Vida e Saúde

Ventilação enteral: conceito de ‘respirar pelo ânus’ se aproxima de tratamento real; entenda

Conceito de cientista do Cincinnati Children's passa na primeira fase de testes em humanos no Japão

Agência O Globo - 23/10/2025
Ventilação enteral: conceito de ‘respirar pelo ânus’ se aproxima de tratamento real; entenda
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Cientistas japoneses realizaram o primeiro ensaio clínico em humanos para avaliar os benefícios potenciais da “ventilação enteral”, ou seja, o resgate de vias aéreas e pulmões bloqueados por meio do fornecimento de oxigênio por via retal. A técnica parece tão estranha que ganhou um prêmio IgNobel em 2024.

‘Sou careca, e daí?’:

Da paixão à crise:

"Estes são os primeiros dados em humanos, e os resultados se limitam apenas a demonstrar a segurança do procedimento, e não sua eficácia. Mas agora que estabelecemos a tolerância, o próximo passo será avaliar a eficácia do processo no fornecimento de oxigênio à corrente sanguínea", afirma Takanori Takebe, especialista líder em medicina organoide com dupla atuação no Hospital Infantil de Cincinnati e na Universidade de Osaka, no Japão, e autor do estudo.  

O que é ventilação enteral? 

Semelhante ao enema, que nada mais é do que uma lavagem intestinal por meio do ânus. O procedimento é muito utilizado na medicina para diversas causas, como, por exemplo, para pacientes com fezes empedradas, com dificuldade de evacuar, constipação crônica grave e incontinência anal (quando os indivíduos não conseguem controlar a saída de fezes). 

O novo conceito prevê o uso de um líquido superoxigenado para fornecer oxigênio vital à corrente sanguínea, absorvendo-o pelo cólon. Se for bem-sucedido nos testes em andamento com humanos, o processo de tecnologia relativamente baixa pode permitir que hospitais resgatem pessoas quando as vias aéreas estiverem bloqueadas por ferimentos ou inflamação, ou quando a função pulmonar estiver severamente limitada por infecções e outras complicações. 

A inspiração para o procedimento vem, em parte, da observação das habilidades da botia, um peixe que se alimenta no fundo e consegue engolir ar da superfície e absorver oxigênio pelo intestino, suplementando assim suas guelras para sobreviver em condições de baixo oxigênio. 

Salmão ou atum?

O projeto também se baseia no trabalho do ex-pesquisador do Cincinnati Children's, Leland Clark, PhD (n. 1918, m. 2005), que anos atrás inventou um líquido de perfluorocarbono, agora chamado Oxycyte.  

Resultados e próximos passos 

O novo estudo recapitula as descobertas de um antigo estudo em que 27 homens saudáveis no Japão foram solicitados a segurar quantidades variadas do líquido de perfluorocarbono (sem que o líquido fosse oxigenado) por 60 minutos. 

20 deles mantiveram o líquido por 60 minutos, incluindo quantidades de até 1.500 ml. Nos volumes maiores, os participantes relataram inchaço e desconforto abdominal, mas nenhum evento adverso grave foi relatado. 

Segundo os cientistas, um próximo passo fundamental será repetir a avaliação usando o líquido oxigenado para medir a quantidade necessária e por quanto tempo para melhorar os níveis de oxigênio no sangue. 

Eventualmente, Takebe e seus colegas esperam expandir a tecnologia para uso em cuidados com recém-nascidos. O cientista afirma que o momento de um futuro ensaio clínico dependerá do ritmo de arrecadação de fundos.