Economia

Nobel de 2023 bate recorde de cota de premiação entregue a mulheres

Parcela de 47% do valor distribuído neste ano vai para quatro vencedoras; no recorde anterior, em 2009, cinco mulheres repartiram 42% dos prêmios

Agência O Globo - GLOBO 09/10/2023
Nobel de 2023 bate recorde de cota de premiação entregue a mulheres
Nobel de 2023 bate recorde de cota de premiação entregue a mulheres - Foto: Reprodução

Com o anúncio do Nobel de Economia hoje para americana Claudia Golding, a edição de 2023 do Prêmio bateu o recorde de cotas de premiação entregues a mulheres. Quatro vencedoras vão repartir uma parcela equivalente a 47% da premiação anual distribuída pela fundação.

Duas delas (Goldin e a iraniana Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz), receberão cada uma 11 milhões de coroas suecas (US$ 1 milhão) distribuídos pela fundação que organiza o prêmio. A bióloga molecular Katalin Karikó receberá metade do prêmio de Medicina, e a física Anne l'Huilllier receberá um terço do valor concedido em sua categoria.

Os prêmios Nobel de 2023

Economia: 'Nunca teremos igualdade de gênero até que tenhamos equidade entre os casais', diz vencedora do Nobel

Paz: Narges Mohammadi, ativista da luta por direitos da mulher no Irã, ganha o Prêmio Nobel

Literatura: Nobel premia o norueguês Jon Fosse, que escreve sobre questões existenciais

Química: Tecnologia dos 'pontos quânticos', presente em telas coloridas, é vencedora do prêmio Nobel

Física: Nobel vai para trio que criou pulsos ultrarrápidos de luz para estudar elétrons

Medicina: Cientistas que descobriram como fazer vacinas de RNA ganham o Nobel

O ano de 2023 não foi aquele em que mais mulheres venceram. Em 2009 havia cinco ganhadoras entre os nomes anunciados, mas como só houve uma ganhadora solitária, a cota de premiação entregue a mulheres somou 42%. (A fundação reparte o prêmio em no máximo três ganhadores.)

O Prêmio Nobel nunca chegou a entregar mais que metade das cotas a mulheres. Neste ano a Fundação Nobel entrega sua milésima cota de premiação, e só 65 dos premiados até hoje foram mulheres. (Um total de 905 homens foram premiados, e os outros 30 foram concedidos a organizações, não a indivíduos, na categoria Paz.)

Clique aqui se não estiver vendo o painel acima.

A concessão do prêmio a Golding, que foi pioneira em estudos sobre desigualdade de gênero no mercado de trabalho, marca de certa forma esse desequilíbrio também no Nobel. Professora da Universidade Harvard, ela foi só a terceira mulher a vencer na categoria Economia.

Na história de longo prazo do prêmio, a lacuna entre homens e mulheres está diminuindo, mas devagar. Ainda é comum que ocorram anúncios da premiação só com homens, como o de 2017, quando 11 homens foram premiados, e nenhuma mulher.

O Nobel reflete não apenas desigualdades de gênero, mas as raciais. Só 17 ganhadores até hoje eram negros (dos quais quatro eram mulheres), quase todas no Nobel da Paz. Nas categorias de ciências, o único negro a ganhar um prêmio foi o economista Arthur Lewis, de Santa Lúcia. Em Medicina, Física e Química nunca houve um ganhador.

Clique aqui se não estiver vendo o painel acima.

A desigualdade regional também se reflete no prêmio, com países desenvolvidos abocanhando a maioria das cotas de premiação. Um quarto de todas as cotas entregues até hoje foram para pessoas nascidas nos Estados Unidos, e 10% delas no Reino Unido.

Os EUA são o país campeão em todos os prêmios, exceto em literatura, que foi concedido mais a franceses do que americanos. A única pessoa nascida no Brasil a vencer foi Peter Medawar (ganhador em Medicina em 1960), que no entanto é cidadão britânico em tinha pouca ligação com seu país natal.

O Nobel existe desde 1901, com o prêmio de Economia tendo sido instituído em 1969. Até hoje foram distribuídos 621 prêmios, e 47 deixaram de ser entregues, por razões diversas. Durante as duas grandes guerras do século 20, a premiação chegou a ser totalmente interrompida.