Vida e Saúde

Como a saúde bucal afeta o diabetes — e vice-versa

As complicações incluem boca seca, alto risco de cárie, doença gengival, infecções bucais, aftas, e, em última instância, perda dentária

Agência O Globo - 06/12/2025
Como a saúde bucal afeta o diabetes — e vice-versa
Como a saúde bucal afeta o diabetes — e vice-versa - Foto: Carla Cleto

Imagine tentar saborear sua refeição favorita, mas perceber que suas gengivas doem, sua boca está seca e mastigar se tornou desconfortável. Para pessoas com diabetes, essa pode ser uma realidade diária que muitas vezes passa despercebida.

O tratamento do diabetes geralmente se concentra no coração, pés, olhos, fígado e rins. A boca, no entanto, é frequentemente negligenciada, embora a saúde bucal afete e seja afetada pelo diabetes de maneiras importantes.

Um em cada nove adultos no mundo tem diabetes, e mais de quatro em cada dez não sabem que têm a doença. As projeções globais indicam que, até 2050, um em cada oito adultos, cerca de 853 milhões de pessoas, será afetado, um aumento de 46%.

Compreender a relação bidirecional entre diabetes e saúde bucal é, portanto, essencial. Não se trata de alcançar um sorriso de Hollywood. Manter o diabetes sob controle contribui para uma boa saúde bucal geral e, consequentemente, ajuda a melhorar o bem-estar geral.

O diabetes influencia a forma como o corpo processa o açúcar. Quando os níveis de açúcar no sangue permanecem elevados por longos períodos, danificam os vasos sanguíneos e os nervos, retardam a cicatrização e enfraquecem a capacidade do corpo de combater infecções.

A boca, com seus tecidos moles e duros e uma comunidade naturalmente diversa de bactérias, torna-se particularmente vulnerável. As complicações de saúde bucal associadas ao diabetes incluem boca seca causada pela redução da saliva, alto risco de cárie dentária, doença gengival envolvendo inflamação e perda óssea ao redor dos dentes, infecções bucais como candidíase oral, aftas, dificuldade para usar dentaduras, alterações no paladar e, em última instância, perda dentária.

Esses problemas podem afetar a nutrição, a autoconfiança e até mesmo o controle do açúcar no sangue. Meu estudo mais recente mostrou uma clara associação entre diabetes tipo 2 e cárie dentária grave. Níveis elevados de açúcar no sangue, combinados com alterações na quantidade e qualidade da saliva, podem contribuir para essa progressão.

Muitas pessoas desconhecem essa ligação, o que cria um ciclo vicioso. No entanto, a boca seca e a cárie dentária subsequente podem ser frequentemente prevenidas se houver maior conscientização entre o público e os profissionais de saúde.

Doença gengival e diabetes

Pessoas com diabetes têm maior probabilidade de desenvolver doença gengival, e a relação é recíproca. O diabetes aumenta o risco de doença gengival porque o alto nível de açúcar no sangue leva a uma maior concentração de açúcar na saliva. As bactérias na boca se alimentam de açúcar e produzem ácidos que irritam e danificam as gengivas.

Uma vez que as gengivas são infectadas, o osso que sustenta os dentes pode sofrer reabsorção. Com a perda óssea, os dentes podem ficar soltos ou cair. Manter o nível de açúcar no sangue dentro de uma faixa saudável e manter uma boa higiene bucal reduz significativamente esse risco.

Boca seca e cáries

A boca seca é outro problema comum para pessoas com diabetes. Cerca de 20% da população em geral sofre de boca seca, com números mais altos observados em mulheres e idosos. Certos medicamentos usados ​​para tratar pressão arterial, depressão ou dor nos nervos podem piorar a secura.

A saliva é a proteção natural da boca. Ela remove partículas de alimentos, neutraliza ácidos e ajuda a prevenir infecções. Sem saliva suficiente, a boca se torna mais ácida e os dentes perdem minerais, o que aumenta o risco de cáries.

Dentistas podem oferecer planos de prevenção personalizados para pessoas com maior risco. Esses planos podem incluir vernizes de flúor, enxaguantes bucais específicos ou creme dental com alto teor de flúor.

A saliva também desempenha um papel vital para quem usa prótese dentária. Ela amortece a gengiva, estabiliza a prótese e reduz a irritação. Quando a boca está seca, a prótese pode causar atrito e desconforto, úlceras e infecções como candidíase oral.

Uma boa higiene bucal pode melhorar muito o conforto, a alimentação e a saúde geral, incluindo a limpeza diária da prótese, a remoção à noite, a escovação da gengiva e da língua, o uso de soluções de limpeza adequadas em vez de água quente e a realização de consultas odontológicas regulares para garantir o encaixe correto.

Implantes dentários são outra opção para substituir dentes perdidos, mas o diabetes precisa estar bem controlado antes de serem considerados, pois o nível elevado de açúcar no sangue retarda a cicatrização, aumenta o risco de infecção e dificulta a fusão óssea adequada com o implante.

Gengivas saudáveis, níveis ósseos estáveis ​​e boa higiene bucal são essenciais para o sucesso do implante. Os dentistas precisam avaliar a situação de cada pessoa para determinar se os implantes são apropriados.

Uma boa higiene bucal pode facilitar a alimentação, auxiliar no controle do açúcar no sangue e melhorar a qualidade de vida. Manter-se informado, desenvolver hábitos diários saudáveis ​​e comparecer a consultas odontológicas regulares ajudam a controlar as complicações de saúde bucal associadas ao diabetes.

*Aylin Baysan, Professora de Cariologia em relação à Odontologia Minimamente Invasiva, Queen Mary University of London

*Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons.