Economia

Morre a primeira mulher a ocupar um cargo na diretoria do Banco Central

Tereza Grossi foi servidora de carreira e diretora de Fiscalização do Banco Central

Agência O Globo - GLOBO 22/09/2023
Morre a primeira mulher a ocupar um cargo na diretoria do Banco Central

Morreu na última quinta-feira, aos 74 anos, a primeira mulher que ocupou um cargo de direção no Banco Central. Tereza Grossi foi diretora de Fiscalização do Banco Central, cargo que exerceu entre março de 2000 e março de 2003, nas gestões dos presidentes Armínio Fraga e Henrique Meirelles.

Grossi era servidora de carreira do BC quando foi escolhida para a posição de destaque. O ex-presidente do BC Armínio Fraga afirmou que ela teve papel fundamental na modernização da regulação do setor, ocorrida a partir dos anos 1990.

— Conheci Tereza logo após assumir o cargo. Ela era Chefe Adjunta do Departamento de Fiscalização e, estando ausente seu chefe, me procurou para relatar o caso de um banco (o Crefisul) que havia quebrado antes da crise cambial do início de 1999. A área de fiscalização aguardava uma luz verde para a liquidação, que vinha sendo postergada, imagino que para não causar mais marolas. O momento ainda era bastante tenso. Pedi uma recomendação, que veio sem quicar: liquidar. Totalmente convencido, e para satisfação dela, creio, topei. Deu certo, como tudo mais que ela fez nos quase quatro anos de trabalho que acompanhei de perto — contou Armínio Fraga.

Fraga disse ainda que convidou Grossi para ocupar o cargo na direção do BC pouco tempo depois, em substituição a Luiz Carlos Alvarez, que deixou a instituição em meio a CPI dos Bancos. O ex-presidente do BC contou ainda que ter a primeira mulher na diretoria foi motivo de alegria geral.

O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também exaltou o trabalho de Tereza Grossi.

— A Tereza Grossi foi uma profissional excepcional com senso de dever, exata noção de suas responsabilidades e foco no resultado. Prestou um grande serviço ao Banco Central e ao país.

Apesar da admiração dos pares, a ex-diretora do BC passou por suspeitas de crimes financeiros, foi investigada por quase 9 anos e absolvida em 2008. Grossi participou de uma tentativa de salvamento dos bancos Marka e FonteCindam, em 1999. Para evitar a liquidação das instituições, Tereza Grossi autorizou a venda mais barata de dólar para os bancos. A operação não evitou a derrocada das empresas e gerou prejuízo enorme ao governo brasileiro. Ao final das investigações, a justiça concluiu que Grossi apenas fez seu trabalho, cumprindo ordens.

Contadora e administradora, Tereza Grossi não teve a causa da morte divulgada. Depois de deixar o BC, ela trabalhou no Itaú, no comitê de auditoria da B3, na Itautec, Itaúsa e Duratex. Grossi se formou em Ciências Contábeis e Administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). O velório ocorrerá na tarde desta sexta-feira, em São Paulo.

“Tereza Grossi foi a primeira mulher a ocupar um cargo de direção do Banco Central, e deu contribuição valiosa no processo de modernização e profissionalização dos trabalhos da área de supervisão. Neste momento de dor, a Diretoria do Banco Central expressa seus sinceros sentimentos de pesar aos familiares, amigos e colegas de trabalho de Tereza”, disse o BC em nota.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também lamentou a morte de Tereza Grossi.

“A Febraban estende seus votos de solidariedade e condolências à família e aos amigos de Tereza Grossi”, diz a nota.