Falta alguém em Nuremberg

12/06/2016

O titulo “falta alguém em Nuremberg” foi usado pelo combativo e talentoso jornalista David Nasser, em título de livro destinado a condenar as torturas praticadas durante a ditadura de Getúlio Vargas, entre os anos de 1937 e 1945, através de seu chefe de polícia Filinto Müller, morto em acidente de avião nos arredores de Paris, na década de 1970. Como se sabe, foi na cidade alemã de Nuremberg que se instalou um tribunal internacional dedicado a julgar aqueles que participaram do Holocausto, genocídio que atingiu vários povos, particularmente o judeu.

Durante o julgamento do Mensalão, alguns jornalistas recorreram ao mesmo título, para dizer que faltava alguém no banco dos réus, ao lado de Marcos Valério e de quantos participaram do famigerado assalto ao Erário e à dignidade nacional.

Observe-se que, tão logo denunciado, não foram poucos os que sustentaram que o Mensalão nada mais seria do que a ponta do iceberg do pântano moral em que se transformara o Brasil, denunciando o caráter metastático da roubalheira montada em praticamente todas as áreas de atuação do governo federal. Licitações sistematicamente fraudadas, obras fictícias, umas, inacabadas, muitas, superfaturadas, todas, desvios de recursos públicos em todo o País, partidos políticos da base do governo comprados, para silenciar.

A operação Lava Jato terminou por demonstrar que eram ainda mais graves as piores suposições sobre o despudorado projeto de poder em curso, apoiado na corrupção e na permanente submissão de almas serviçais aos detentores do mando. Enquanto o povo brasileiro se rejubila com o destemor da imprensa, da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário, que avança no desvendamento dos crimes e na punição dos culpados, o interesse popular aguarda com crescente ansiedade o anúncio e a prisão do nome que, todos sabemos, é o inspirador da gatunagem colossal.

Durante dois dias em Brasília esta semana ouvi de cada taxista que me conduziu, jovens e velhos com os quais conversei, servidores do Congresso Nacional, porteiros e recepcionistas do hotel, nos restaurantes e bares uma pergunta insistente, principalmente quando o procurador ( vazador) Rodrigo Janot pediu as prisões de figurões da República: “E O LULA QUANDO VAI PRESO”? O que espera o Ministério Público para pedir a prisão do maior vilão da história da corrupção no país e o Poder Judiciário para decretar? Será que ainda não juntaram provas suficientes contra esta figura excrescente que promoveu com sua quadrilha o maior esquema de corrupção no Brasil durante os últimos 13 anos, ou estão com medo do que ele possa falar em uma “delação premiada”? Na verdade falta alguém ir para a cadeia.

Pedro Oliveira

Pedro Oliveira

Escritor e jornalista com vasta experiência em análise política. Autor dos livros “Arquivo Aberto/Crônica de um Brasil Corrupto”, “Brasil 2006 A História das Eleições” / “Manual Prático de Licitações e Contratos” “Resumo Político - Crônicas, histórias e os bastidores da política brasileira”. Articulista político da Tribuna do Sertão, Jornal Extra e Blog Resumo Político. Pós graduado em Ciências Políticas pela UnB, Presidente do Instituto Cidadão e Membro Coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Atuou no Diário de São Paulo, Revista NÓS ( SP), Diários Associados ( Jornal de Alagoas), Jornal de Hoje. Fundador do Jornal Opinião e do Correio de Alagoas, este junto com o jornalista Pedro Collor de Mello.