Economia

Limite no parcelamento sem juros com cartão de crédito pode levar 118 milhões de consumidores a reduzirem compras, diz pesquisa

Banco Central sugeriu que sejam no máximo 12 prestações; grupo de trabalho discute opções para reduzir juros do rotativo

Agência O Globo - GLOBO 18/10/2023
Limite no parcelamento sem juros com cartão de crédito pode levar 118 milhões de consumidores a reduzirem compras, diz pesquisa
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Se houver limitação do número de parcelas no financiamento com cartão de crédito, como chegou a sugerir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os comerciantes estimam em queda de vendas e estimam que 77% dos consumidores reduziriam suas compras, o que equivale a 118 milhões de consumidores. Este é o resultado de uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, que realiza pesquisas de mercado.

Segundo levantamento, 72% dos comerciantes brasileiros acreditam que teriam queda em suas vendas se o número de parcelas sem juros no cartão de crédito fosse limitado. A pesquisa foi feita no contexto das discussões entre o Banco Central e um grupo de trabalho formado por bandeiras de cartão, bancos, empresas de adquirência (as maquininhas de crédito e débito) para encontrar soluções de como reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito. Os bancos defendem também revisão do modelo de parcelamento sem juros.

A pesquisa foi feita com comerciantes das cinco regiões do Brasil, formais e informais, com faturamento de até R$ 5 milhões ano. O Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, alertou para os impactos que o fim do parcelamento sem juros terá no consumo e nas vendas.

— O parcelamento sem juros incentiva compras e o aumento do tíquete médio de vendas, atraindo consumidores que preferem distribuir o pagamento ao longo de parcelas sem encargos adicionais. Quaisquer restrições a essa forma de pagamento terão enormes implicações no consumo de bens duráveis, por exemplo — avalia.

Na segunda-feira, em reunião realizada pelo Banco Central e os demais envolvidos nessa cadeia foi sugerida a possibilidade de fixar em 12 o número máximo de parcelas em uma compra sem juros com cartão. Tadros acredita que muitos consumidores devem reconsiderar suas decisões de compra, podendo optar por adiar ou reduzir gastos caso isso ocorra, resultando em uma diminuição da frequência de compras e uma redução nos volumes de transações para os comerciantes.

O Instituto locomotiva também pesquisou junto aos consumidores quais seriam os impactos da limitação do número de parcelas e descobriu que 77% dos consultados acreditam que consumiriam menos. Na prática, diz o instituto, seriam 117,8 milhões de pessoas reduzindo suas compras de produtos e serviços.

Diversos setores da economia costumam parcelar em mais de 12 vezes. Este, por exemplo, é o caso das lojas de material de construção, que costumam dividir as compras em 18 prestações, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Geraldo Defalco.

A apuração do Instituto Locomotiva foi feita entre os dias 30 de agosto e 22 de setembro de 2023 com 800 comerciantes. Foi encomendada pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços (Afrac), Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.