Vida e Saúde

Consumo moderado de café pode retardar envelhecimento biológico em pessoas com transtornos psiquiátricos graves

Embora o encurtamento dos telômeros seja um processo natural, ele parece ser acelerado em pessoas com transtornos psiquiátricos graves

Agência O Globo - 01/12/2025
Consumo moderado de café pode retardar envelhecimento biológico em pessoas com transtornos psiquiátricos graves
Café - Foto: Reprodução

Uma pesquisa publicada na revista BMJ Mental Health indica que o consumo moderado de café — até 3 a 4 xícaras por dia — pode retardar o envelhecimento biológico em pessoas com doenças mentais graves. O estudo aponta que essa quantidade de café está associada ao alongamento dos telômeros, estruturas que servem como indicadores do envelhecimento celular, proporcionando o equivalente a cinco anos biológicos extras em comparação a pessoas que não consomem a bebida.

No entanto, não foram observados benefícios adicionais acima dessa quantidade, que corresponde ao limite diário máximo recomendado por autoridades internacionais de saúde, como o NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) e a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA).

Os telômeros são sensíveis a fatores ambientais, incluindo hábitos alimentares. O café, quando consumido de forma moderada, já vinha sendo associado a diversos benefícios à saúde, motivando os pesquisadores a investigar se a bebida poderia influenciar a velocidade do encurtamento dos telômeros em pessoas com transtornos psiquiátricos graves.

O encurtamento dos telômeros é um processo natural, mas tende a ser acelerado em indivíduos com condições como psicose, esquizofrenia e transtorno bipolar, segundo os autores do estudo.

Detalhes do estudo

Participaram da pesquisa 436 adultos do estudo norueguês sobre psicose organizada tematicamente (TOP), recrutados entre 2007 e 2018: 259 tinham esquizofrenia, enquanto 177 apresentavam transtornos afetivos, incluindo transtorno bipolar e depressão maior com psicose.

Os participantes foram questionados sobre o consumo diário de café e divididos em quatro grupos: nenhum consumo (44 pessoas), 1–2 xícaras, 3–4 xícaras (110 pessoas) e 5 ou mais xícaras. Também foram consultados sobre o hábito de fumar e, caso positivo, há quanto tempo fumavam.

O grupo que consumia 5 ou mais xícaras de café por dia era significativamente mais velho do que os demais. Além disso, pessoas com esquizofrenia relataram consumir mais café do que aquelas com transtornos afetivos.

O tabagismo, associado a um metabolismo mais rápido da cafeína, era prevalente: 77% dos participantes (337 pessoas) fumavam em média há nove anos. Aqueles que bebiam 5 ou mais xícaras de café diariamente também fumavam há mais tempo que os demais grupos.

Os pesquisadores mediram o comprimento dos telômeros em leucócitos (glóbulos brancos) a partir de amostras de sangue, identificando diferenças significativas entre os grupos.

Em comparação aos que não consumiam café, o consumo de até 3 a 4 xícaras por dia foi associado a telômeros mais longos. No entanto, esse efeito não foi observado entre participantes que consumiam 5 ou mais xícaras diariamente.

Aqueles que ingeriam o equivalente a 4 xícaras de café por dia apresentaram telômeros comparáveis aos de pessoas com idade biológica cinco anos menor do que os não consumidores.

Os autores alertam, porém, que se trata de um estudo observacional, o que impede conclusões definitivas sobre causa e efeito. Eles também apontam limitações, como a ausência de informações sobre o tipo e o horário de consumo do café, os níveis exatos de cafeína e outras fontes da substância.

"Os telômeros são altamente sensíveis ao estresse oxidativo e à inflamação, o que reforça a hipótese de que a ingestão de café pode ajudar a preservar a integridade celular em uma população predisposta ao envelhecimento acelerado", concluem os pesquisadores.