Vida Esportiva

Leão e Oswaldo de Oliveira na contramão: maioria da população aprova estrangeiro na seleção brasileira, diz pesquisa

Chegada de Ancelotti também aumentou confiança dos torcedores numa boa campanha do Brasil na Copa 2026

Agência O Globo - 05/11/2025
Leão e Oswaldo de Oliveira na contramão: maioria da população aprova estrangeiro na seleção brasileira, diz pesquisa
- Foto: Reprodução/internet

As declarações de Emerson Leão e de Oswaldo de Oliveira contra a presença de técnicos estrangeiros no Brasil, que geraram um constrangimento a Carlo Ancelotti durante o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, na última terça, não refletem o que pensa a maioria da população. É o que diz uma pesquisa feita pelo Instituto Nexus encomendada pela CBF. Nela, 57% aprovam a contratação de um treinador de outro país para comandar a seleção.

O percentual é maior que o dobro dos que desaprovam: 26%. Já 8% não veem diferença e optaram por responder "tanto faz". Por fim, 9% preferiram não opinar.

No recorte por grupos, a aprovação é maior entre os homens (66%), pessoas de 16 a 24 anos (72%), com Ensino Superior (63%), e de cidades das regiões Norte e Centro-Oeste (68%). Por renda, os maiores índices apareceram tanto entre aqueles que recebem entre dois e cinco salários mínimos quanto entre os que possuem ganhos superiores (ambos com 59%). No sentido contrário, a reprovação aparece maior entre os que têm mais de 60 anos (33%) e os analfabetos/sabem ler e escrever (37%).

A pesquisa não foi realizada após a polêmica da última terça-feira, que levou a Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol, organizadora do evento, a se desculpar com CBF e Ancelotti e a repudiar as declarações de Oswaldo de Oliveira. O instituto foi às ruas entre os dias 15 e 24 de agosto e ouviu 2.006 pessoas tanto para saber o nível de aprovação à contratação de um estrangeiro para a seleção quanto para medir impacto da chegada do italiano nas expectativas em relação à Copa.

O "efeito Ancelotti" fica bem claro nas respostas. Sua chegada deixou os brasileiros mais confiantes numa boa performance da Amarelinha em 2026. Para 53%, as chances de título aumentaram -- sendo que, para 29%, elas subiram muito; e para 24%, cresceram pouco. Para 23%, a chegada do técnico pentacampeão da Liga dos Campeões não altera a possibilidade do Brasil ser hexa. Apenas 10% acreditam que ela diminuiu.

Apesar do ciclo marcado por frequentes trocas de treinadores e resultados aquém do esperado em campo, o nível de confiança da população na seleção se mostrou alto. Para 11%, o Brasil é o grande favorito na Copa, que começa daqui a sete meses. Já 32% vê a Amarelinha entre as favoritas. Para 23%, os comandados de Ancelotti serão competitivos, mas não são colocados entre os favoritos. E 22% estão pessimistas. Destes, 9% apostam em uma participação digna, mas sem chance de título. E 9% falaram em decepção.

Os homens estão tanto entre os mais confiantes quanto entre os mais pessimistas. Por faixa etária, a confiança se mostra inversamente proporcional à idade. Os índices também são maiores entre pessoas que moram na Região Sul, os que recebem até um salário mínimo e os que possuem Ensino Fundamental.

- Estamos vendo a seleção brasileira crescendo e se consolidando como uma das forças para a próxima Copa do Mundo. É muito importante esse reconhecimento dos brasileiros. Estamos a menos de um ano da Copa do Mundo e, com essa proximidade, o espírito de torcer pela seleção também cresce - comentou o presidente da CBF Samir Xaud, que prosseguiu:

- O Brasil é o único país que nunca ficou fora de Mundiais, sempre tem desempenhos de destaque e em 2026 não será diferente. E desta vez, com um ingrediente especial: o maior treinador do mundo estará no banco. Particularmente, estou muito otimista de que vamos trazer o hexa.

Por fim, a pesquisa mostra que há margem para Ancelotti se tornar mais conhecido da população, já que 28% afirmaram não saber quem é o técnico da seleção masculina. Ainda assim, quase a metade (48%) escolheram seu nome quando perguntados sobre quem é o atual treinador. Mas nomes de comandantes antigos (Dorival Junior, Tite, Fernando Diniz, Felipão e Mano Menezes) também foram citados.

Leão e Oswaldo de Oliveira constrangem Ancelotti

Ancelotti prestigiou o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado nesta terça-feira, na sede da CBF. O italiano foi homenageado pela organização com uma placa. Mas, em cima do palco ao lado de técnicos em atividade e já aposentados, protagonizou um episódio que repercutiu negativamente. Na sua frente, Emerson Leão fez um desabafo contra o que chamou de "invasão" de profissionais estrangeiros no país.

Campeão do mundo em 1970 pela seleção como jogador e brasileiro como técnico por Sport (1987) e Santos (2002), Leão disse que não gosta de treinadores estrangeiros "no meu país". Em seguida, fez um mea culpa e afirma que os próprios técnicos nacionais são responsáveis por este cenário.

Ao longo de todo o discurso, Leão não se dirige a Ancelotti. Apenas no fim de sua fala é que, sem sequer citar seu nome, ele o deseja boa sorte.

Também chamado a discursar no palco, Oswaldo de Oliveira retomou o tema levantado por Leão. Embora não tenha se preocupado em soar preconceituoso, o técnico campeão brasileiro (1999) e do mundo (2000) com o Corinthians procurou ser mais gentil com Ancelotti e lembrou de um episódio em que dividiu um ônibus com ele, no Japão, em 2007.

Ao encerrar sua fala, contudo, Oswaldo desejou a volta de um brasileiro ao comando da seleção depois da próxima Copa. O detalhe é que, embora o contrato de Ancelotti termine após o Mundial, existe um desejo inicial por renovação do vínculo para o ciclo de 2030.

A CBF e seu presidente Samir Xaud não se manifestaram. Já o diretor de futebol masculino Gustavo Feijó classificou, em suas redes sociais, as declarações de "no mínimo, deselegantes". Ele ainda disse que elas "não refletem o verdadeiro sentimento do povo brasileiro".