Alagoas
Egresso une trabalho no sistema prisional e pesquisa para propor políticas públicas
Com mestrado e doutorado na Ufal, Vitor Gomes articula vivência profissional e ciência para romper ciclos de invisibilidade
Policial penal, bacharel em Direito, estudante e educador. Muitos são os títulos que definem Vitor Gomes, pernambucano radicado em Alagoas há mais de 20 anos, e que, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), tornou-se mestre e doutor em Educação, encontrando na vida acadêmica uma oportunidade de transformar a realidade do sistema prisional.
Para ele, envolver o ambiente prisional no contexto da academia não significa apenas levar conhecimento aos privados de liberdade, mas também romper estigmas e reconstruir olhares de quem, do lado de fora, ainda compreende a prisão como um espaço separado da sociedade.
“O sistema prisional não tem extraterrestres. Ele é reflexo da sociedade. Tudo o que existe aqui fora, existe lá dentro. E os servidores também fazem parte dessa sociedade. Então, essa troca é fundamental: levar a experiência para a academia e trazer a produção da academia para dentro do sistema. Convivendo com a diversidade, aprendemos a ocupar nosso espaço pelo convencimento e pela produção, e não pela violência”, explicou.
Educação para superar ciclos de violência
Há mais de dez anos, Vitor integra o grupo de pesquisa Teoria Crítica, Emancipação e Reconhecimento (Tecer), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE). Ele é autor da dissertação de mestrado Invisibilidade e sofrimento: uma análise epistemológica dos jovens em situação de encarceramento e egressos do sistema socioeducativo em Alagoas. No início deste ano, defendeu a tese de doutorado “Educação, privação e invisibilidades: uma análise educativo-filosófica a partir dos egressos do sistema socioeducativo alagoano”. Os dois trabalhos foram orientados pelo professor Anderson Menezes, do Centro de Educação (Cedu) da Ufal.
Ao longo dos estudos, Vitor percebeu que as narrativas de jovens encarcerados carregam marcas muito anteriores ao ato infracional. Para ele, compreender esse percurso é fundamental para propor políticas públicas que superem o caráter meramente punitivo do sistema. “A invisibilidade não começa quando o jovem entra no sistema. Começa lá atrás. Muitos são concebidos dentro das prisões; muitos nunca tiveram direito a um passeio no domingo, porque precisavam visitar o pai preso. É um ciclo de violência difícil de romper. E é a educação esse vetor de transformação”, reafirmou.
Mesmo com o título de doutor recém-conquistado, Vitor afirma que ainda há muito a estudar e construir. Para ele, o conhecimento jamais se esgota, especialmente em um campo tão desafiador quanto o sistema prisional.
“Meu objetivo de pesquisa é propor políticas públicas possíveis, que possam ser implementadas. Não adianta discutir apenas ideais inalcançáveis. Precisamos melhorar o que temos hoje. Eu sempre digo: como reeducar quem nunca foi educado? Como ressocializar quem nunca foi socializado? Quando alguém é preso, é a prova de que o Estado falhou. A educação é uma ferramenta essencial para transformar o ambiente e gerar mudança social real”, afirmou.
Alcançando novos voos
Os trabalhos de Vitor atingiram um público mais amplo. O pesquisador, que já tem mais de 20 capítulos e artigos publicados em livros, participou da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, realizada em novembro. Na ação, ele organizou um livro junto com o professor Antônio Tancredo, da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), e lançou dois capítulos em livros diferentes com a proposta de educação nas prisões.
Além disso, integrou a mesa-redonda que discutiu educação na prisão, invisibilidade, sofrimento e o papel do policial penal. Para ele, foi uma experiência transformadora participar do evento e ver o auditório lotado para aprender mais sobre um tema que tanto o cativa. “A Bienal trouxe muita visibilidade, principalmente por eu ser policial penal. Foi muito gratificante ver um auditório cheio de alunos e colegas da comunidade. Uma experiência marcante”, finalizou.
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