Canaã do Bálsamo
Há lutas que não deveriam existir.
A que hoje se trava em Palmeira dos Índios — essa disputa silenciosa entre indígenas e pequenos agricultores — é uma delas. Não é luta de rico contra pobre, nem de poderoso contra oprimido. É, tristemente, a luta de pobre contra pobre. De gente que carrega nas mãos o mesmo calo, o mesmo suor, e no peito a mesma vontade de viver com dignidade.
E é por isso que dói tanto.
Porque, no fundo, quem se olha de frente nessa contenda se reconhece. Vê o mesmo rosto castigado pelo sol, a mesma enxada gasta, a mesma fé entranhada no peito. São filhos da mesma terra — apenas com histórias diferentes, feridas diferentes, sonhos que se cruzam na poeira da mesma estrada.
A Igreja pode ser a ponte serena de que tanto precisamos.
Com sua tradição de acolher e aproximar, ela tem a capacidade de reunir à mesma mesa quem hoje se encontra em margens diferentes. Que seus pastores e líderes, movidos pela fé e pela compaixão, ajudem a semear o diálogo, a compreensão e o perdão. Que a luz do Evangelho inspire gestos de conciliação, porque esta terra precisa de paz — e poucas vozes têm tanta força para promovê-la quanto a da Igreja quando decide unir, ouvir e amparar.
Palmeira precisa de paz.
Paz verdadeira, que nasce do diálogo, da empatia e da justiça.
Não há conciliação possível sem reparação. E se há nesta terra um pingo de justiça — e eu quero crer que há —, ela haverá de ser feita: indenizando, com dignidade e equidade, aqueles que precisarão sair das ocupações onde ergueram suas vidas. Ninguém deve ser tratado como intruso num chão que lhe deu abrigo. A reparação deve ser justa, e o recomeço, humano.
É difícil confiar no governo — todos sabemos.
A política virou moeda gasta, promessa quebrada, palavra sem crédito. Mas é o que nos resta: confiar que, dessa vez, a caneta não será instrumento de injustiça, e que o Estado cumprirá o papel que lhe cabe — o de fazer o justo florescer onde hoje há medo e incerteza.
A região do Bálsamo ressurge, então, como um símbolo.
Rica em água, fértil, abençoada.
Ali, entre o murmúrio do vento e o espelho d’água da barragem, há uma promessa de recomeço. O Bálsamo é, guardadas as proporções, a Canaã palmeirense — terra onde o homem pode plantar o próprio futuro, sem medo de perdê-lo outra vez.
Enquanto o país debate de longe a demarcação indígena, Palmeira dos Índios pode dar um passo à frente. Mostrar que há um caminho de humanidade possível: o do assentamento justo, o da reparação sem rancor, o da convivência entre povos que se reconhecem irmãos na mesma dor e no mesmo direito.
Que o Bálsamo seja, mais que um lugar, um símbolo.
Símbolo de reconciliação, de justiça e de fé.
Porque onde há água, há vida.
E onde há vida, ainda pode brotar a esperança —
mesmo quando o solo, cansado de tanto conflito, parece já não acreditar em milagres.
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