Vida e Saúde

Poluição do ar pode reduzir benefícios do exercício físico, aponta estudo internacional

Pesquisa publicada na BMC Medicine analisou mais de 1,5 milhão de adultos em cinco países ao longo de uma década

Agência O Globo - 29/11/2025
Poluição do ar pode reduzir benefícios do exercício físico, aponta estudo internacional
- Foto: Reprodução / FREEPIK

Exercitar-se ao ar livre continua sendo benéfico, mas a poluição do ar pode reduzir significativamente esses ganhos para a saúde, revela um novo estudo internacional com participação de pesquisadores da University College London (UCL). O trabalho, publicado na revista BMC Medicine, acompanhou mais de 1,5 milhão de adultos durante mais de dez anos em países como Reino Unido, Taiwan, China, Dinamarca e Estados Unidos.

O efeito protetor do exercício regular sobre o risco de morte — tanto por todas as causas quanto especificamente por câncer e doenças cardíacas — foi reduzido, embora não totalmente eliminado, em pessoas que viviam em áreas com altos índices de poluição.

De acordo com os pesquisadores, indivíduos residentes em regiões com concentrações de partículas finas (PM 2,5, com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros) iguais ou superiores a 25 microgramas por metro cúbico apresentaram benefícios de saúde consideravelmente menores.

Essas partículas são tão pequenas que conseguem penetrar nos pulmões e alcançar a corrente sanguínea.

O estudo destaca ainda que quase metade da população mundial (46%) vive em áreas que excedem esse limite de poluição.

"Nossos resultados enfatizam que o exercício físico segue sendo benéfico mesmo em ambientes poluídos. No entanto, a melhora da qualidade do ar pode potencializar significativamente esses benefícios", afirma o professor Po-Wen Ku, da Universidade Nacional Chung Hsing, em Taiwan, líder da pesquisa.

O professor Andrew Steptoe, coautor do estudo e membro do Departamento de Ciências Comportamentais e Saúde da UCL, ressalta que o ar tóxico pode bloquear parte dos ganhos do exercício, mas não os anula completamente.

"Acreditamos que tanto o ar limpo quanto a atividade física são fundamentais para um envelhecimento saudável. Por isso, defendemos esforços contínuos para reduzir os níveis de poluição prejudiciais à saúde", reforça Steptoe.

Metodologia

Para chegar aos resultados, a equipe analisou dados de sete estudos prévios, incluindo três inéditos, combinando estatísticas resumidas em uma análise geral. Em três desses estudos, os dados brutos dos participantes foram reanalisados individualmente.

O levantamento mostrou que pessoas que praticavam ao menos duas horas e meia de exercícios moderados ou vigorosos por semana apresentavam risco 30% menor de morte durante o período analisado, em comparação com quem não atingia esse nível de atividade.

No entanto, entre aqueles que viviam em áreas com alta poluição por partículas finas, a redução do risco caía para 12% a 15%.

Em regiões com poluição ainda mais elevada (acima de 35 μg/m³), os benefícios do exercício diminuíram ainda mais, especialmente no que diz respeito ao risco de morte por câncer, tornando-se estatisticamente insignificantes.

"Não queremos desencorajar a prática de exercícios ao ar livre. Consultar a qualidade do ar, optar por rotas menos poluídas ou reduzir a intensidade nos dias mais críticos pode ajudar a maximizar os benefícios do exercício", orienta Paola Zaninotto, professora do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da UCL e coautora do estudo.

Limitações

Os autores alertam que a pesquisa foi conduzida majoritariamente em países de alta renda, o que pode limitar a aplicação dos resultados a nações de baixa renda, onde a poluição por partículas finas frequentemente ultrapassa 50 μg/m³. Outras limitações incluem a ausência de dados sobre a qualidade do ar em ambientes internos e sobre a dieta dos participantes.

Aspectos como renda, escolaridade, hábitos de saúde (como tabagismo) e a presença de doenças crônicas pré-existentes também foram apontados como limitações do estudo.