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A agonia de Ulisses
								Recentemente, tive a felicidade de encontrar em uma modesta livraria um livro de Antoine de Saint-Exupéry, “Carnets”, que reúne algumas reflexões e anotações que o piloto/escritor havia deixado em alguns caderninhos.
Em uma passagem, ele simplesmente diz, de forma melancólica, que o ódio é abominável; e o é por projetar em nossa alma imagens tremendamente falsas. Imagens falseadas sobre os outros e sobre nós mesmos e, quando nos permitimos ser tragados por essa tempestade, acabamos por nos desumanizar uns aos outros, crentes de que, ao fazermos isso, estamos montados na razão, autorizados pelos céus e cobertos com o manto de todas as virtudes.
Ora, se não somos mais capazes de sentar e ouvir atentamente aqueles que pensam diferentemente de nós sem termos um rompante, uma crise de pelancas, é sinal de que a ordem não mais existe. Não me refiro à “desordem democrática”, refiro-me à desordem da nossa alma. É nela que toda inversão de valores principia, é no solo do nosso coração que o caos e a anomia veem suas sementes germinar e dar seus frutos pestilentos.
E não importa o costado ideológico em que nos situamos: todos nós corremos o risco de nos transformar em uma besta-fera que clama por cabeças rolando, nem que seja apenas sob o fio da navalha do cancelamento. Sim, meu amigo, sob essa frágil imagem de bom-mocismo e sofisticação encontra-se oculta, dormente, um monstro abominável.
E só há uma forma de enquadrar e controlar esse monstro: reconhecendo que somos capazes de coisas horríveis, tomando consciência de que qualquer um de nós pode fazer coisas que nos envergonhariam se fossem contadas para nossos netos.
Ora, não é necessário ser um psicopata para cometer atrocidades; basta, como nos ensina Hannah Arendt, que banalizemos a maldade nossa de cada dia. Não me refiro às maldades que são perpetradas pelos mandatários do mundo, nem às maledicências que são circuladas pela grande mídia e pelas redes sociais; refiro-me apenas à forma como acolhemos e reagimos a tudo isso.
Resumindo: portamo-nos como torcedores e, agindo dessa forma, cremos candidamente que estamos atuando como bons cidadãos criticamente críticos, ou como patriotas da terra do nunca.
Mas, enfim e por fim, é claro que nós não somos assim, não é mesmo? Como Jean-Paul Sartre nos lembra, os irracionais sempre são os outros.
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