Economia
Nos Estados Unidos, cannabis já substitui culturas tradicionais
Agricultores trocam as lavouras de milho, soja e trigo pelo cultivo da planta e veem retorno financeiro aumentar
A singela mesa com meia dúzia de mudas na maior feira agrícola do mundo, a Farm Progress Show, em Decatur, Illinois, nos Estados Unidos, é um marco histórico. Trata-se da primeira vez que o evento, com 70 anos de existência, recebe produtores da cannabis, planta cujo cultivo teve sua primeira legalização em 2018 no estado. O jovem Justin Boston, de 28 anos, é quem apresenta os inúmeros produtos derivados levados para a feira.
— Este é futuro, entende? É a próxima onda, a próxima geração de culturas com aplicação nos mais diversos setores — comenta o agricultor de primeira viagem.
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Com cerca de sete hectares de cultivo, ele tem testado diferentes formas de produzir, desde o plantio manual em ambiente controlado até o cultivo em áreas abertas, onde tem avaliado a resposta da cultura a pesticidas e fertilizante que normalmente são usados em lavouras tradicionais do país, como o milho.
— Temos realizado testes com as sementes de cannabis que nunca foram feitos antes, aplicando esses produtos em campo para ver se conseguimos resultados ainda melhores do que os que já temos — relata Boston.
Seus sete hectares somam-se a outros 13 numa área dividida com mais dois produtores, entre eles o proprietário da fazenda, Phil Montgomery, de 41 anos.
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Agricultor de longa data, Montgomery decidiu substituir a lavoura de grãos pela cannabis há dois anos, alcançando um retorno duas vezes superior com a nova cultura.
— Eu falo para todo mundo que eu sou agricultor desde antes de nascer. Mas até então eu vinha plantando culturas regulares como milho, soja, trigo, até que eu e minha mulher começamos a utilizar a cannabis para fins medicinais como alívio de dores, sono, essas coisas. Começamos a pesquisar em 2019 e plantamos pela primeira vez em 2020 — conta o agricultor.
Plantio em 38 estados
Em poucas horas de evento, o estande atrai o movimenta dezenas de outros agricultores interessados, com os mais variados perfis.
— Parte do público ainda é um pouco reticente, passa caminhando e olhando de lado. Parte deles sequer olha. São reações muito diversas — descreve Boston.
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De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o ministério da Agricultura americano, a área plantada com cannabis no país atingiu 11,5 mil hectares em 2022, com valor equivalente a US$ 212,3 milhões.
Há plantio em 38 estados americanos, segundo o USDA. No país, o uso recreativo e medicinal é liberado em 24 unidades da federação.
Em Illinois, onde o uso recreativo da cannabis é autorizado desde 2020, foram 129,5 hectares plantados. Nas ruas, não é difícil encontrar e adquirir flores e derivados, bastando a apresentação de um documento que comprove a maioridade — algo que se repete na Farm Progress Show este ano.
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Entre fibras, óleos, loções e comestíveis (inclusive para animais), Montgomery e Boston vendem cigarros de maconha já enrolados por 25 dólares e pacotes de 3,5 gramas por 45 — uma cena de causar estranheza até mesmo entre os mais experientes frequentadores de feiras agrícolas.
— Definitivamente esta é uma cultura que tem uma boa chance de se tornar uma das cinco principais commodities mundiais com condições de se tornar a primeira em termos financeiros, já que se trata de uma planta com inúmeras aplicações e possibilidades para substituir uma série de matérias primas — completa Montgomery.
(O jornalista viajou a convite da John Deere)
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