Vida Esportiva
Nômades do esporte: conheça a história de brasileiros que viajam o mundo trabalhando em competições
Profissionais que se especializaram na organização de grandes eventos agora correm o planeta, de país em país, sem moradia fixa, sempre atrás da próxima experiência
Três torneios da Fifa movimentam Doha, capital do Catar, nesta reta final de 2025. A Copa do Mundo Sub-17, que começou na semana passada, com o Brasil entre os favoritos; a Copa Árabe, que reunirá 23 seleções a partir do próximo dia 25; e a Copa Intercontinental, entre 10 e 17 de dezembro, com a participação do campeão da Libertadores — Flamengo ou Palmeiras. A “overdose” de competições importantes quase simultâneas atraiu um grupo de brasileiros que vem crescendo: os nômades do esporte. Gente que se especializou na organização desse tipo de evento e agora corre o mundo, de país em país, sem moradia fixa, sempre atrás da próxima grande experiência.
É o caso da carioca Fabiane Marcial, de 30 anos, que atua como gerente de Serviços de Transmissão no Mundial Sub-17 — torneio que, só ele, tem cerca de dez brasileiros nos bastidores. Em sua maioria, são profissionais que, como ela, aprenderam as particularidades dos grandes eventos esportivos durante a tríade Copa das Confederações-Copa do Mundo- Olimpíada no Brasil, entre 2013 e 2016, e gostaram tanto que não quiseram mais tirar o time de campo.
— Falou-se muito de legado na Rio-2016 e acho que um dos maiores foi a galera continuar trabalhando. Criou-se no Brasil um nicho de profissionais de eventos esportivos que não existia, e a gente começou a realmente ir para todo lugar do mundo — conta Fabiane.
Após ser voluntária na Copa das Confederações de 2013, ela trabalhou nos Jogos do Rio e não parou mais de viajar o mundo atrás das oportunidades. Já tem seis eventos em cinco países diferentes no currículo. Para isso, conta com a ajuda dos amigos compatriotas que foi fazendo pelo caminho. Grupos de “zap”, além de ajudar na troca de dicas e experiências, servem para os nômades divulgarem vagas abertas.
— Tem um grupo maravilhoso chamado Mulheres no Catar, de brasileiras que trabalharam na Copa de 2022. Ficou até hoje, viramos amigas — diz ela: — A gente vai se ajudando, criando laços.
Fabiane nem terminou seu compromisso no Catar e já sabe qual será sua próxima parada: a partir de fevereiro, estará em Milão, na Itália, para iniciar uma nova jornada na Olimpíada de Inverno, que começa naquele mês. Lá, vai encontrar um amigo nômade: Fabiano da Costa, de 49 anos, gerente de tecnologia das cerimônias de abertura, no estádio San Siro, e de encerramento, na Arena de Verona. O paulista de Nova Odessa está há um ano vivendo na cidade italiana e trabalhando para o Comitê Organizador. Com ele, calcula, já são 45 brasileiros na organização dos Jogos — que também terão como sede Cortina d’Ampezzo.
— O primeiro a chegar vai dando informação de onde alugar apartamento, o que fazer... Tem gente que decide morar junto e dividir custos. Grandes amizades nascem — explica Fabiano, que começou a carreira esportiva na organização da Rio-2016, ainda em 2011: — O que me motivou muito foi terem me mandado para Londres-2012, para aprender o meu trabalho. Fiquei seis meses no Hyde Park. Numa competição do triatlo feminino, foi preciso usar o sistema de resultados, que eu tinha ajudado a implementar, para verificar quem realmente havia vencido, porque elas estavam muito coladas. Foi a minha primeira grande felicidade.
Prazer e sacrifício
Viver em grandes cidades do mundo; conhecer pessoas de diferentes culturas; ser parte atuante de eventos históricos; e ver de perto o desempenho de estrelas do esporte mundial são alguns dos privilégios desses nômades. Mas o estilo de vida deles também exige sacrifícios. A insegurança financeira de um cargo temporário, as burocracias a cada mudança de país e a distância da família são as dificuldades mais citadas.
— Em 2023, quando já estava trabalhando nos Jogos de Paris-2024, minha mãe teve um derrame. Viajei correndo para o Brasil, mas ela já estava em coma. Infelizmente, faleceu em uma semana. Meu pai já era falecido, sou filho único, sem esposa... foi o momento mais difícil nesses anos morando fora — conta Fabiano.
A tristeza pela morte da mãe foi um enorme obstáculo, mas que não o afastou do desafio de continuar desbravando o mundo como nômade do esporte. Fabiano já pleiteia uma vaga nos Jogos de Los Angeles-2028.
— Só largo essa vida quando me aposentar, daqui a uns 15 anos. Não tenho vontade de voltar a um trabalho “normal”. Atuei muito tempo em grandes empresas, fiquei quase 12 anos na Shell. Tinha um salário bom, mas viajava só nas férias. Hoje, a cada fim de semana vou para um canto diferente da Itália. Não penso em parar de pular de galho em galho tão cedo.
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