Servir é verbo de resistência
Há uma nobreza silenciosa que mora atrás dos balcões, das mesas riscadas por canetas, dos computadores lentos, dos carimbos que já perderam o cabo. Ela não usa capa nem medalha — às vezes, nem crachá —, mas carrega o peso de uma palavra que o tempo tenta desgastar: servidor.
Em Alagoas, e em especial em Palmeira dos Índios, há milhares deles. Homens e mulheres que acordam antes do sol, enfrentam o transporte apertado, o salário que atrasa, o olhar atravessado do chefe político e, ainda assim, cumprem seu dever. Não porque esperam aplausos, mas porque sabem que, se não fizerem, ninguém fará. E o povo — o mesmo povo que os critica — ficará sem saúde, sem escola, sem documento, sem resposta.
O servidor público é o coração que teima em bater dentro de uma máquina emperrada. É o funcionário da escola que abre o portão quando o diretor falta, o enfermeiro que cobre o plantão do colega adoentado, a assistente social que visita famílias esquecidas pelo Estado. É o vigilante que dorme com um rádio no bolso, o motorista que conhece cada buraco da estrada, o digitador que aprendeu a sorrir entre um ofício e outro.
Em Palmeira, muitos deles vivem a dor de uma rotina ingrata: a perseguição disfarçada de hierarquia, o medo de perder a função porque ousaram dizer a verdade, o peso de servir com dignidade num ambiente em que o mérito é menos valorizado que o favor. Mas é justamente ali, nesse terreno árido, que floresce a grandeza do servidor público.
Eles resistem. Continuam a atender, a orientar, a ensinar, a cuidar — mesmo quando o reconhecimento é escasso e a esperança parece um luxo.
O servidor público de Alagoas é, antes de tudo, um sobrevivente. Sobrevive ao descaso das gestões, à política miúda, aos salários que não acompanham o custo da vida. E, ainda assim, mantém o mesmo compromisso de sempre: servir. Não servir ao poder, mas ao povo; não servir ao interesse de poucos, mas à necessidade de todos.
Há algo de sagrado nesse ofício. Quem serve, de verdade, sabe o que é sacrificar a própria tranquilidade em nome do bem coletivo. Sabe o que é ouvir desaforo de quem chega exaltado e, mesmo assim, manter a calma e resolver. Sabe o que é cumprir uma lei que ninguém respeita, mas que precisa ser cumprida porque é o certo.
Ser servidor é um ato de fé — fé na justiça, fé no trabalho, fé no país, mesmo quando o país não retribui. É resistir à tentação da indiferença. É ter a coragem de permanecer ético quando tudo ao redor empurra para o contrário.
Por isso, neste Dia do Servidor Público, a homenagem é mais que merecida.
A todos os servidores de Alagoas — e, com carinho especial, aos colegas de Palmeira dos Índios —, o reconhecimento e o respeito de quem entende que a verdadeira revolução do serviço público não virá dos gabinetes, mas das mãos calejadas de quem faz, todos os dias, o Estado funcionar.
Vocês são a espinha dorsal de uma nação que ainda não aprendeu a agradecer. São o sopro de humanidade num sistema que tantas vezes esquece o que é humano.
E é por isso que, mesmo cansados, injustiçados ou esquecidos, continuam — porque sabem que servir, no Brasil, é verbo de resistência.
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