre em meio a um cenário de fragilidade no setor petroquímico mundial, que atravessa um ciclo de baixa prolongado. A empresa afirmou que a medida busca “otimizar a estrutura de capital”, mas não detalhou quais mudanças podem ser adotadas.

Analistas do UBS BB avaliaram que a decisão reforça o quadro desafiador da Braskem, que lida com margens pressionadas e depende de fatores externos, como a elevação de tarifas de importação e a aprovação do REIQ/Presiq, para conter o consumo de caixa no curto prazo. O banco reduziu a recomendação das ações de “compra” para “neutra” e cortou o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10.

A desvalorização também reflete a deterioração na percepção de risco da companhia. Na semana passada, a agência S&P rebaixou a nota de crédito da petroquímica de “BB-” para “B+”, com perspectiva negativa, apontando maior probabilidade de inadimplência.

Controlada pela Novonor (antiga Odebrecht), em recuperação judicial desde 2019, a Braskem enfrenta dívidas bilionárias e pressões judiciais. A empresa é responsabilizada pela extração de sal-gema em Maceió (AL), que causou o afundamento do solo em diversos bairros e obrigou a retirada de cerca de 60 mil moradores. O episódio, agravado pelo desabamento de uma mina sob a lagoa Mundaú em 2023, intensificou a crise ambiental e manchou a imagem da companhia.

Além disso, a parceria com a mexicana Idesa enfrenta dificuldades, enquanto a alavancagem da Braskem chegou a 10,59 vezes no primeiro semestre, com dívida bruta de US$ 8,5 bilhões (R$ 45,4 bilhões). O caixa da empresa, ao fim de junho, somava US$ 1,7 bilhão (R$ 9 bilhões), além de uma linha de crédito rotativo de US$ 1 bilhão disponível até 2026.

Em agosto, o presidente Roberto Ramos reafirmou a estratégia de reestruturação baseada no uso de gás natural e na aposta em químicos de origem renovável. Ele descarta, por ora, a venda de ativos, apesar das pressões.

O futuro da Braskem permanece incerto: além do ambiente adverso no mercado petroquímico e do alto endividamento, a indefinição sobre a venda da fatia da Novonor e os efeitos da crise ambiental em Alagoas continuam sendo entraves decisivos para a companhia.