Economia

Após corte da Selic, Banco Central descarta acelerar queda dos juros

Taxa básica está agora em 12,75% ao ano, a segunda queda consecutiva

Agência O Globo - EXTRA 21/09/2023
Após corte da Selic, Banco Central descarta acelerar queda dos juros
Banco central - Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

O Banco Central reduziu ontem, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, como já esperado pelo mercado, de 13,25% para 12,75% ao ano. Foi a segunda queda consecutiva, e o BC indicou, no comunicado, que deve manter esse ritmo de cortes. Mas economistas ouvidos pelo EXTRA avaliam que a questão fiscal ainda pode ser um limitador para o BC acelerar a queda dos juros este ano e em 2024.

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“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”

Para o economista Luis Otávio Leal, da gestora G5 Partners, esse trecho do comunicado praticamente “tirou do jogo” um corte de 0,75 ponto em dezembro, como alguns economistas previam.

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No comunicado, o BC avalia que o cenário externo ficou mais complexo, com os recentes aumentos de juros em vários países, além da desaceleração da economia chinesa.

Risco fiscal no horizonte

O BC também ressaltou que o governo precisa focar no cumprimento das metas fiscais. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.”

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Para a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitoria, esse recado se deve ao fato de haver, no governo, quem defenda afrouxamento das metas do ano que vem:

— Esse comentário sobre a importância da execução das metas está ligado a essa discussão sobre revisão de metas e como isso pode impactar nas expectativas (do mercado).

Já Sérgio Goldenstein, economista-chefe Warren Rena, avalia que o BC elevou o tom:

— O recado está implícito de que a execução fiscal é importante e que, caso a meta não seja concretizada, pode haver uma desancoraragem ainda maior das expectativas. O Copom aumentou o tom quanto a dois riscos: ambiente externo e questões fiscais.

O economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto, destaca que o BC não entrou na discussão se o governo vai cumprir ou não a meta de déficit zero em 2024, mas mantém o fator fiscal no horizonte:

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— O risco fiscal está no horizonte do mercado e do BC. Mas acredito que o Copom não quer entrar nessa discussão e colocar alguma manifestação explícita sobre esse risco nos comunicados, já que o governo vem falando em zerar o déficit.

O BC também citou a resiliência da inflação de serviços como um dos “riscos de alta para o cenário inflacionário.”

Petróleo é dúvida

Outro ponto importante foi a sinalização de novos cortes “de mesma magnitude” este ano. As próximas reuniões serão em 31 de outubro e 1º de novembro, e nos dias 12 e 13 de dezembro. O Boletim Focus, que reúne projeções do mercado, é que a Selic encerre o ano a 11,75%. Ou seja, haveria mais dois cortes de 0,5 ponto.

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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ressalta que o fato de a decisão de ontem ter sido unânime fortalece a perspectiva de novos cortes. Ele, no entanto, só espera mais uma redução, de 0,5 ponto:

— O mercado ainda tem dúvida sobre a pressão lá fora. O preço do petróleo voltou a subir, ainda vamos ver se o inverno rigoroso na Europa poderá pressionar os preços da energia. Essas são questões no radar.

O economista Jason Viera, do site MoneYou e autor do ranking do juros reais, também vê preços de petróleo e riscos fiscais domésticos como travas à queda de juros:

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— O governo não para de falar em aumento de gastos — diz Vieira. — E há o temor de uma possível elevação no preço dos combustíveis, o que pressiona a inflação.

Para 2024, a estimativa da consultoria Tendências é que a Selic recue a 9,25%, um patamar de juro ainda contracionista, como quer o BC. Depois, haveria uma pausa, com a taxa voltando a cair apenas em 2025, a 8,5%.

Com o corte de ontem, o Brasil deixou o topo do ranking de juros reais (descontada a inflação). Com uma taxa de 6,40%, o país agora está atrás do México, com 6,61%. O ranking é elaborado pelo site MoneYou, que pesquisa os juros em 40 países.

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‘Alerta para o Brasil’

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) decidiu manter os juros no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano — o maior nível desde 2001. Isso já era esperado pelo mercado, que se concentrou nas projeções do Fed e nas declarações do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a reunião.

O presidente do Fed reafirmou o compromisso de levar a inflação do país de volta à meta de 2% — em agosto, ficou em 3,7%. Para isso, ele não descartou uma nova alta nos juros este ano.

— A melhor coisa que podemos fazer para todos é restaurar a estabilidade dos preços — disse Powell, lembrando que o Fed tem um “duplo mandato”: cuidar da inflação e do emprego.

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A possibilidade de os juros subirem foi reforçada pelas projeções macroeconômicas divulgadas pelo Fed. A média das estimativas aponta a taxa básica a 5,6% este ano.

Na coletiva, Powell ressaltou que ainda há um grau de incerteza muito grande, principalmente em relação aos preços de energia. Mas disse que a inflação cedeu um pouco sem provocar uma alta forte no desemprego, então ele avalia que a economia terá um pouso suave.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os cortes de juros nos EUA não devem começar tão cedo. Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências, avalia que o Fed não vai baixar a guarda no combate à inflação, o que é “um alerta para o Brasil”.