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Que país é esse

Na juventude, apesar de achar Cazuza até certo ponto exagerado, me deixava levar por suas inteligentes canções, dentre elas, uma me feria e encantava ao mesmo tempo: “Que país é esse?”.
Naquela época, parecia apenas um hino de rebeldia, grito de jovens inquietos diante de um Brasil que insistia em tropeçar nos próprios erros. O tempo passou, os cabelos embranqueceram, mas a pergunta continua viva, e agora a sinto na carne, não mais como poesia, mas experiência concreta.
Eis que surge a Equatorial, concessionária do potencial elétrico no estado, sob o pretexto de melhorias na rede loteamento onde resido em Barra de São Miguel, deixa alguns de meus equipamentos queimados, sem que me reste sequer o consolo de uma resposta.
É quando vejo a sede da Academia Alagoana de Letras, verdadeiro altar de cultura e memória, ser assaltada por mãos anônimas que levaram não apenas a fiação e o quadro de energia, mas também pedaço do respeito devido às instituições, e para completar o enredo trágico, a mesma Equatorial, chamada insistentemente por mais de trinta dias, sequer aparece para religar o imóvel ao sistema público, sua responsabilidade.
Como se não bastasse, reencontro a indignação diante de um terreno que adquiri há mais de quarenta anos, registrado em cartório e na prefeitura de cidade no litoral sul, integrando loteamento inteiro, com dezenas de proprietários legítimos, todo invadido, na tentativa de ser tomado por quem se julga dono do que não comprou, e me obriga a gastar fortuna em advogados apenas para reafirmar um direito que é inquestionável.
Olho ao redor e penso em como o Brasil continua sendo este mosaico de contrastes: tão rico de talentos e belezas, mas tão pobre em integridade e respeito ao cidadão. O poeta não estava apenas cantando, mas antecipando um país que insiste em repetir os mesmos erros, década após década.
Hoje, não sou mais o jovem que se arrebatava apenas com a melodia, mas sim o homem que, diante de tantos absurdos, se descobre repetindo a canção com a mesma dor e perplexidade e cada vez mais ciente de que Cazuza no fim das contas, tinha razão, e se vivo estivesse, talvez reescrevesse o refrão para algo ainda mais direto: “Como é possível o país ainda ser esse?”
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