Economia
Investimento chinês no Brasil muda de perfil, atinge recorde de projetos, e tomba 78% em valor, diz CEBC
Mudança na composição dos aportes de empresas da China na economia brasileira indica mais projetos de menor valor, na indústria manufatureira e em serviços de tecnologia da informação (TI), e menos investimentos bilionários em infraestrutura, mostra levan
Os investimentos chineses no Brasil tombaram 78% em 2022, na comparação com 2021, mas o número de projetos cresceu 14%, atingindo o recorde de 32, mostra levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), divulgado nesta terça-feira. Em valor, o total de US$ 1,3 bilhão em aportes ficou no menor nível desde 2009.
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Para Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, a queda se explica por uma mudança na composição, e não por falta de interesse das empresas da China na economia brasileira. Também houve algum atraso na confirmação de investimentos.
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– Essa queda no valor não representa uma falta de interesse dos chineses. São duas formas de olhar. Em 2021, tivemos menos projetos, mas um deles era gigante, no setor de óleo e gás, que foi 85% do valor investido – afirmou o diretor do CEBC.
Em 2021, as estatais China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e China National Oil and Gas Exploration and Development Company (CNODC), que são sócias da Petrobras na exploração do pré-sal, fizeram aportes importantes em seus projetos.
Sai infraestrutura, entra TI e indústria
No caso da mudança de composição, o recorde no número de projetos sinaliza para mais aportes de menor valor. Isso porque, em parte, projetos bilionários de infraestrutura, com destaque para o setor elétrico e a indústria de petróleo, dão vez a investimentos na indústria manufatureira e para os serviços de tecnologia da informação (TI).
No acumulado de 2007 a 2022, período mapeado pelo CEBC, o setor elétrico respondeu por 45,5% dos US$ 71,6 bilhões em investimento chinês. Em 2017, a gigante State Grid desembolsou R$ 14 bilhões para comprar a CPFL, que controla usinas de geração, distribuidoras de eletricidade e linhas de transmissão. A empresa tem participações nas duas linhas de transmissão que ligam a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao Sudeste.
Agora, os investimentos em TI de empresas chinesas no Brasil mudaram de patamar nos últimos anos, quando se olha o número de projetos, no levantamento do CEBC. Ano passado, foram oito e, em 2021, dez, ante nenhum em 2020 e três em 2019.
Dona do WeChat compra brasileira
Ano passado, a Tencent, gigante chinesa do setor, famosa por ser dona do WeChat, aplicativo de mensagens mais usado na China, comprou uma fatia da desenvolvedora de softwares brasileira Zenvia, que é listada na Nasdaq, a bolsa americana de empresas do setor de tecnologia.
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No caso da indústria manufatureira, a grande aposta da China é a fabricação de veículos elétricos. A Higer Bus foi uma das que investiu ano passado – a empresa está construindo um centro técnico em São Paulo e já anunciou a construção de uma fábrica no Porto de Pecém, no Ceará.
Em 2021, a montadora Great Wall Motor (GWM) anunciou que planeja investir aproximadamente R$ 4 bilhões em sua operação brasileira pelos próximos cinco anos. Já neste ano, a BYD, maior fabricante de carros elétricos do mundo, anunciou o investimento de R$ 3 bilhões para adquirir a antiga fábrica da Ford na Bahia – como foi confirmado este ano, esse investimento fica de fora do levantamento do CEBC.
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Conforme o estudo, o setor de veículos elétricos respondeu por 19% de todos os aportes chineses anunciados no exterior nos últimos cinco anos, chegando a representar 58% do total investido pela China no mundo em 2022. Citando dados do Instituto Mercator para Estudos da China, de 2016 a 2022 o valor dos investimentos anunciados pela China na cadeia de veículos elétricos em todo passou de US$ 605 milhões para US$ 23 bilhões.
Geopolítica afeta
Segundo a economista Fabiana D’Atri, da Bradesco Asset, a mudança de composição também é marcada por uma transição nos investimentos diretos globais, em que tensões geopolíticas afetam as escolhas empresariais, com destaque para setores considerados estratégicos, como a TI.
– A palavra que mais apareceu na reunião do Congresso do Partido (Comunista da China), no fim do ano passado, foi a questão da segurança. Segurança tecnológica, segurança alimentar, segurança energética. É uma estratégia que faz parte da estratégia política e que, eventualmente, a economia, hoje, é produto dessa estratégia e não essa estratégia é produto do crescimento econômico – afirmou Fabiana, que é também diretora de economia do CEBC.
Segundo a economista, essa visão estratégica contribui, inclusive, para a desaceleração do crescimento econômico da China. Ou seja, esses elementos geopolíticos podem pesar mais do que perseguir elevadas taxas de crescimento a qualquer custo. Nesse sentido, o Brasil pode ser beneficiado por mais investimentos diretos, amenizando os efeitos negativos da perda de fôlego da economia chinesa sobre as exportações brasileiras e sobre as cotações globais das matérias-primas vendidas pelo país.
– O Brasil hoje tem uma posição favorável em relação à China, do ponto de vista de relação diplomática. Isso também favorece relações e, eventualmente, acordos, sejam de comércio, sejam de investimentos – completou Fabiana.
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