Vida e Saúde
Projeto faz mortalidade por infarto diminuir em 20% em UPAs no Brasil
Análise do projeto do Proadi-SUS foi feita em mais de 300 unidades públicas de atendimento pré-hospitalar de emergência, em 26 estados
A mortalidade por infarto diminuiu em 20% em UPAs no Brasil que participam de um projeto "Boas Práticas Cardiovasculares", executado pelo Hcor e pela BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, em parceria com o SUS. A conclusão é de um estudo publicado recentemente na revista Telemedicine and e-Health.
O projeto, realizado por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), qualifica 900 unidades do SUS, com atendimento 24 horas por dia, 7 dias por semana e disponibiliza um aparelho de eletrocardiografia em cada serviço. No estudo, foram analisados dados de 300 dessas unidades, distribuídas em 26 estados, que incluiu informações de 13.311 pacientes atendidos entre janeiro de 2021 e dezembro de 2023.
Segundo informações do Ministério da Saúde, o infarto é a maior causa de mortes no país. Estima-se que ocorram de 300 a 400 mil casos anuais de infarto e que, a cada 5 a 7 casos, ocorra um óbito. No atendimento de urgência e emergência, a rapidez no diagnóstico e no início do tratamento é determinante para a sobrevivência e recuperação do paciente.
— A doença coronariana é a principal causa de óbito e por mais que tenhamos evoluído em tratamento e diagnóstico, temos muita dificuldade em tratar corretamente — diz Marcelo Nishyama, cardiologista e coordenador médico do projeto, pela BP.
Na prática, funciona assim: o paciente chega com dor torácica ou com algum sinal de problema cardiovascular à UPA, e já faz o eletrocardiograma. O exame é então enviado para o Hcor ou a BP, onde um cardiologista de plantão exclusivamente para esse serviço faz o laudo e o devolve em até 10 minutos. Para se ter ideia da dimensão do projeto, são recebidos cerca de 7 mil eletro por dia.
— O tempo é muito importante para o paciente e 10 minutos é o tempo máximo recomendado por todas as diretrizes e consensos — explica Camila Rocon, coordenadora médica da Saúde Digital dos Projetos Assistenciais e Saúde Digital do Hcor.
— Esse tempo é super importante não só para reduzir mortalidade, mas também morbidade. Se demorar ou o tratamento não for adequado, o paciente pode ficar com sequela. Mas se ele for corretamente atendido e tratado no menor tempo possível, a chance de ter uma sequela é bem menor — completa Marcelo Nishyama, cardiologista e coordenador médico do projeto, pela BP.
Se o laudo estiver alterado com arritmia grave ou infarto grave, o médico entra em contato com o profissional da UPA onde o paciente está e o auxilia no atendimento.
— Observamos que precisávamos orientar os médicos da UPA porque, muitas vezes, eles não sabiam como agir diante de um diagnostico de infarto ou arritmia. A teleconsultoria entra como um suporte à UPA nos casos de infarto mais urgente e arritmia mais complexas, que podem causar risco à vida do paciente — pontua Rocon.
Rocon explica que o projeto começou em 2009, apenas com o telediagnóstico em 2009 para avaliação dos eletrocardiogramas. Com o tempo, foi incluído também a teleorientação, que fez toda a diferença.
— Observamos que precisávamos orientar. Quando tinha um diagnóstico de infarto ou arritmia, muitas vezes, o médico não sabia como agir. Entendemos que ter uma teleconsultoria onde entramos em contato com o médico da UPA para prestar apoio sobre a conduta desses casos mais graves poderia fazer diferença no desfecho desse paciente — diz Rocon.
No Pronto-Socorro Municipal Balneário São José (SP), o intervalo entre o primeiro contato do paciente com o atendimento hospitalar e a realização do eletrocardiograma, chamado de "tempo porta ECG" melhorou 52%, a adesão ao trombolítico (medicamentos essenciais no tratamento do infarto), em 100%; e houve 3% de redução no tempo porta-agulha, otimizando a janela terapêutica para os pacientes.
Na UPA Engenho Novo (RJ), houve uma melhoria de 70% no tempo porta-ECG e um aumento de 25% na adesão ao uso de trombolíticos. Segundo Carla Santos, enfermeira coordenadora do Núcleo de Segurança do Paciente da UPA Engenho Novo, o tempo para realização do eletrocardiograma após a implementação do programa diminuiu de 21 minutos para 10 minutos.
Já a adesão ao trombolítico saiu de 8% para 61%. E o tempo para administrar o medicamento, chamado de "tempo porta agulha", também caiu drasticamente, de 821 minutos para 135 minutos.
O trombolítico é uma medicação fundamental para o tratamento de um infarto, pois reduz em 30% o risco de morte do paciente. No entanto, como se trata de uma medicação que dissolve coágulos, existe risco de sangramento e, segundo Rocon, médicos que não tem tanta experiência no tema, ficam receosos de prescrever o tratamento. Nesse contexto, a orientação de um cardiologista oferece uma camada extra de segurança para essa decisão.
— Hoje o paciente chega e por conta das intervenções, conseguimos, em pouco mais de duas horas, já ter um desfecho do cuidado desse paciente, com a administração do trombolítico na própria unidade — pontua Santos.
Outra frente do programa é a implementação de boas práticas em unidades selecionadas para avaliar oportunidades melhoria de condições que são tempo-dependentes, como síndrome coronariana aguda, AVC e sepse.
— São afecções que se passar o tempo, o paciente tem mais risco de morrer. Então ajudamos o profissional a identificar a gravidade daquele caso e fazer o paciente ter o melhor que pode dentro da unidade — pontua Rocon.
Segundo Santos, a principal dificuldade na UPA Engenho Novo era identificar no momento oportuno os possíveis casos de sepse. Antes do programa, o tempo porta-médico (tempo entre a chegada do paciente à unidade e o atendimento) era de 51 minutos. Hoje, é de 15 minutos.
— Conseguimos enxergar através dos nossos números que estamos salvando mais vidas — afirma Santos.
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