Vida e Saúde

Anvisa aprova novo uso do Wegovy para tratar gordura no fígado

Medicamento já indicado para obesidade reverteu inflamação hepática em 63% dos pacientes

Agência O Globo - 15/12/2025
Anvisa aprova novo uso do Wegovy para tratar gordura no fígado
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (15), uma nova indicação para a semaglutida 2,4 mg. O medicamento, já utilizado no tratamento da obesidade, agora poderá ser prescrito para adultos com esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH, na sigla em inglês) e fibrose hepática moderada a avançada, sem cirrose.

Prevalência e riscos:

A gordura no fígado, conhecida como esteatose metabólica, atinge ao menos 30% da população mundial e está fortemente relacionada ao sobrepeso e à obesidade. Segundo estimativas, oito em cada dez pessoas com excesso de peso convivem com o problema.

Além de aumentar o risco cardiovascular, a esteatose pode evoluir para uma inflamação potencialmente grave no fígado, chamada MASH, que pode evoluir para cirrose e necessidade de transplante hepático caso não seja diagnosticada e tratada adequadamente.

Resultados do estudo ESSENCE:

A decisão da Anvisa foi baseada nos resultados do estudo de fase 3 ESSENCE. Após 72 semanas de tratamento, 63% dos pacientes que utilizaram Wegovy apresentaram resolução da inflamação hepática (MASH), em comparação com 34,3% dos que receberam placebo. Além disso, 37% dos pacientes tratados tiveram melhora no estágio da fibrose, contra 22,4% no grupo placebo. Notavelmente, 33% dos pacientes conseguiram reverter a inflamação e melhorar a fibrose simultaneamente.

Para a endocrinologista Priscilla Mattar, vice-presidente médica da Novo Nordisk no Brasil, “a aprovação de hoje é um marco no tratamento da gordura no fígado no Brasil, uma doença silenciosa e grave, diretamente ligada à epidemia de obesidade”. Ela destaca que, até então, os pacientes tinham poucas opções para conter a progressão da doença, que pode levar à cirrose e ao transplante hepático. “Ter uma terapia que demonstrou não apenas reverter a inflamação em mais de 60% dos pacientes, mas também melhorar a fibrose hepática, é um avanço que pode mudar o curso da doença”, completa.

O que é MASH?

A esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH) é uma doença metabólica grave e progressiva, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado e por um processo inflamatório que causa danos às células hepáticas. Esse quadro, geralmente associado ao sobrepeso, obesidade, resistência à insulina e outros fatores cardiometabólicos, desencadeia estresse celular, inflamação e, com o tempo, fibrose.

Sem diagnóstico e tratamento adequados, a doença pode evoluir para cirrose e até mesmo ser fatal. Estima-se que mais de 250 milhões de pessoas no mundo vivam com MASH, e o número de casos avançados deve dobrar até 2030. Nos estágios iniciais, a doença geralmente apresenta poucos ou nenhum sintoma, o que dificulta o diagnóstico precoce. Pessoas com MASH têm risco elevado de desenvolver doenças hepáticas graves, câncer de fígado, infarto, AVC e morte cardiovascular em comparação à população geral.