Alagoas

Egresso da Uncisal defende doutorado na USP e descreve trajetória que nasceu na rede pública de Alagoas

24/11/2025
Egresso da Uncisal defende doutorado na USP e descreve trajetória que nasceu na rede pública de Alagoas
John Victor dos Santos Silva é exemplo vivo do impacto concreto que a universidade pública pode gerar na vida de uma pessoa - Foto: Ascom Uncisal

Danielle Cândido/Ascom Uncisal

O percurso acadêmico e profissional de John Victor dos Santos Silva, egresso de Enfermagem da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), sintetiza uma história de mobilidade social, de afirmação de identidade e do impacto concreto que a universidade pública pode gerar na vida das pessoas. Primeira geração da família a conquistar um título de pós-graduação stricto sensu, ele trilhou pesquisa, iniciação científica, produção acadêmica, assistência em serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), docência e construção de projetos em saúde mental até chegar ao doutorado em uma das instituições mais relevantes da América Latina, a Universidade de São Paulo (USP).

 

É um percurso que reafirma a potência da Uncisal como porta de entrada para trajetórias consistentes em ciência e atenção psicossocial. Confira abaixo a entrevista:

Quem é você hoje e o que significa chegar ao título de doutor?

Hoje sou uma pessoa muito feliz e plenamente realizada, tanto pessoal quanto profissionalmente. Como uma pessoa preta, LGBTQIAPN+ e oriunda de uma família materna bastante humilde, pude vivenciar de forma concreta o poder transformador da educação, tornando-me a primeira pessoa da minha família a conquistar esse título. Essa trajetória me possibilitou tornar-me um enfermeiro, professor e pesquisador comprometido com os princípios de uma sociedade mais sustentável, justa e inclusiva, graças à oportunidade de receber esse título de uma das instituições de ensino superior mais importantes do país, referência para a América Latina e para o mundo, a Universidade de São Paulo (USP). Essa formação contribuiu para que eu desenvolvesse um pensamento mais crítico-reflexivo e uma postura ético-profissional mais humanizada e acolhedora.

Como a graduação em Enfermagem na Uncisal (2019) contribuiu para a sua visão de cuidado e saúde pública?

Eu me formei na graduação em Enfermagem em 2019, em um modelo de educação integrada, no qual pude compartilhar e construir meu percurso formativo por meio de disciplinas e projetos interprofissionais. Essa proposta pedagógica foi fundamental para a minha compreensão e consolidação da concepção de integralidade em saúde, que é um princípio essencial do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi nesse contexto que iniciei minha trajetória como enfermeiro e profissional de saúde, aprendendo sobre o valor do trabalho colaborativo e interdisciplinar, bem como sobre a importância de um cuidado humanizado e acolhedor, princípios que levo comigo até hoje. Essas aprendizagens foram profundamente enriquecidas pelas trocas com colegas de outros cursos, professores e pelos diversos projetos desenvolvidos na instituição.

De que forma a iniciação científica despertou o interesse por pesquisa e abriu portas para o mestrado e para o doutorado?

A Uncisal teve papel decisivo na formação do meu perfil pesquisador. Durante a graduação, tive a oportunidade de vivenciar, durante os cinco anos do curso, a disciplina “Pesquisa em Saúde”, na qual atuei também como monitor. Essa experiência despertou meu interesse pela pesquisa científica e me impulsionou para buscar construir projetos de pesquisa e a participar de eventos acadêmicos e científicos no estado, nacionais e até mesmo internacionais. Durante a graduação, tive duas bolsas de iniciação científica. Essa experiência foi extremamente significativa, pois me permitiu colocar em prática os conhecimentos que vinha adquirindo e aprimorando para a produção científica.

Tiveram pessoas-chave nessa fase inicial?

Sim. Minha primeira iniciação científica foi orientada pela Profa. Dra. Mara Cristina Ribeiro, que me ofereceu grande apoio e incentivo ao longo do desenvolvimento do trabalho, o qual resultou na publicação de um artigo científico. Posteriormente, tive a oportunidade de elaborar meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sob a orientação da Profa. Ma. Thyara Maia Brandão, cujo estudo foi premiado como uma das melhores pesquisas de conclusão de curso da graduação em Enfermagem no ano da minha formação. Não poderia deixar de mencionar e agradecer as duas, que foram, respectivamente, fundamentais para o despertar do meu interesse e da minha paixão pela área da Enfermagem em Saúde Mental e pelo campo da Atenção Psicossocial. Ambas foram inspirações profissionais e tiveram papel essencial na construção da trajetória que me conduziu até aqui.

Como você explica, de forma acessível, o que investigou no mestrado?

No mestrado, apresentei a dissertação intitulada “Caracterização da formação em saúde mental na graduação em Enfermagem em uma capital brasileira: uma análise na perspectiva do pensamento complexo de Edgar Morin”, que teve como objetivo compreender como ocorre a formação em saúde mental na graduação em Enfermagem e a complexidade que envolve esse processo. O estudo, desenvolvido a partir de levantamentos com estudantes, docentes e análise de documentos institucionais dos cursos, evidenciou que essa formação é dinâmica e está em constante reorganização para atender às demandas educacionais e de saúde locais. No entanto, também revelou a necessidade de um maior alinhamento entre as propostas formativas e as reais necessidades de saúde mental da população e dos preceitos do campo da atenção psicossocial, modelo da Política Nacional de Saúde Mental (PNSM).

E qual foi o foco da tese de doutorado?

No doutorado, desenvolvi a tese intitulada “Saberes fundamentais que sustentam a práxis do enfermeiro na Rede de Atenção Psicossocial: uma análise à luz da Abordagem Histórico-Cultural”, cujo objetivo foi analisar quais saberes são considerados essenciais para que o enfermeiro promova o cuidado em saúde mental nos diferentes serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do SUS. A pesquisa contou com a participação de enfermeiros atuantes em distintos contextos da rede e evidenciou que o cuidado em saúde mental exige saberes específicos, construídos na prática e na interação com os usuários. Os resultados apontam para a necessidade de transformações nos modelos formativos das instituições de ensino, de modo que estejam mais alinhados às reais demandas da prática profissional e às necessidades de saúde mental da população.

Quais foram os desafios profissionais?

Apesar das dificuldades, pude me desenvolver significativamente. Atuei temporariamente como enfermeiro psiquiátrico no setor de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP-USP), prestando assistência direta aos pacientes internos; como enfermeiro responsável técnico em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), liderando a equipe de enfermagem de um serviço 24 horas; e como Assessor Técnico de Saúde Mental, acompanhando e supervisionando os serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Na área da educação, tive a oportunidade de atuar em instituições como o Senac São Paulo, no qual atuei como docente e consultor especialista na construção do primeiro curso do portfólio estadual voltado à área da saúde mental, intitulado “Saúde Mental: Cuidado Interprofissional na Atenção Psicossocial”. Essa experiência representou um marco significativo na minha trajetória profissional.

Quais os próximos passos?

Meus próximos passos consistem em realizar o pós-doutorado na área de saúde mental, embora eu ainda esteja avaliando os possíveis programas de pós-graduação da instituição e a linha de pesquisa que desejo seguir. Sou pesquisador de abordagem qualitativa e pretendo continuar desenvolvendo estudos nesse mesmo campo, com foco em saúde mental e atenção psicossocial. No âmbito profissional, pretendo buscar novas oportunidades que contribuam para o meu crescimento pessoal e para o aprimoramento da minha trajetória acadêmica e assistencial. E quem sabe ser convidado pela Uncisal para compartilhar um pouco mais da minha caminhada no próximo Congresso Acadêmico e Científico presencialmente.

E que recado você deixa para estudantes da Uncisal que sonham com a pós-graduação?

É possível! Eu sou prova viva de que sonho, determinação e planejamento são fundamentais para alcançarmos nossos objetivos. O que posso dizer àqueles que desejam cursar a pós-graduação em outros estados é: pesquisem bem os programas e suas linhas de pesquisa, identifiquem possíveis orientadores, e participem de eventos científicos nacionais, tanto para apresentar trabalhos quanto para construir uma rede de contatos acadêmicos. Conheçam as produções científicas das instituições, leiam atentamente os editais para se familiarizarem com os processos seletivos e, sobretudo, façam um planejamento financeiro, pois nem sempre é possível contar com bolsa de pesquisa no início do curso. Sigam confiantes e acreditem no sonho e no investimento que estão fazendo em vocês!