Economia

IBGE: pesquisa inédita mostra que país tem 2,1 milhões de trabalhadores por aplicativo

Jornada é maior e ganho por hora é até 37% menor em relação aos que prestam o mesmo tipo de serviço fora das plataformas. Estudo também constatou 'autonomia limitada' do trabalhador em relação ao app

Agência O Globo - EXTRA 25/10/2023
IBGE: pesquisa inédita mostra que país tem 2,1 milhões de trabalhadores por aplicativo

Homem, com ensino médio completo ou superior incompleto, com idade entre 25 e 39 anos. Longas jornadas de trabalho - 46 horas por semana, contra uma média de 39,5 horas dos demais trabalhadores brasileiros.

Canais do EXTRA no WhatsApp: Assine o canal Emprego e Concursos e receba as principais notícias do dia

Pesquisa: Trabalhadores por aplicativo: somente 35,9% contribuem para Previdência, aponta IBGE

E um rendimento que chega a ser 37% menor do que quem trabalha, na mesma função, mas sem ser em aplicativos.

Pela primeira vez, o IBGE fez um levantamento dos brasileiros que trabalham para aplicativos. E encontrou 2,1 milhões de trabalhadores que obtêm sua principal fonte de renda nessas plataformas.

Desse total, 1,5 milhão atua como motoristas de serviços de passageiros ou entregadores de comida e produtos. São homens em sua imensa maioria (81,3%), com escolaridade elevada (61,3% têm ensino médio completo ou superior incompleto) e jovens (48,4% têm entre 25 e 39 anos).

O levantamento usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do IBGE, numa cooperação com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), e foi divulgado nesta quarta-feira.

Os dados apontam que os chamados trabalhadores "plataformizados" já representam 2,4% da força de trabalho brasileira. A pesquisa exclui o setor público e os militares, considera apenas os trabalhadores do setor privado, tanto no mercado formal como informal.

Considerando a renda média mensal (R$ 2.645), os trabalhadores plataformizados ganham, em média, 5,4% a mais que o restante da população ocupada (R$ 2.510). Mas as jornadas são mais longas do que a média dos demais trabalhadores do setor privado.

Seleção: Ministério do Meio Ambiente fará concurso com 98 vagas. Inscrições começarão no dia 3 de novembro

Ganho menor por hora

Assim, considerando a renda por tempo de trabalho, quem atua por aplicativo recebe R$ 13,30 por hora trabalhada - contra R$ 14,60 dos demais.

E o ganho por hora chega a ser 37% inferior ao de trabalhadores ocupados na mesma função fora das plataformas. É o que ocorre com os entregadores, que ganham em média R$ 8,70 por hora nas plataformas. Quem trabalha com entrega em outros serviços, sem ser via apps, tem ganho maior, de R$ 11,90.

No caso dos motoristas de passageiros, o ganho médio por hora é de R$ 11,80 nas plataformas. Os motoristas que não têm esses apps como fonte principal de renda, recebem remuneração média de R$ 13,60 por hora trabalhada. Ou seja, os trabalhadores "plataformizados" ganham em média 15% a menos.

Previdência Social: INSS: 452 mil pessoas já pediram auxílio-doença pela internet, sem a necessidade de perícia

Longas jornadas

Segundo o IBGE, quem depende das plataformas tem, em média, uma jornada semanal com 6,5 horas a mais que a dos demais trabalhadores brasileiros, formais e informais, do setor privado. São em média 46 horas por semana.

Aos 55 anos, Julio César Ribeiro, trabalha todos os dias das 11h às 22h pedalando sua bicicleta para fazer entregas. Ele começou a atuar como entregador de aplicativo em abril de 2022, após dois anos desempregado. Morador do Andaraí, na Zona Norte do Rio, ele conta que lida diariamente com o medo de ser atropelado.

– Tem pessoas que fazem maldade, jogam o carro em cima. A gente fica muito vulnerável. Se cair e quebrar a perna e tiver que ficar dois meses sem trabalhar, você não ganha nada. E é muito sacrifício, não tem hora de comer de beber água, para ir ao banheiro é uma loucura. A gente ganha por entrega, se você não entregar, você não ganha.