Economia
Censo 2022: o que é bônus demográfico. E como está o Brasil neste quesito?
País se aproxima do auge da população em idade ativa. Momento histórico é fundamental para ajudar no desenvolvimento, como foi o caso da Coreia do Sul. Mas educação brasileira é entrave
Os novos dados do Censo 2022 que o IBGE divulgou nesta sexta-feira indicam que o Brasil está perto do auge do bônus demográfico. Trata-se do momento histórico em que a parcela da população adulta (entre 15 e 64 anos), em idade de trabalhar, é a maior em relação ao número de idosos e crianças e ao total da população.
Mas por que esta estatística é importante?
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Economistas explicam que o bônus demográfico ajuda um país a alcançar crescimento econômico e bem-estar para a sua população. Com uma parcela maior de pessoas trabalhando e gerando riquezas – e um número menor de idosos e crianças para sustentar – fica mais fácil alcançar a prosperidade e melhorar a educação, saúde e condições de vida da população.
Enriquecer antes de envelhecer
E ter mais mão de obra disponível é um importante impulso para o crescimento econômico de um país.
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— A primeira fase do bônus demográfico é quando a mortalidade cai e a natalidade também, que é muito positiva, pois aumenta a população adulta em idade de trabalhar e diminui o percentual de pessoas dependentes (crianças e idosos). Se o país consegue enriquecer antes de envelhecer gera bem-estar, diminuiu a pobreza e a fome. O Japão (onde a população cai há mais de uma década) conseguiu fazer isso — explica o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Estatística (Ence).
Ele explica que o Brasil está no pico da população em idade de trabalhar, entendida como de 15 a 64 anos, que representa 69,3% do total de habitantes. Mas essa parcela deve começar a cair. A de 15 a 59 anos já está diminuindo, diz Eustáquio Diniz:
"A janela vai começar a se fechar. Teremos mais dez a 15 anos no máximo com essa população em idade de trabalhar aumentando"
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Veja, abaixo, como aumentou a parcela da população brasileira em idade ativa nas últimas décadas, ou seja, o percentual dos brasileiros entre 15 e 64 anos em relação ao total:
'Brasil não está aproveitando plenamente'
Países que deram um salto de desenvolvimento, saindo da pobreza para terem renda elevada, conseguiram isso ao aproveitarem melhor esse momento do bônus demográfico. O exemplo mais citado na literatura econômica é o da Coreia do Sul.
Eustáquio lembra que, além do Japão e da Coreia, o caso da China, que está começando a ver sua população diminuir, mas antes disso, conseguiu dar um salto na renda per capita para US$ 20 mil em paridade de poder de compra.
Mas, para que este salto fosse possível, é fundamental que os jovens e adultos tenham educação de qualidade. A força de trabalho precisa ser qualificada para garantir ganhos de produtividade ao país. E é esse aspecto que preocupa no Brasil.
— O primeiro bônus aumenta muito a quantidade de pessoas em idade de trabalhar. Depois, com um nível maior de educação e saúde, a produtividade da economia cresce, num segundo bônus. O Brasil não está aproveitando plenamente o primeiro bônus demográfico nem o segundo, senão nossa renda per capita seria muito maior que os US$ 15 mil atuais.
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Apesar dos enormes avanços em acesso à educação que o país obteve nas últimas décadas, a qualidade do ensino e o nível de escolaridade do Brasil ainda ficam aquém da média de outros países em desenvolvimento e de renda similar à brasileira.
O pesquisador lembra que há cerca de 7 milhões de jovens entre 15 e 24 anos que não trabalha nem estuda "duas vezes a população do Uruguai", o que impede o aumento da produtividade. Ainda há cerca de 15% de jovens de 15 a 17 anos fora da escola.
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