Economia

Ozempic vai reduzir a venda de alimentos? Banco estima queda de 1,2%, fabricantes rebatem

Outro estudo prevê que 7% dos americanos usarão medicamentos deste tipo até 2035 e que diminuirão em até 30% ingestão diária de calorias

Agência O Globo - GLOBO 16/10/2023
Ozempic vai reduzir a venda de alimentos? Banco estima queda de 1,2%, fabricantes rebatem
Ozempic - Foto: Arquivo/CFF

Na semana passada, ações de várias empresas de alimentos, como PepsiCo e Mondelez, caíram após o CEO do Walmart nos EUA, John Furner, afirmar que a gigante de supermercados já notava uma "ligeira queda" no consumo de alimentos entre seus clientes que usavam medicamentos como Ozempic e Wegovy - originalmente prescritos para tratar diabetes, mas que têm sido adotados para emagrecer.

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Os papéis da Mondelez chegaram a cair 7%. Executivos da Pepsi, cujas ações caíram 5%, correram para refutar as análises mais pessimistas:

- Até o momento, o impacto é insignificante em nosso negócio - disse o diretor executivo da PepsiCo, Ramon Laguarta,

Recentemente, o banco britânico Barclays estimou que o uso generalizado de medicamentos contra a obesidade poderia levar a uma redução do volume de vendas de até 1,2% para as empresas de alimentos.

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Emily Field, analista do Barclays, disse que os efeitos colaterais do medicamento seriam amenizados caso os pacientes mantivessem uma dieta de alimentos frescos e saudáveis.

- Os clínicos indicaram que (o medicamento) transforma a relação das pessoas com a comida, muito mais do que com os exercícios - disse Emily em entrevista ao Financial Times.

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Até o momento, não há estudos significativos que demonstrem se tais medicamentos alteram ou não o apetite das pessoas por alimentos específicos. Mas os médicos e analistas descobriram que os pacientes estavam mais propensos a reduzir o consumo de alimentos com alto teor de açúcar e gordura, como pães, biscoitos, bebidas açucaradas e álcool.

Maior impacto em fabricantes de snacks e guloseimas

Os analistas do Morgan Stanley avaliam que os fabricantes de guloseimas e snacks, como Hershey's, Mondelez, Cadbury, e Hostess, fabricante de Twinkies, têm maior probabilidade de sofrer impactos negativos, aumentando a pressão sobre eles para que reformulem seus portfólios e se concentrem em produtos mais saudáveis.

Nos últimos anos, empresas como a Unilever e a Nestlé foram pressionadas pelos investidores a estabelecer metas mais ambiciosas para as vendas de alimentos saudáveis.

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De acordo com um estudo recente do Morgan Stanley, a previsão é de que o número de pacientes que tomam esses medicamentos como estratégia para emagrecer cresça quase cinco vezes, chegando a 24 milhões de pessoas, ou 7% da população dos Estados Unidos, até 2035.

As pessoas que tomam esses medicamentos provavelmente reduzirão sua ingestão diária de calorias em 20% a 30%, acrescentaram.

- O impacto será maior nas empresas onde há uma grande concentração de snacks em seus portfólios - disse ao jornal britânico Financial Times Pamela Kaufman, analista do Morgan Stanley, acrescentando que as empresas que fabricam alimentos para controle de peso, como barras de proteína e shakes, poderiam se beneficiar, já que os pacientes tendem a buscar produtos considerados mais saudáveis.

Cerca de 42% da população adulta dos EUA é obesa, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, e, portanto, estaria qualificada para usar esses medicamentos. Mas o acesso a eles dependerá se os seguros de saúde no país estarão dispostos a cobrir os custos desses remédios. E, ainda, se a fabricante Novo Nordisk será capaz de aumentar rapidamente a produção dos medicamentos.

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Até o momento, o Wegovy foi lançado apenas nos EUA e em alguns mercados da Europa, incluindo o Reino Unido e a Dinamarca, onde os suprimentos ainda são limitados.

Mercado de US$ 140 bilhões

Mas Evan Seigerman, analista do banco de investimentos canadense BMO, prevê que todo o mercado de medicamentos para perda de peso e diabetes acabará valendo entre US$ 130 bilhões e US$ 140 bilhões.

- É provável que a adoção desses (medicamentos) seja bastante lenta... eles são obviamente muito caros e são medicamentos injetáveis - ponderou o diretor financeiro Hugh Johnston daPepsiCo ao Financial Times.