Vida e Saúde

Obesidade acelera avanço do Alzheimer, aponta estudo inédito

Resultados apresentados na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA) indicam que biomarcadores da doença evoluem até 95% mais rápido em pessoas obesas

Agência O Globo - 02/12/2025
Obesidade acelera avanço do Alzheimer, aponta estudo inédito
Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo sofrem com a obesidade - Foto: Depositphotos

Um novo estudo revelou que a obesidade pode acelerar significativamente o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Pesquisadores observaram que os biomarcadores sanguíneos associados à doença (BBMs) aumentam até 95% mais rápido em indivíduos obesos do que em não obesos. Os resultados foram apresentados durante a reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).

“Esta é a primeira vez que demonstramos a relação entre obesidade e doença de Alzheimer, medida por meio de exames de biomarcadores sanguíneos”, afirmou Cyrus Raji, autor sênior do estudo e pesquisador do Centro de Pesquisa de Laboratórios de Neuroimagem do Instituto Mallinckrodt de Radiologia (MIR), da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis.

O estudo analisou dados de 407 participantes da Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer ao longo de cinco anos, incluindo exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) para identificar a carga de amiloide no cérebro — acúmulo da proteína beta-amiloide, característica central do Alzheimer — e amostras de sangue para análise de biomarcadores.

Foram avaliados marcadores como pTau217 (usado no diagnóstico e monitoramento da doença), cadeia leve de neurofilamento (NfL), liberada por neurônios danificados, e GFAP plasmático, proteína expressa em astrócitos, por meio de seis dos principais testes comerciais.

Os pesquisadores também investigaram a relação entre os BBMs, o índice de massa corporal (IMC) e a interação entre obesidade, tempo e evolução dos biomarcadores, validando os resultados com as imagens de PET.

No início do estudo, o IMC mais elevado estava associado a níveis mais baixos de BBMs e menor carga amiloide cerebral. Segundo Soheil Mohammadi, autor principal do estudo e pesquisador de pós-doutorado no MIR, “acreditamos que a redução dos níveis de BBM em indivíduos obesos se deve à diluição causada pelo maior volume sanguíneo”. Ele alerta: “Ao confiar apenas nas medidas iniciais, poderíamos ser levados a crer que pessoas obesas apresentam menor patologia do Alzheimer. Por isso, dados longitudinais são essenciais para compreender o impacto real da obesidade na doença”.

Com o acompanhamento ao longo do tempo, ficou evidente que pessoas obesas apresentaram aumento mais rápido nos níveis plasmáticos da razão pTau217 (de 29% a 95%), aumento 24% mais acelerado no NfL plasmático e crescimento 3,7% mais rápido no acúmulo de amiloide, em comparação aos não obesos.

Mohammadi destaca que o impacto da obesidade sobre a carga amiloide e as mudanças nos biomarcadores são fatores relevantes para a prática clínica. “De acordo com o relatório de 2024 da Comissão Lancet, 14 fatores de risco modificáveis representam cerca de 45% do risco de Alzheimer. Reduzir qualquer um desses fatores pode diminuir significativamente os casos ou retardar o início da doença”, afirma.

Para Cyrus Raji, avaliações longitudinais com biomarcadores sanguíneos e exames de imagem cerebral tendem a se tornar padrão no monitoramento de tratamentos com medicamentos anti-amiloides. “Esta é uma área científica essencial, especialmente porque hoje já existem medicamentos eficazes para tratar a obesidade. Assim, poderemos monitorar o efeito dessas intervenções sobre os biomarcadores do Alzheimer em estudos futuros. O avanço nos biomarcadores sanguíneos e nos exames de imagem é fundamental para novos ensaios clínicos e para o acompanhamento da doença”, conclui.